07 abr, 2020 - 20:03 • Luís Aresta
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A Associação Portuguesa de Importadores e Exportadores de Medicamentos (APIEM) considera que há produtos a mais na lista de fármacos reforçada pelo Infarmed com o intuito de precaver a crise da Covid-19. Em declarações à Renascença, o presidente da APIEM, António Mendonça Alves, diz que é neste contexto que devem ser interpretadas as declarações do responsável de uma organização europeia que representa a indústria de genéricos, como avançado em primeira mão pela Renascença na segunda-feira à noite.
"Acho que toda esta polémica se deve a uma tradução infeliz do termo 'stockpiling', que foi entendida como açambarcamento, quando o secretário-geral da Affordable Medicines Europe pretendia referir-se a uma armazenagem excecional deste tipo de produtos", explica António Mendonça Alves.
Essa armazenagem excecional, que o presidente da APIEM considera efetivamente existir, não se refere aos medicamentos especificamente dirigidos ao tratamento dos doentes infetados pelo novo coronavírus, mas sim a um vasto leque de fármacos que o Infarmed, por precaução, acrescentou à lista e que, no entender dos importadores e exportadores de medicamentos, não deveriam lá estar e cuja exportação deveria ser permitida.
Acusações da Affordable Medicines Europe são "absu(...)
"Essa lista já existia, faz sentido para muitas referências, mas foi grandemente alargada e engloba produtos cujo aumento do consumo não é expectável só pelo episódio Covid-19; não é expectável que haja um aumento do consumo de insulina por causa desta pandemia", exemplifica António Mendonça Alves, antes de advertir para os riscos das restrições impostas pelo Governo português.
"Mesmo não conhecendo profundamente o porquê das decisões, não estamos particularmente de acordo com elas. Esta limitação à exportação pode ser contraproducente, numa altura em que a solidariedade entre as nações deveria ser maior, e não fecharmo-nos em nós próprios, somando medidas protecionistas que nos podem dificultar a ajuda quando viermos a necessitar dos outros países. E é possível que isso aconteça."
O mercado internacional de medicamentos funciona como tantos outros, numa lógica de compra e venda (importação e exportação). Ora as dificuldades levantadas à exportação na sequência da pandemia de Covid-19 trazem associada outra face da moeda, avisa o presidente da APIEM.
"Os nossos associados têm estado muito mais focados em identificar produtos que possamos trazer para ajudar Portugal a resolver o problema, mas é claro que a importação depende também de alguma reciprocidade. É muito difícil convencer um estado a quem não vendemos nada, a vender-nos coisas a nós", acentua António Correia Alves que complementa esta ideia com casos concretos de protecionismo que em nada ajuda à solidariedade entre os povos europeus.
Pandemia
Organização que representa indústria de genéricos (...)
"A Alemanha, a França, a Hungria ou a Roménia em particular, estão a proibir toda a exportação de medicamentos e assim fica muito difícil trazer produtos que são necessários em Portugal. No fundo estamos todos a ser vítimas de medidas restritivas que também não nos estão ajudar a nós" assinala.
Nesta entrevista à Renascença, na qual sugere menos restrições à exportação de medicamentos disponíveis no mercado português, o presidente da APIEM adverte para a necessidade imperiosa de olhar, ao menos, para as dificuldades que se perspetivam nos países de língua oficial portuguesa.
"Ao estarmos a armazenar estes produtos em quantidades superiores ao que seria necessário e expectável, faz com que os fluxos de medicamento para os parceiros de língua oficial portuguesa, com quem temos muitas transações, sejam mais difíceis". E António Mendonça Alves concretiza.
"Temos associados da APIEM que têm sido contactados por autoridades sanitárias de alguns desses países, nomeadamente Angola, a solicitar produtos que estão nesta lista de Covid-19, cuja exportação está proibida. Para grande parte destes países a única fonte abastecedora de medicamentos é Portugal" e ao não exportar esses fármacos "estamos a deixar esses países numa situação muito difícil", conclui.
Número de infetados e de vítimas do novo coronavírus em Portugal