16 abr, 2020 - 16:23 • Joana Gonçalves
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"Neste momento, o nosso R0 situa-se perto de 1, com algumas variações regionais", anunciou esta quinta-feira a Diretora-Geral da Saúde na habitual conferência de imprensa diária.
Mas o que quer isto dizer? De acordo com o plano nacional de prevenção do novo coronavírus, o limiar de transmissão ocorre quando o número básico de reprodução (R0) é igual a 1. "Para valores abaixo deste, a infeção é incapaz de se manter na população", lê-se no documento.
O R0 corresponde ao número de novos casos gerados a partir de um único confirmado. Quanto maior este valor mais difícil se torna o controlo da pandemia. A 28 de fevereiro, a OMS calculou um R0 de 2 a 2.5 para o novo coronavírus.
O valor estimado pela OMS torna o coronavírus menos contagioso que outras patologias, como o sarampo, que tem um R0 que pode chegar a 18, pólio ou papeira, ambos com uma taxa de ataque média próxima de 6, e até a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), com um valor estabelecido entre 2 e 5.
Porém, quando comparada com o vírus da gripe, "a transmissibilidade deste novo coronavírus é um pouco mais elevada", como explicou à Renascença Raquel Guiomar, virologista do Instituto Ricardo Jorge. "A probabilidade de um caso gerar novos casos parece ser, nesta situação, mais elevada".
Segundo esta estimativa, um paciente com Covid-19 infeta pelo menos dois outros. Para vislumbrarmos o fim da pandemia, este indicador crucial tem de decrescer para um valor inferior a um - o que na prática significa que uma pessoa contaminada não é capaz de contagiar nenhuma.
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De acordo com a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, Portugal apresenta, neste momento, um número básico de reprodução próximo de um, o que sugere que o país está perto de atingir um valor inferior ao limiar de transmissão.
Esta evolução vai ao encontro das previsões do Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças, que em março sugeriu um modelo de acordo com o qual a adoção de medidas de contenção tem uma influência direta no valor do R0.
Ilustração: Rodrigo Machado
É natural, por isso, que se pense que Portugal está próximo de um cenário onde o levantamento de restrições é uma possibilidade. No entanto, a diretora-geral da Saúde alerta para a complexidade da gestão de risco.
"Não há um valor milagroso. Cada país tem uma realidade demográfica e social e um sistema de saúde diferente e, portanto, nós temos de ver quais são os critérios e quais são os padrões que se adaptam melhor ao nosso país", adiantou.
Portugal tem, neste momento, um grupo de cientistas, médicos de saúde pública e clínicos "na gestão destas situações, a avaliar qual será a altura ideal para se iniciar a descompressão das medidas de contenção, como é que poderá ser feito e quais são os critérios que vamos ter de observar".
"A grande vantagem que temos em Portugal é que começamos o período epidémico mais tarde que outros países e, portanto, vamos acompanhar diferentes critérios que estão a ser adotados por diferentes países para ver qual é aquele que se adaptará melhor à nossa realidade", explicou Graça Freitas.
O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendou, na última semana, prudência aos países que tencionam levantar as medidas para conter a pandemia de Covid-19.
Tedros Ghebreyesus lembrou que “levantar as restrições poderá levar a um ressurgimento do aumento de mortes”.
Alguns países da União Europeia optaram, ainda assim, por levantar restrições e, por isso, a OMS divulgou, esta terça-feira, um relatório onde aponta seis critérios necessários para adoção de medidas de redução gradual de confinamento.
O R0 não é, por isso, o único elemento com peso nesta equação. A OMS alerta, assim, para a necessidade de considerar capacidade de resposta do sistema de saúde na gestão de risco.
Nesse sentido, um relatório do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças revela que perante uma taxa de 18 infetados por cada 100 mil habitantes (o cenário de Lombardia a 5 de março), 12 países, incluindo Portugal, têm um alto risco de saturação da capacidade das (UCI).
De acordo com o mesmo documento, quatro países da UE apresentam um alto risco de ultrapassar a capacidade das unidades de cuidados intensivos (UCI) com uma prevalência de 10 casos Covid-19 hospitalizados por 100.000 habitantes (aproximadamente o dobro do cenário de prevalência da China Continental no auge da epidemia).
Se considerarmos um cenário em que estão hospitalizados 100 doentes por cada 100 mil habitantes nenhum país da União Europeia terá capacidade para acolher nas unidades de cuidados intensivos todos os doentes que necessitem de acesso a este tipo de cuidado.
Apesar de observar um decréscimo no número básico de reprodução, Portugal continua a resgistar um aumento diário na taxa de letalidade da Covid-19. Esta quinta-feira este indicador fixou-se nos 3,3 - um valor acima das estimativas globais (que rondam 1,4).
"As medidas adequam-se e adaptam-se ao risco em cada momento e é assim que temos de aprender a viver - proporcionalmente ao risco. Todos os dias devemos ser capaz de ajustar [os nossos comportamentos] até por regiões do país", reiterou a diretora-geral de Saúde.