26 mar, 2020 - 09:20 • Anabela Góis (entrevista), Eduardo Soares da Silva (texto)
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Rita Sá Machado, chefe de Divisão de Epidemiologia e Estatística da Direção-Geral da Saúde, revela que o pico de quarta-feira no número de casos de coronavírus em Portugal não surpreendeu a DGS. Portugal registou mais dez mortes e 633 novos casos confirmados em relação a terça-feira.
“Hoje em dia falamos muito de curvas. No dia anterior não tinha aumentado assim tanto e é preciso ter cautela com os números. Esperamos uma curva crescente, mas queremos que vá aumentando o mais devagar possível e ao longo do tempo. Diria que o facto de ontem termos um maior número de casos confirmados era algo que já estávamos à espera. É uma diferença expectável. Desde a meia-noite que estamos em fase de mitigação e os serviços têm-se preparado para receber esta fase", disse, em declarações no programa da Renascença, "As Três da Manhã".
Sá Machado explica as dificuldades em recolher confirmação dos casos recuperados, de forma a explicar o número de 22 pessoas que conseguiram recuperar da Covid-19 em Portugal.
“A questão dos óbitos são eventos que captamos da melhor forma possível, porque são eventos de vida que sabemos que efetivamente acontecem. Nos recuperados, há um desafio. Nunca tínhamos tido esta doença, não recolhíamos esta informação. Nas próximas semanas vamos encontrando formas de recolher melhor esta informação junto de quem a pode dar, que são os médicos. Os nossos casos recuperados tiveram, pelo menos, duas amostrar negativas. Estamos a afinar a metodologia para termos a certeza da informação”, garante.
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A especialista corrobora as afirmações dos responsáveis políticos e garante que o pico da doença em Portugal pode ser após a primeira previsão da DGS de 14 de baril.
“Todos os dias fazemos estudos de previsão, que têm em conta o padrão epidemiológico, assim como o número de casos, óbitos, data de início de sintomas e medidas implementadas, que são a chave para tudo isto. Se não implementássemos quaisquer medidas, teríamos uma curva que iria disprarar. Foram aplicadas as medidas de encerramento de escolas e depois o estado de emergência, que têm impacto nesta curva. O nosso pico previsto de 14 de abril poderá alargar-se no tempo”, aponta.
Rita Sá Machado coordena a equipa que apresenta, diariamente, o boletim epidemiológico com todas as informações sobre a propagação do vírus em Portugal, e explica que é necessário um trabalho de equipa entre os profissionais de saúde e DGS.
“O boletim é da autoria da minha equipa. É um trabalho muito complexo porque temos os nossos sistemas implementados, que funcionam relativamente bem dentro da rotina normal, mas temos esta situação de epidemia e urgência. Estamos a aprender e a readaptar o melhor que conseguimos e podemos. É também um trabalho das pessoas do terreno que recolhem esta informação ao longo dos dias. Vamos ajustando também parâmetros, como corrigir a data de início dos sintomas”, remata.
À data, Portugal conta com 2995 casos confirmados, mais de 21 mil casos suspeitos, 276 doentes internados, 22 recuperados e 43 mortes.
Casos confirmados em Portugal