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Pandemia de Covid-19

​Não há coronavírus que trave a solidariedade. Saiba como pode ajudar

01 abr, 2020 - 21:36 • Dina Soares

Da Rede de Emergência Alimentar a costureiras que fazem máscaras de proteção, passando por voluntários que ensinam os mais novos. Em tempos de pandemia de Covid-19, instituições, empresas e cidadãos não param na ajuda a quem precisa. E todos podemos contribuir, na medida das nossas possibilidades e disponibilidade.

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Distrair as crianças enquanto os pais trabalham, fazer máscaras de proteção para as instituições da região, reinventar formas de fazer o auxílio chegar a quem precisa. Em tempos de pandemia, instituições, empresas e cidadãos não param na ajuda a quem precisa.

E que tal começar esta semana? Quinta-feira, 15h30: Inês Mendes Andrade, médica veterinária, vai fazer uma pausa no seu trabalho para ensinar os mais pequenos a viajarem sem saírem da sala de estar. A Inês é uma entre mais de 50 voluntários que desde o início da semana puseram em marcha o programa “Sharing is Caring”, uma iniciativa online da Porto Business School que desafia alunos e ex-alunos, professores e a comunidade em geral a darem um pouco do seu tempo para ajudarem os pais a organizar atividades para os seus filhos nestes tempos de confinamento.

O Miguel tem quatro anos e prefere o cantinho da leitura. “Ele gosta muito de estar a ouvir uma história e de ver todos os outros meninos que estão também em suas casas a ouvir a mesma história”, conta à Renascença o pai, Daniel. Muitas vezes, o Miguel partilha este momento com a irmã do meio, Isabel, que tem seis anos. As atividades estão organizadas por faixas etárias e algumas são adequadas para ambos.

Por que razão os astronautas parecem saltar em câmara lenta?

Já a Adriana, do alto dos seus 11 anos, procura atividades mais complexas. Por exemplo, no campo da Ciência, pode aprender por que razão os astronautas parecem saltar em câmara lenta, como funciona a gravidade ou porque é que ela é diferente na Terra e na Lua.

Também pode criar o seu próprio site, aperfeiçoar o xadrez, ou conhecer melhor o corpo humano. E quando chega a hora de fazer os trabalhos da escola, o site também providencia explicações a quem ficou com dúvidas sobre a matéria.

“Há atividades para todas as idades, entre os quatro e os 15 anos, por isso é fácil encaixá-los”, explica o pai Daniel, que reconhece que, como está a trabalhar em casa, esta ajuda é preciosa.

Por isso mesmo, já se inscreveu como voluntário para poder devolver aos outros pais o que tem recebido deles. “Vou ensinar a fazer um herbário com as folhas das plantas que eles têm em casa ou que possam apanhar em pequenos passeios. Recolher as folhas, secá-las, colá-las e, por fim, aprender a identificá-las.”

O atelier de Daniel começa na próxima semana. Tal como acontece com todos os outros, terá hora marcada, é gratuito, mas requer inscrição no site “Sharing is Caring”. Apesar de ser muito recente, este site já tem 150 pais inscritos e 87 atividades planeadas.


Da "quase clandestinidade" aos pedidos dos hospitais. Voluntários imprimem milhares de viseiras em 3D para médicos
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Costureiras unidas na confeção de máscaras

Em tempos de exceção, a vontade de ajudar não tem limites e a imaginação também não. Diana Pires é dona da Ihcare, uma startup de base tecnológica dedicada à investigação, desenvolvimento e comercialização de soluções na área da saúde.

Quando surgiu a pandemia de covid-19, estava a trabalhar com tecidos na área médica. A ideia de fazer máscaras surgiu de forma natural. “Lancei um apelo e apareceram logo 50 pessoas interessadas em fazer máscaras, entre costureiras e pessoas que sabem alguma coisa de costura e têm máquinas em casa.”

Como está sedeada em Penela, perto de Coimbra, Diana conseguiu de imediato o apoio da Câmara local para comprar os tecidos e um mecenas para fornecer o molde da máscara, que depois é seguido pelas costureiras. As primeiras 200 estão feitas e aguardam certificação para seguirem para a esterilização.

Mantém-se o apelo a mais apoios. “Já temos garantido o auxílio da Câmara da Lousã e acredito que vamos ter mais parceiros”, afirma à Renascença Diana Pires, que tem a ambição de chegar às 20 mil máscaras, todas destinadas às instituições sociais e de saúde da sua região.

Banco Alimentar reinventa-se

As iniciativas espontâneas de voluntariado vêm juntar-se às das instituições que, apesar de terem grande experiência no terreno, vivem agora uma situação inédita. É o caso do Banco Alimentar contra a Fome. Vocacionado para a ajuda às instituições que apoiam os mais desfavorecidos, ficaram de repente sem uma grande parte dos seus interlocutores quando as creches, ATL e centros de dias começaram a fechar para evitar a propagação do coronavírus.

Isabel Jonet, presidente da instituição, teve que procurar novas formas de fazer chegar a ajuda a quem precisa, uma espécie de reinvenção da rede.

“Procurámos que as juntas de freguesia assumissem o papel das instituições que tiveram que encerrar e que outras instituições, que se mantêm abertas, passassem a acolher mais pessoas”, explica à Renascença Isabel Jonet.

Coronavírus. Voluntários combatem solidão dos idosos ao telefone
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A Rede de Emergência Alimentar conta já com 487 voluntários, que atuam nas respetivas áreas de residência, para tentarem responder aos mais de dois mil pedidos de ajuda que se vão acumulando.

“A ajuda não pode parar” – garante a presidente do Banco Alimentar – “por isso, mesmo com meios diferentes, já conseguimos responder a 30% dos pedidos, sobretudo em Lisboa, Porto e Setúbal, e vamos responder aos outros.”

As doações, vindas sobretudo da indústria alimentar, mantêm-se. Só que, atualmente, são todas entregues no MARL, o mercado abastecedor de Lisboa, de onde são depois recolhidas.

Câmara de Lisboa cria "exército de voluntários"

O confinamento e o isolamento social provocaram uma grande redução no número de pessoas que habitualmente se dedicam ao voluntariado. Para tentar minorar esse problema, a Câmara Municipal de Lisboa criou uma bolsa de voluntários destinada a dar apoio às juntas de freguesia, serviços sociais do município e outras instituições que estejam impedidas de fazer o seu trabalho por falta de pessoas.

Manuel Grilo, vereador dos Direito Sociais, disse à Renascença que em apenas uma semana, receberam a inscrição de 1.200 voluntários.


“Inicialmente, destinavam-se apenas a auxiliar as juntas de freguesia da sua área de residência, agora com mais trabalho, em tarefas como a distribuição de refeições e medicamentos a pessoas idosas ou com problemas de saúde que vivam sozinhas ou não tenham que as ajude”, explica o vereador.

Só que, rapidamente, as necessidades aumentaram. “Neste momento, já temos uma centena de voluntários a trabalharem nos quatro centros de apoio às pessoas sem abrigo da Câmara de Lisboa – Pavilhão da Tapadinha, Casa do Lago, Pavilhão do Casal Vistoso e Pavilhão do Clube Nacional de Natação – que servem as refeições e se ocupam do tratamento e distribuição das roupas”.

Há também quem esteja a trabalhar em instituições que ficaram sem voluntários, como a Norfátima e o centro de apoio ao sem-abrigo Casa. Os restantes formam uma equipa de retaguarda e podem ser chamados a qualquer momento, por exemplo, para render as equipas no terreno.

As iniciativas de cidadãos, instituições e empresas crescem e multiplicam-se todos os dias. Os artistas oferecem a sua arte. Os restaurantes “mimam” os profissionais de saúde com uma refeição quente. As fábricas param o que estavam a fazer para produzirem material de combate ao vírus e a capacidade de organização de quem nunca se tinha aventurado no mundo do voluntariado ultrapassa os limites da imaginação.

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