28 mar, 2020 - 11:00 • André Rodrigues
À medida que a crise sanitária ganha novas dimensões todos os dias em Ovar, há exemplos de resiliência que provam que a vida continua, apesar das contingências impostas pela cerca sanitária decretada ao concelho, desde 18 de março.
A ComuniTI.pt é um supermercado que funciona a partir de uma plataforma online e cujo armazém central fica em Esmoriz, situação que levanta problemas, desde logo a nível sanitário e de operação logística.
Em declarações à Renascença, Rui da Cruz, responsável de operações desta plataforma, reconhece um aumento exponencial de clientes, por força da pandemia, uma vez que o receio de contágio acabou por afastar a esmagadora maioria dos consumidores das grandes superfícies comerciais.
"Até há duas semanas, estávamos com cerca de 4.800 clientes e, neste momento, temos cerca de 13 mil. Claramente, a última semana e meia a duas semanas registou um pico de novos registos e de novas encomendas", explica.
Só que essa nem é a maior dificuldade.
Nesta fase, Rui da Cruz sublinha que a rutura de vários bens de primeira necessidade é a principal preocupação, algo para que ninguém estava preparado, porque "o pico de consumo foi muito elevado nas duas últimas semanas e sentimos que as pessoas têm medo que lhes falte as refeições, principalmente para as crianças e para os idosos".
Cada dia de atraso na entrega das encomendas "há muita ansiedade, sobretudo por sermos um operador recente no mercado".
No entanto, Rui da Cruz assegura que "durante o fim de semana, serão regularizadas todas as encomendas em atraso".
Para evitar constrangimentos acrescidos para os consumidores, a ComuniTI.pt decidiu criar um limite máximo de encomendas por dia, para evitar um eventual cenário de rutura da cadeia de fornecimento.
Acresce, ainda, outra dificuldade. A central logística desta plataforma de distribuição alimentar fica em Esmoriz, no concelho de Ovar, um dos epicentros da crise sanitária.
Rui da Cruz fala de "um território completamente cercado, com barreiras de betão em cada rua, com agentes da autoridade em todas as estradas".
Abrem-se as carrinhas, inspeciona-se a mercadoria. Rui da Cruz diz que "é perfeitamente compreensível", mas acaba por atrasar a expedição das encomendas.
"Faz lembrar aqueles checkpoints militares. E só quando saímos daqui para fazer a distribuição é que nos apercebemos da situação lá fora. De resto passamos a maior parte do tempo a trabalhar no armazém, 24 horas por dia, sete dias por semana".
Todos os segundos contam para dar resposta às entregas em atraso.
"Até há duas semanas, trabalhávamos a 24/48 horas; nesta fase, tivemos de fazer uma série de ajustes e estamos a fazer entregas entre quatro a sete dias", com uma equipa de 11 pessoas.
O responsável operacional da ComuniTI.pt reconhece que era preciso recrutar mais gente para responder à procura, "mas tivemos que decidir não contratar, porque todo o processo de recrutamento implicaria, necessariamente, entrevistas presenciais e isso é algo que não podemos fazer nesta fase".
Com a força de trabalho de que dispõe nesta altura, a plataforma assegura a distribuição com pessoal e viaturas próprias na faixa litoral, entre o Grande Porto e a zona de Lisboa.
No resto do país, as entregas estão a cargo de um operador logístico.