01 abr, 2020 - 17:30 • Celso Paiva Sol , Ana Rodrigues
Em plena crise de saúde publica, o socialista Francisco Assis diz que há questões que devem ser resolvidas pelos Estado e outras pelas instituições europeias.
“A resposta sanitária cabe a cada Estado-membro. É de âmbito nacional, mas, depois, vai ser preciso um plano económico. Uma solução comum e isso já caberá à União Europeia”, declara.
Assis lembra, no entanto, que “a capacidade de resposta tem a ver com a folga orçamental de cada país e há países que têm mais elasticidade orçamental que outros”.
O antigo dirigente socialista não tem dúvidas de que “a crise está a afectar também os países do norte da europa e todos optaram, pela mesma estratégia que paralisa a atividade económica. O que implica depois consequências, no plano económico.”
Se a solução são os Eurobonds, Francisco Assis não sabe, mas admite que existem “soluções alternativas”.
Já para Paulo Rangel, a “solução preferível são os Coronabonds, uma mutualização da dívida, mas vinculada a um propósito”.
Seja qual for a fórmula “a União Europeia não pode deixar de ter um plano económico de grande escala que não pode ser atirado para as calendas gregas”, remata o eurodeputado.
Braço de ferro entre o Norte e o Sul da Europa
Para Paulo Rangel, o primeiro-ministro “esteve mal” no episódio das declarações sobre as palavras do ministro das Finanças da Holadas, acrescentando que “em Portugal toda a gente fica muito contente porque há uma cena de pugilato. Mas a verdade é que Costa devia ter reagido sem criar uma animosidade com um Estado”.
“Ele é que alimentou uma ideia de guerra norte/sul porque não deveria ele próprio responder ao ministro das finanças. Quanto muito devia ter deixado isso para o ministro dos negócios estrangeiros”, diz Paulo Rangel.
O eurrodeputado gaiense reconhece, no entanto, que o pedido de desculpas do ministro das finanças holandês veio “neutralizar o efeito negativo” da atitude de António Costa.
Resposta do Estado português à pandemia : eficaz ou insuficiente?
Para Francisco Assis, a resposta tem sido globalmente positiva, desde a declaração do estado de emergência pelo Presidente da República, à forma como o governo tem vindo a aplicar às medidas.
O antigo dirigente socialista aproveita para elogiar a postura de Rui Rio que , segundo Assis, tem tido “um comportamento exemplar, colocando o interesse nacional acima de qualquer preocupação partidária e isso não tem acontecido noutros países”.
Uma opinião que é também partilhada por Paulo Rangel, referindo que “o clima de cooperação nacional é muito construtivo e dá um ótimo exemplo ao país”.
É preciso dizer também o que correu mal, aponta Rangel, começando desde logo, pela “falta de planeamento no que toca aos lares de idosos. Para onde só se começou a olhar há quatro, cinco dias”.
Mas também a situação de risco dos profissionais de saúde, que na opinião de Rangel revela a “falta de equipamentos de proteção individual” e ainda a “fiabilidade dos números”. Um problema que diz, mostra que “a confiança nos números está um pouco abalada e é preciso garantir que há credibilidade “.
"Governo de salvação nacional"
A questão foi levantada por Rui Rio e rapidamente rejeitada por António Costa e até de forma mais veemente por Marcelo Rebelo de Sousa. Na opinião de Francisco Assis, “neste momento, não faz sentido. Até porque o governo de salvação nacional é o que está a governar”.
Acrescenta que “vai ter de haver diálogo muito maior entre PS e PSD, mas isso não passa necessariamente por um governo de salvação nacional”.
Já Paulo Rangel prefere esclarecer as palavras de Rui Rio, dizendo que o líder social democrata nunca disse que seria outro governo. “O governo de salvação nacional até pode ser este governo “, diz o eurodeputado.
Para Rangel “Rui Rio foi mais longe do que o governo ao dizer que mais cedo ou mais tarde vamos ter de pagar o esforço que estamos agora a fazer”.
“Mas que não haja nenhuma nuvem de dúvida na cabeça das pessoas. Quando passar a crise de saúde, estaremos numa situação económica muito complexa”, acrescenta Paulo Rangel.
Já quanto ao Orçamento de estado para 2020 que recentemente entrou em vigor, Francisco Assis refere que “vai ter de haver um orçamento retificativo”.
Uma opinião partilhada por Paulo Rangel admitindo que “tendo em conta que houve uma alteração radical das circunstâncias, o novo quadro orçamental tem de ser alterado”.