26 mar, 2020 - 21:08 • José Bastos , Daniela Espírito Santo com Redação
No dia em que Portugal registou o maior número de mortos desde o início da pandemia, é imperativo estarmos preparados e não termos dúvidas sobre como nos podemos salvaguardar e proteger os nossos.
Muitos são os ouvintes com questões sobre higiene e segurança em tempo de covid-19 e, para as responder, contamos com a ajuda de Teresa Leão, médica de saúde pública e investigadora do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto.
Não percamos tempo. A dúvida da Cátia Monteiro chegou-nos por comentário no Instagram e é bastante pertinente e atual. Tendo em conta que estamos na fase de mitigação, o que é que isso significa e “quanto tempo pode demorar este período?”
Não é fácil de explicar. Estamos a viver uma situação diferente, em que as pessoas não estão habituadas a pensar nestes tons, nestes pontos. A fase da contenção ocorreu enquanto nós tínhamos uma noção bastante clara de onde vinha a doença. Ou seja, há alguém que importa a doença ou há alguma cadeia de transmissão que está muito bem identificada – e que nós tentamos conter só naquelas pessoas, só naquela cadeia. Quando, de repente, começamos a identificar casos na comunidade, que não sabemos de onde é que eles surgem, ou seja, já são cadeias bastante alargadas e não conseguimos identificar necessariamente todos os pontos dessa cadeia, entramos na fase de mitigação.
Temos, claro, um muito maior número de casos e temos de colocar em prática estratégias que não sejam só identificar as pessoas, mas, também, por exemplo dar sugestão ou recomendação de medidas como o distanciamento social, como o facto de nós evitarmos zonas com grandes aglomerados de pessoas, ou até mesmo encerrarmos alguns locais onde habitualmente se juntavam muitas pessoas.
Nós deixamos de ter só aquela pessoa que veio de Itália e que transmitiu à sua família e passamos a ter pessoas que nós vemos num supermercado, que nós vemos na rua, e que podem estar infetados com covid-19. Ou, então, mesmo nós podemos estar infetados. Ou seja, nós deixamos de ter certeza sobre quem é que são as pessoas que estão infetadas.
Quanto tempo é que vai durar esta fase? Durará quanto tempo durar a epidemia. Esta fase termina quando nós conseguirmos terminar esta epidemia. Tentamos ao máximo fazer com que esta epidemia não tenha um grande número de pessoas infetadas agora para que os nossos cuidados de saúde consigam responder de forma adequada a cada um deles que seja mais grave. E é por isso que nós temos tentado ao máximo restringir os nossos contactos sociais e sermos respeitadores.
Falando de comida, temos vários ouvintes com dúvidas específicas sobre alimentação. Vamos agregá-las. A Fernanda Rocha pergunta-nos que cuidados devemos ter ao consumir fruta fresca. A Susana Fernandes não sabe se é boa ideia comer saladas. A Irene Pereira de Moura quer saber como higienizar o pão, com medo pois este “anda de mão em mão”. Finalmente, a Cristina Cardoso tem dúvidas sobre como higienizar alimentos no geral. “Que produtos usar? Há muita informação contraditória”, lamenta.
Primeiro, nós ainda não temos evidência de que a transmissão seja feita através dos alimentos. A transmissão é feita, na grande maioria dos casos, se não mesmo toda, de pessoa para pessoa, praticamente diretamente ou em superfícies que estejam sujas. Claro que eu percebo as dúvidas e são muito válidas. O que nós devemos pensar é: devo higienizar a fruta ou a salada tal como se estivesse a higienizar para uma outra bactéria ou um outro vírus que habitualmente existem: passar por água. Se for necessário, pegam num litro de água e adicionam dez gotas de lixivia pura e já será uma forma de higienizar. Agora, não há motivo nenhum para deixarem de comer fruta ou legumes por estarmos nesta fase de epidemia.
Voltando à Cristina Cardoso. A ouvinte, via Facebook, também quer saber se há algum produto em específico que funcione melhor para “lavar superfícies”. Alguma sugestão?
A lavagem de superfícies tem de ser feita como é feita sempre: com um produto que seja higienizante, que tenha algum grau de sabão, para desengordurar e para limpar. Depois, se quiser, para as superfícies que têm contacto com muitas pessoas ou caso tenha alguém em casa em quarentena por doença, deve também desinfetar. E esta desinfeção tem de ser feita com lixivia diluída em água. Habitualmente nós dizemos cerca de quatro colheres de chá para um litro de água. E esta diluição de lixivia é suficiente para limpar.
Ainda no mesmo campo, ou lá perto, a ouvinte Catarina Barroso pergunta, via WhatsApp, se “o álcool de 96% é eficaz para matar o vírus”.
Para limpeza de superfícies tem vindo a ser recomendado o álcool a 60 ou a 70%. Não necessariamente a 96. Porquê? Porque entra mais facilmente no vírus. O 96 tem maior quantidade de álcool e, portanto, evapora mais rapidamente. Se não encontrarem este tipo de álcool, que é possível que esteja esgotado nas diferentes superfícies comerciais, podem usar simplesmente a lixivia diluída, como mencionei anteriormente. Para higiene das mãos, se não encontrarem álcool, façam apenas higiene das mãos com água e sabão durante 20 segundos – e é suficiente para ficarem com as mãos bem limpas.
Numa altura em que estamos em estado de emergência e se pede aos portugueses que tentem ao máximo ficar por casa, a Fátima Alho, de 66 anos, pergunta-nos, via Facebook, se é “100% seguro fazer uma pequena caminhada sozinha para desanuviar”. A ouvinte Natália quer saber o mesmo e indaga: “apanhar um pouco de ar puro lá fora faz assim tão mal?”
Ora, o passeio higiénico é um passeio higiénico na mesma. Apanhar ar puro faz bem agora como faz bem sempre. Mas depende do tempo que nós estamos lá fora e do risco de encontrarmos pessoas pelo caminho. A ideia de confinamento social é realmente tentarmos estar o mínimo de tempo possível com outras pessoas e a uma maior distância possível também. Portanto, se vai dar a volta lá fora, vai dar a volta, mas não está com pessoas. E tente dar uma volta que seja relativamente próxima da sua casa, para não correr o risco de ir ter a um local com muitas pessoas aglomeradas.
Claro que apanhar ar não faz mal nenhum. O risco de o vírus ser transportado no ar livre é muito, muito, muito reduzido e não há evidência ainda sequer associada ao mesmo. Portanto, pode dar a sua volta, o seu passeio higiénico, mas perto de casa. Agora: não é passear todas as horas; é passear uma vez por dia. Assim como não é ir todos os dias ao supermercado; é ir uma vez por semana, de duas em duas semanas. É suficiente. Devemos tentar estar o mínimo tempo possível com outras pessoas. Fisicamente. Porque por telefone podemos perfeitamente falar e faz bem às pessoas falarem por telefone, manterem os seus contactos sociais por telefone."
Continuamos a responder às questões dos ouvintes, em parceria com Ordem dos Psicólogos Portugueses e Instituto Saúde Pública da U.Porto, de 2ª a 6ª feira, depois das 19h30. Amanhã, teremos por cá Henrique Barros, presidente do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) e presidente do Coselho Nacional de Saúde para responder a mais dúvidas de saúde pública.
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