13 mar, 2020 - 22:25 • João Carlos Malta
O Sindicato de Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal revela que “tem conhecimento de várias empresas e locais de trabalho que nem as questões básicas como a atribuição de gel desinfetante, ou sabonetes, estão a cumprir”. “É um problema”, resume à Renascença a dirigente do CESP, Célia Lopes, que fala ainda inexistência de máscaras em todas as superfícies para os funcionários.
Célia Lopes diz que o Governo garante que os estabelecimentos de produtos alimentares não vão encerrar, mas em “relação a estes trabalhadores não estão a ser tomadas medidas, nem sabemos quais as medidas de proteção individual que cada trabalhador deve ter”.
A dirigente do CESP reconhece que “algumas empresas deram gel, e fazem desinfeção”, mas há outras que nada fizeram”. “Não implementaram qualquer procedimento”, acrescenta.
A mesma responsável sindical dá como exemplos desta situação unidades que detêm grandes cadeias de supermercados como o Mini-Preço, o Lidl, o Pingo Doce, o Continente, e o El Corte Inglés.
Em relação ao Lidl, Célia Lopes diz mesmo que pela informação que detém, aquela cadeia de lojas “nem sequer tem serviço de limpeza”. “o mesmo é feito pelos operadores de caixa. E com a subida de vendas duvido que tenham tempo para fazer a higienização mínima”, critica.
O departamento de comunicação do Lidl afirma perentoriamente que a “segurança e bem-estar dos seus colaboradores é uma prioridade” e que segue e continuará a seguir as indicações das autoridades, garantindo o cumprimento integral das regras fornecidas pelo Governo.
Coronavírus
A diretora-geral da Saúde lembra que "a última coi(...)
Nesse sentido, a cadeia alemã garante ter implementado um conjunto de medidas para reforçar a segurança dos colaboradores, minimizando os riscos de contágio.
“Reforçámos o gel desinfetante, que já tinha sido disponibilizado para utilização nas caixas de pagamento em todas as lojas há mais de uma semana; reforçámos a limpeza de materiais e equipamentos, tanto em lojas como em entrepostos”, explica a mesma cadeia de hipermercados.
A mesma sindicalista alerta ainda para outra situação. “Há trabalhadores que nos contam que vão para a frente de loja com máscaras, e recebem orientação da chefia que se o fizerem são enviados embora”, conta.
A fonte do CESP diz que há gestores de loja que não aceitam que os trabalhadores “estejam com a máscara, porque isto vai criar pânico no cliente”. E Célia Lopes questiona: “Se o trabalhador estiver com máscara cria pânico, mas o trabalhador receber um cliente com máscara não lhe cria pânico?”, questiona.
O departamento de comunicação do Lidl, afirma sobre este tema que “relativamente ao uso de máscara, a DGS não recomenda, até ao momento, o seu uso para quem não apresenta sintomas, até porque o seu uso de forma incorreta pode aumentar o risco de infeções”.
A mesma rede de supermercados declara ainda que “todas as grávidas foram dispensadas das suas funções, assim como colaboradores em situação de risco que optassem individualmente por fazê-lo, com direito a remuneração”.
O Lidl acrescenta ainda que “estamos igualmente a sensibilizar os nossos clientes para boas práticas neste tipo de situações, apelando não só ao respeito por todos, como à manutenção de distância de segurança e ao pagamento por Contacless ou MB Way, em vez de dinheiro”.
Numa altura em que a afluência aos supermercados explodiu, Célia Lopes revela que os trabalhadores das grandes superfícies “estão transtornados”. “São obrigados a ir trabalhar face ao alarmismo que se criou e ao açambarcamento houve. Foi uma corrida aos supermercados completamente surreal e anormal, houve subidas superiores a 350%”, lembra.
“Por isso, muitos estão exaustos porque estão extremamente cansados”, reflete.
Em relação às críticas da CESP, o departamento de Departamento de Relações Exteriores da DIA, que detém os supermercados Minipreço refere em resposta escrita à Renascença que “todas as lojas foram abastecidas com material desinfetante, nomeadamente soluções de limpeza de mãos em cumprimento com os protocolos que temos em curso para estas situações”.
No entanto, na mesma missiva reconhece-se que “tivemos algumas ruturas de stock que repusemos rapidamente e que estamos a fazer chegar a todas as lojas, inclusivamente da nossa rede de franquia”. “O mesmo se passa com luvas e máscaras para todos os funcionários e soluções à base de álcool para limpeza dos tapetes de caixa”, asseguram.
A Sonae MC, detentora da rede Continente, por sua vez respondeu às quatro perguntas colocadas pela Renascença que “está a acompanhar atentamente as indicações da Direção Geral de Saúde. A nossa prioridade é garantir a segurança de clientes e colaboradores e como tal temos vindo a implementar, para ambos, um conjunto de medidas informativas e preventivas sobre este tema”.
Por fim, a rede de supermercados garante que faz o “acompanhamento das situações em loja, repondo estes artigos dentro da possibilidade de stock disponível, minimizando o impacto destas quebras nos nossos colaboradores.”
Por fim, a sindicalista da Sindicato de Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) Célia Lopes refere que no caso de Felgueiras, cidade nortenha que é um dos epicentros da coronavírus em Portugal, estão a ser contatados pelos trabalhadores, porque estes “não se estão a apresentar ao trabalho por ordem dos delegados de saúde, e as empresas estão a perguntar e quem é que te colocou em quarentena”.
A mesma acrescenta que as entidades empregadoras estão a pedir o documento comprovativo. “E dizem aos trabalhadores que se não trazem o documento, são despedidos”, denuncia.
A sindicalista refere que esta é uma situação que está a criar uma grande confusão entre os trabalhadores.
A Renascença não obteve resposta do El Corte Inglés em tempo útil, e não conseguiu entrar em contato com a comunicação da rede Pingo Doce.