02 abr, 2020 - 17:30 • Teresa Almeida
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Desde que a pandemia se instalou e há muitos dias a trabalhar em casa, Rui Pinto diz que os seus dias tem-se reinventado. Entre as muitas reuniões e a muda de fraldas e as refeições dos mais pequenos “é a loucura total” diz este especialista na área financeira a trabalhar num banco internacional.
“Ainda hoje numa reunião que estava a ter com o meu chefe, que está em Paris, ele pediu-me para desligar o som do meu computador, porque estava a ouvir o choro do meu bebé”, explica Rui Pinto com três filhos – os mais velhos com seis e quatro anos e o mais novo com nove meses.
O turbilhão começa bem cedo, mas tudo se complica quando a mulher, bióloga num hospital de Lisboa, sem possibilidade de recorrer ao teletrabalho, sai de casa por volta das 9h00.
“A partir dessa altura, tenho de me dividir entre o meu trabalho normal, com reuniões e projetos para desenvolver, e cuidar das crianças”, explica Rui Pinto.
Só hoje, Rui mudou cinco vezes a fralda ao mais novo e tratou de “duas sestas. E é preciso que adormeça…”. Isto só para o mais pequeno. “Depois há as duas mais velhas, que também precisam de comer e de ter atenção”, lembra.
A confusão é o dia a dia deste teletrabalhador, que lembra uma situação caricata: “eu estava a ter reuniões e elas entravam pelo escritório dentro, depois o bebé chorava e eu tive de pedir à mais velha, que só tem 6 anos, para tomar conta dele”.
Rui diz ter saudades dos tempos em que tudo estava normalizado, com creches e férias da Pascoa já orientadas para todos. De repente tudo mudou. A Covid-19 alterou a sua vida e a dos seus. E não é caso único.
Pandemia de Covid-19
Associação de Famílias Numerosas já apresentou ped(...)
Tem colegas na mesma situação. Apesar do horário ser flexível, o certo é que trabalhando num banco internacional, a situação complica-se, “porque quando a minha mulher chega, grande parte da Europa com quem trabalho, está a fechar e a sair dos seus serviços. Não é fácil,” lamenta.
Por isso, Rui Pinto só vê esta solução: “trabalhar em tempo parcial, mas com apoios para não perder o ordenado. Seria o ideal” e é isto que a Associação de Famílias Numerosas já pediu ao Governo.
Rui Pinto tem receios e não sabe até quando conseguirá aguentar esta situação, e até teme que possa ter complicações psicológicas para si.
“Há dias em que estou estourado. Estar fechado dentro de casa e com as crianças não é fácil”, confessa.