15 mar, 2020 - 09:07 • Filipe d'Avillez , Marina Pimentel , José Bastos
A pandemia do coronavírus pode significar um verdadeiro “desastre humanitário” para as pessoas que dormem na rua e isso só se evita com medidas especiais, assentes no voluntariado.
Ana Sofia Carvalho, especialista em ética médica e professora da Universidade Católica, alerta para o risco de desastre humanitário para os sem-abrigo.
“Estamos a caminhar a passos largos para um desastre humanitário. A camada de voluntários está muito centrada nos jovens e nas pessoas mais idosas. Temos rondas de sem-abrigo a serem canceladas às resmas, temos algumas ReFood a fechar, mas as pessoas comem todos os dias.”
“É absolutamente necessário encontrar uma estratégia para que isto não represente uma crise humanitária profundíssima. Isso tem de passar por nós, por aquele grupo de pessoas que estão no grupo de menor risco, que não têm doenças que as fragilizem e são essas pessoas que nesta altura têm de se voluntariar”, acrescenta, em declarações prestadas ao programa Conversas Cruzadas, para ouvir nas Renascença depois do meio-dia.
Também o Coordenador da Estratégia Nacional para os Sem-abrigo sublinha em declarações à Renascença, que é preciso cuidar das pessoas que vivem na rua. Mas é também preciso garantir que, face aos riscos de contágio, os voluntários não tenham medo.
A ideia de uma rutura neste apoio preocupa Henrique Joaquim, que deixa este apelo na Renascença.
“Gostaria de fazer um apelo e pedir a vossa ajuda, repetindo o que o primeiro-ministro disse no comunicado que fez à nação. Agora mais do que nunca o dever de cada um é cuidar do próximo. E se nas nossas práticas cuidar do próximo é manter as distâncias e restringir os contactos sociais, neste caso concreto o cuidar do próximo é não os deixar sozinhos. Não podemos deixar ninguém para trás.”
“As organizações que estão a afazer trabalho de rua estão a fazer um esforço imenso juntamente com as autarquias e estão a reorganizar as suas práticas para restringir esses contactos, distribuindo refeições em unidoses e de forma mais condicionada. Mas precisamos agora, mais do que nunca, dos voluntários”, diz.
Que as pessoas não deixem de ser voluntariar para ajudar os sem abrigo, é uma das preocupações do Coordenador da Estratégia Nacional para os Sem-abrigo. Ao mesmo tempo é preciso dar o máximo de informação aos sem abrigo, sobre a Covid-19.
“O que se está a pedir às equipas é que se passe o máximo de informação possível e que se peça e se tente ajudar estas pessoas, na medida do possível, para que assim que se verifique algum sintoma se peça ajuda para serem encaminhadas para os serviços de saúde competentes”, conclui Henrique Joaquim.
Em relação a sexta-feira, há mais 57 casos, o que corresponde ao maior aumento num dia em Portugal, que contabiliza 114 internados, dos quais 10 em unidades de cuidados intensivos.
A região Norte continua a ser a que regista o maior número de casos confirmados (77), seguida da Grande Lisboa (73), e das regiões Centro (8) e do Algarve (7). Há quatro casos confirmados no estrangeiro, segundo a DGS.
No boletim epidemiológico assinala-se também que, desde o início da epidemia, a DGS registou 1.704 casos suspeitos e mantém 5.011 contactos em vigilância, menos do que na sexta-feira (5.674).
O Governo declarou o estado de alerta no país, colocando os meios de proteção civil e as forças e serviços de segurança em prontidão, e anunciou a suspensão das atividades letivas presenciais em todas as escolas a partir de segunda-feira.
A restrição de funcionamento de discotecas e similares, a proibição do desembarque de passageiros de navios de cruzeiro, exceto dos residentes em Portugal, a suspensão de visitas a lares em todo o território nacional e o estabelecimento de limitações de frequência nos centros comerciais e supermercados para assegurar possibilidade de manter distância de segurança foram outras das medidas aprovadas.
Os governos regionais da Madeira e dos Açores decidiram impor um período de quarentena a todos os passageiros que aterrarem nos arquipélagos, enquanto o Governo da República desaconselhou as deslocações às ilhas.
Já tinham sido tomadas outras medidas em Portugal para conter a pandemia, como a suspensão das ligações aéreas com a Itália.
O novo coronavírus foi detetado pela primeira vez em dezembro, na China, e já provocou mais de 5.700 mortos em todo o mundo.
O número de infetados ultrapassa agora os 151 mil, com registos em 137 países e territórios.
A Organização Mundial da Saúde declarou entretanto que o epicentro da pandemia provocada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) se deslocou da China para a Europa, onde se situa o segundo caso mais grave, o da Itália, que anunciou no sábado 175 novas mortes e que regista um total de 1.441 vítimas fatais.
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