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Sem-abrigo. Crise já está a empurrar mais pessoas para a rua, alerta Comunidade Vida e Paz

02 abr, 2020 - 21:07 • Isabel Pacheco , Sérgio Costa

Em entrevista à Renascença, Renata Alves, diretora da Comunidade Vida e Paz, apela à criação de um plano nacional de contingência para as pessoas sem-abrigo.

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A crise provocada pela pandemia de Covid-19 já deixou pessoas desalojadas e o número de sem-abrigo pode aumentar significativamente se não forem tomadas medidas de emergência. O alerta é deixado na Renascença pela diretora da Comunidade Viva e Paz, Renata Alves, que apela à criação de um plano de contingência.

“Para além das pessoas que já existiam na rua até ao momento em que iniciamos a pandemia da Covid-19 em Portugal, mais se vão juntar pela crise económica que vamos atravessar que já estamos a atravessar”, afirma Renata Alves, responsável pela organização que alimenta, ajuda e acolhe pessoas em situação de sem-abrigo.

O objetivo de dar um teto a todos os sem-abrigo até 2021 está agora "bastante comprometido" com a crise provocada pela Covid-19, admite.

"Nos últimos dias temos assistido a outra realidade, que são pessoas que ficaram desalojadas porque deixaram de ter condições financeiras para suportar rendas, ficaram desempregadas e outras, apesar de ainda conseguirem manter as casas, não têm recursos financeiros para adquirir alimentos", diz Renata Alves.

O número de sem-abrigo pode aumentar significativamente por causa da nova crise? "Sem dúvida. Nos últimos dias, percebemos que existem outras pessoas que estão a vir à rua procurar refeições e apoio. Descrevem que ficaram desempregadas, não têm qualquer tipo de recurso financeiro. Nós reencaminhamos essas pessoas para uma equipa técnica que procura perceber e identificar quais são as problemáticas e necessidade e ajudar as pessoas a encontrar respostas. Mas sabemos que isso é difícil", responde a diretora da Comunidade Vida e Paz.

É preciso um plano de contingência nacional para os sem-abrigo

Renata Alves lamenta a falta de um plano de contingência nacional para os sem-abrigo, ao contrário do que já acontece noutros países.

“Não conheço um plano de contingência ao nível nacional para as pessoas sem-abrigo. E era importante haver”, sublinha a diretora da Comunidade Viva e Paz.

A responsável explica que “não são só as pessoas que estão nos pontos da cidade onde há mais aglomerados, mas existem outras pessoas sem-abrigo que estão em espaços degradantes e que não se deslocam aos espaços onde podem adquirir as refeições”.

A Comunidade Vida e Paz presta auxílio às pessoas em situação de sem-abrigo dentro do possível, mas que não chega em tempo de crise.

“Efetivamente não temos capacidade de poder apoiar a nível médico as pessoas que estão na rua. Os centros são, sem dúvida, muito importantes porque as pessoas podem ficar ali alojadas e fazer refeições, mas não são suficientes”, alerta.

Renata Alves refere que, “neste momento podemos verificar que já existe mais apoio”. O cenário mudou um pouco, mas nas primeiras semanas depois da chegada do coronavírus a Portugal foram difíceis e havia “muita fome na rua”, afirma.

O número de ajudantes diminuiu e “as pessoas tinham medo de ficarem sozinhas, abandonadas, com fome e sem assistência médica”, mas a sociedade civil e as organizações oficiais responderam. "Os voluntários têm sido uns heróis", conclui a diretora da Comunidade Vida e Paz.

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