03 abr, 2020 - 09:00 • Eunice Lourenço (entrevista), Eduardo Soares da Silva (texto)
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António Costa salvaguarda que o estado de emergência "não é um castigo, nem prisão domiciliária". Em entrevista à Renascença, o primeiro-ministro analisa a proibição de saída do concelho de residência no fim-de-semana da Páscoa, no dia seguinte à renovação do estado de emergência até 17 de abril.
"Devemos ser transparentes e avisar as pessoas com maior antecedência possível. Já houve muitas medidas que tivemos de adotar que apanharam as pessoas de surpresa e isso teve um efeito muito negativo. Felizmente as pessoas estão seguramente de que não vão faltar mantimentos e as coisas têm-se normalizado. Quanto mais pessoas avisarmos, mais cedo as pessoas podem reorganizar-se. Isto não é um castigo. As pessoas não estão em prisão domiciliária, estão a cumprir o dever de recolhimento, para se protegerem e diminuírem o risco de contaminarem os outros. Não vamos ver isto como uma punição. As pessoas devem ter tempo para organizarem a sua vida, para se prepararem", diz.
O estado de emergência foi renovado, na quinta-feira, por mais duas semanas, até ao dia 17 de abril. Costa recorda que a sua prorrogação era totalmente necessária, apesar de admitir algumas reservas na sua primeira aprovação.
"Disse o que pensava, a questão não era a necessidade de medidas de contenção, mas a necessidade do estado de emergência para as colocar em prática. Já tinhamos fechado as escolas e colocado a cerca sanitária em Ovar. Se há 15 dias poderiam existir dúvidas, agora é mesmo imprescindível porque estamos na fase mais crítica, no mês de maior risco. Vão-se avolumando os casos, há um cansaço acumulado e a dor que as medidas começam a causar nas pessoas", explica.
O primeiro-ministro avisa que estamos ainda no "início de uma longa maratona" de combate contra o coronavírus, daí as suas reservas iniciais em relação à implementação do estado de emergência.
"Não senti que todos tivessem consciência que 15 dias em casa não eram suficientes para parar a pandemia. Temos o risco de uma segunda onda e teremos ainda o vírus no próximo inverno, porque ainda não vamos ter vacina. Tem de ser percorrido como uma longuíssima maratona e não como uma estafeta de 4x100 metros. O meu receio tinha que ver com isso, mas daríamos o parecer favorável, como fizemos", adianta.
António Costa tem a convicção de que a época das feiras empresariais no norte de Itália foram um dos principais motivos para a propagação da doença no país e revela que a época em que vivemos de globalização promoveu a rápida dispersão do mesmo.
"Percebemos que seria grave mal vimos que não ficaria só na China. Fomos ganhando rapidamente consciência que chegaria cá. No primeiro momento, ninguém teve dimensão efetiva da sua globalização. É a primeira epidemia em que o fator da globalização a favoreceu. Há muitas viagens, muitos locais de concentração. Uma das razões dos casos no norte de Itália tem a ver com algumas das grandes feiras em Milão. Não sei se é bem assim, mas tenho essa convicção", termina.
Primeiro-ministro avisou que vai aumentar o número(...)