24 mar, 2020 - 21:56 • Daniela Espírito Santo , José Bastos
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Continuamos a viver em estado de emergência, embora já estejamos, talvez, mais habituados a esta nova realidade. É um período desafiante em que temos de cuidar uns dos outros, mesmo que à distância. A Renascença quer estar ao seu lado neste período e responder a todas as suas dúvidas, com a ajuda da Ordem dos Psicólogos. Hoje, falamos do que nos vai na alma, sem preconceitos, com a psicóloga Teresa Espassandim, especialista em Psicoterapia e em Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento de Carreira.
Recebemos inúmeros perguntas dos nossos ouvintes via Whatsapp, Facebook e Instagram e muitas se prendiam com rotinas.
É o caso da Maria Reis que, explica-nos via Instagram, é personal trainer num ginásio que agora está fechado e quer saber como lidar com a sua nova situação. “Mantenho-me ativa como posso e incentivo os meus alunos a treinarem em casa, mas poucos são os que o aceitam. Como os posso incentivar a manterem-se ativos?”
A Marta também tem uma pergunta. Explica que sempre treinou todos os dias e tem medo que, agora que está mais tempo em casa e treina menos, isso a afete psicologicamente. “De que forma é que esta mudança de rotinas me vai afetar? Que posso esperar?”
O exercício físico é fundamental na vida de todos nós e é mais importante ainda quando reduzimos a nossa atividade e estamos confinados, dando muito menos passos do que diariamente era habitual. Também é verdade que os portugueses são dos que menos atividade física pratica e, portanto, temos aqui uma questão de motivação.
Em relação à ouvinte preocupada com a sua situação profissional, é pensar que aspetos podem motivar os seus alunos a realizarem exercício físico. O que é que os motivava? Que condições têm agora? Se não formos muito exigentes relativamente àquilo que seja material, condições, espaço poderá ser feita a atividade. Isto, porque todos nós precisamos de nos sentir competentes. Exercícios simples, graduais, que requeiram pouco material. Por outro lado, há outra necessidade transversal a todos nós, que é a relação com os outros. A prática de exercício físico, se for adjuvada de um contacto através do Instagram com outras pessoas que estejam a segui-la nas aulas pode potenciar esta interação, que é motivante. E depois a questão da autonomia: devem ser exercícios individualizados, adaptados às preferências das pessoas. Deve tentar conciliar-se esta ideia entre competência, autonomia e o contacto com os outros. Há uma melhor qualidade de sono e reduz a ansiedade.
Outra ouvinte, a Joana Henriques, tem uma dúvida que se prende com a forma como normalmente lida com a ansiedade. “O que fazer quando a tua forma de equilibrares a tua tendência de te isolares do mundo passa por sair e fazer coisas, ver pessoas? De repente, sentes-te forçada a ficar em casa… A ansiedade não ajuda. O que fazer?”
É preciso lembrar que estarmos preocupados e stressados com as circunstâncias que vivemos é normal. O que já poderá não ser tão saudável é um nível de ansiedade muito elevado e muito continuado. Se já antes havia uma tendência para um maior isolamento, agora que confinados deveremos ainda contrariar mais. Não é porque não podemos sair que não podemos estar em contacto com os outros. Devemos procurar tudo o que os meios de comunicação à distância possibilitam para que o contacto com os outros – ainda que não em presença – possa manter-se através de mensagens, video-chamada, da partilha de fotografias sobre o que se está a fazer no dia-a-dia, pequenos vídeos, tudo isso ajuda a aproximar dos outros, principalmente se foram outros com quem já partilhamos outras atividades fora do nosso dia-a-dia.
Falemos agora de outro resultado desta pandemia. Todos ouvimos muitas vezes o que devemos fazer, já sabemos como lavar corretamente as mãos, que devemos manter distanciamento social, mas um ouvinte relata de forma muito pertinente aquilo que poderá resultar daqui. O João Pinheiro também nos mandou mensagem via WhatsApp, a perguntar como pode controlar a “vontade de estar sempre a limpar e a desinfetar”. “Já tenho as mãos em ferida de tanto desinfetante”, explica o João, que está com medo do que o isolamento lhe possa trazer. “Receio que não volte a ver a rua e os outros da mesma forma. Para mim, são fomos de infeção. Como posso não me entregar a esse receio? Algum conselho?”
Quando a ansiedade aumenta e as recomendações passam a ser comportamentos que não conseguimos parar de fazer – porque isso nos acalma – podemos estar a enfrentar uma situação mais patológica e que precisará de um olhar de um profissional de saúde. Os psicólogos podem ajudar e seria importante que esse ouvinte recorresse à ajuda profissional. Já descreve alguns sinais de que está a sofrer.
Nem todos os nossos ouvintes estão em casa. Há quem esteja na estrada, como é o caso do Manuel Santos, que nos conta que é camionista internacional e tem viajado pela Europa quase todas as semanas. “Como passo por Itália e Espanha e outras zonas muito afetadas, quando chego a Portugal para a minha pausa, fico sempre a dormir no camião e não vejo a minha família. Tenho medo de ter qualquer coisa e os infetar. Isto nunca me aconteceu”, desabafa. Sente-se sozinho, admite, e não sabe como lidar com esse sentimento que, para ele, é inédito. “Sei que estou a fazer o melhor pela minha família, mas custa muito”. Alguma dica?
O ouvinte está a ter o cuidado de seguir as recomendações necessárias. O outro lado é o de um maior afastamento dos que mais gosta e estar mais sozinho. Dar significado ao que está a fazer poderá ajudá-lo a ultrapassar. Isto não vai ser para sempre e o facto de se conter no contacto com os familiares depois de vários dias de ausência pode ter um propósito que é “Estou a protege-los” e aí encontrar mais motivação e ânimo para lidar com essa saudade.
Já que falamos de estar longe, há quem esteja ainda mais longe que o Manuel Santos. Falamos dos emigrantes portugueses que, normalmente, aproveitam a Páscoa para dar um salto a Portugal e visitar a família, coisa que não vão fazer este ano. Telmo Castro é isso exemplo. Diz-nos o Telmo, via Facebook, que é de Vila do Conde, mas está emigrado na Bélgica. “A vida está a correr bem, porque o meu trabalho o permite, mas bate muita tristeza porque nas férias da Páscoa não vou poder ir a Portugal ver a família e amigos porque os voos já estão cancelados”, diz. Alguma mensagem especial para os portugueses emigrantes por esse mundo fora?
Relativamente aos emigrantes que regressaram a Portugal e estão nas suas comunidades, mais no interior do país, se gostam tanto de vir e se é tão importante para eles regressar a suas casas, que mantenham as suas famílias e as suas comunidades saudáveis para regressarem outras vezes. Por outro lado, esta é uma situação excecional e deixaria o alerta: “Não venham agora e encontrem força no significado que podem atribuir à razão de não vir”.
A Renascença vai continuar a responder às suas dúvidas sobre o período particular em que vivemos. Amanhã, voltamos a este espaço para falar sobre saúde pública. Poderá utilizar o nosso WhatsApp da Renascença através do número 962 007 500 e redes sociais para deixar as suas perguntas, a que iremos tentar responder com a ajuda de especialistas.
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