30 mar, 2020 - 13:50 • Olímpia Mairos
A Associação Portuguesa da Impresa (API) reage com grande preocupação à decisão do Governo Regional da Madeira de suspender a venda de jornais naquele arquipélago, uma das medidas inserida num conjunto de outros mais restritivas para combate à pandemia de Covid-19.
Segundo o presidente da API, suspender a venda de jornais “é uma medida completamente incompreensível". “É o primeiro sítio, é a primeira região na Europa onde isto acontece, o que é para nós uma vergonha muito grande”, lamenta João Palmeiro.
“Além de chocados, pedimos veementemente ao Governo Regional da Madeira que reconsidere e que revogue esta decisão, que não é boa para absolutamente ninguém, e, pela primeira vez, sou obrigado a dizê-lo durante esta crise: não é seguramente boa para a democracia”, defende, em entrevista à Renascença.
A declaração do estado de emergência era muito clara e dizia que o estado de emergência, em caso algum, poderia limitar a liberdade de imprensa, a liberdade de expressão, a liberdade de informação. Para além disso, é uma solução que cria um muito grande desequilíbrio”, afirma o presidente da API.
Covid-19
Consulte também a lista de todos os estabeleciment(...)
João Palmeiro refere que os jornais nacionais, que são transportados todos os dias para a Madeira e também para os Açores, não têm a mais pequena possibilidade de serem vendidos de outra maneira que não seja nos pontos de venda. “Para além disso, os jornais da Madeira também sofrerão muito, porque uma parte dos jornais da Madeira já são, hoje em dia, distribuídos porta a porta, mas há outra parte significativa que ainda é vendida em pontos de venda”, acrescenta.
O presidente da Associação Portuguesa da Impresa dá conta da grande preocupação dos jornais da Madeira, indicando que ainda decorria a conferência de imprensa do Governo Regional onde a medida foi anunciada e já estava a receber telefonemas.
“Eu estava a ver o Governo Regional a informar na conferência de imprensa e no mesmo momento estava a receber de jornais da Madeira a pergunta sobre o que é que podemos fazer, como é que podemos fazer, sobretudo porque a associação teve um papel muito importante ao longo de mais de uma década, num problema muito concreto que houve em relação a propriedade de jornais e concorrência desleal na Madeira. E esperemos que tudo isto não seja apenas um resquício dessa velha história que foi muito bem resolvida pelo atual Governo Regional”, refere João Palmeiro.
O presidente da API considera que o “online não é suficiente para informar os cidadãos e não é o adequado para o papel mais importante que os jornais têm que ter hoje em dia na nossa sociedade, que não é dar notícias”.
“Os jornais explicam, preparam as pessoas para a retoma, preparam as pessoas para as dificuldades e explicam às pessoas porque é têm que aceitar uma situação que estamos todos a viver, que é muito difícil, mas também que não estamos sozinhos no mundo, que existem soluções, que existem alternativas que vêm de outros sítios do mundo. E esse é o papel único da imprensa e especialmente da imprensa em papel”, observa João Palmeiro.
A partir de terça-feira, todas as atividades não-e(...)
Já em relação à venda de jornais em todo o país, o presidente da API declara que onde se mantêm os postos de venda, “está-se a vender bem, o problema é que todos os dias continuam a fechar pontos de venda”.
“Fecham por opção própria. E é preciso percebermos uma coisa muito importante que é a rede de pontos de venda de jornais, de publicações periódicas em Portugal, é uma rede muito extensa, muito fina, e isso existe porque há uma grande tradição de ser um negócio familiar, de ser um negócio até de pessoas reformadas e que têm este negócio complementar”, explicita.
O presidente da API destaca que “essas pessoas foram as primeiras, pela idade, aconselhadas a ficarem em casa e a não terem contactos de venda”, e esse é agora um problema para o qual estão a tentar encontrar soluções.
“É um problema que não há muito a fazer, a não ser encontrar modos de substituir, que é aquilo que se está à procura. Mas onde há jornais, a venda tem continuado ativa. Onde não há jornais, estamos à procura de soluções alternativas”, conclui João Palmeiro.