30 mar, 2020 - 20:39 • Lusa
A Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) enviou uma carta ao primeiro-ministro, António Costa, solicitando que o executivo implemente medidas de "proteção especial" para os doentes cardiovasculares, mais afetados pela covid-19, profissionalmente ativos, revelou o presidente Victor Gil.
"Face ao especial risco de mortalidade dos doentes cardiovasculares, que é muito alto, preocupam-nos as pessoas com menos de 70 anos, que estão no ativo, a trabalhar, seja em que profissão for, porque há muitos que não podem fazer o trabalho à distância", disse à agência Lusa o responsável.
Victor Gil salientou que estas pessoas, apesar de não estarem qualificadas para receber uma baixa médica, uma vez que não têm neste momento uma doença incapacitante, são mais frágeis, e estão mais expostas a contrair covid-19 pela necessidade de manutenção dos empregos.
"Nós não podemos dar baixa, porque elas não estão doentes, mas não está prevista uma proteção especial para estas pessoas", sublinhou o líder da SPC, que sugeriu a possibilidade de ser criado um instrumento de proteção "equivalente a uma baixa médica".
De resto, a entidade está "totalmente disponível para colaborar" com o Governo na definição de um "subgrupo de doentes" mais expostos, com base em relatórios médicos, face ao extenso universo de doentes cardiovasculares em Portugal com menos de 70 anos.
Segundo Victor Gil, só em termos de insuficiência cardíaca estão identificados no país 350 mil doentes das mais variadas idades.
"Claro que muitos são idosos, mas também haverá um número grande de pessoas no ativo. Estamos a falar de milhares de pessoas que precisam de mais proteção", vincou.
Na carta enviada a António Costa, a que a Lusa teve acesso, lê-se que, no que toca ao novo coronavírus, "de todas as comorbilidades estudadas, os doentes com patologia cardiovascular desenvolvem infeções respiratórias mais graves e têm menor capacidade de as resistir do que resulta, infelizmente, uma taxa de mortalidade mais elevada".
A SPC mostrou-se também preocupada com uma "pressão ainda maior" para o sistema de saúde se estes doentes cardiovasculares vierem a ser infetados.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 727 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram perto de 35 mil. Dos casos de infeção, pelo menos 142.300 são considerados curados.
Em Portugal, segundo o balanço feito pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 140 mortes, mais 21 do que na véspera (+17,6%), e 6.408 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 446 em relação a domingo (+7,5%).