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​Máscaras caseiras para a Covid-19. Eficácia é limitada e varia conforme o material

13 abr, 2020 - 19:47 • Dina Soares

Medida serve, sobretudo, para proteger os outros das nossas partículas quando falamos, tossimos ou espirramos, explica à Renascença o médico Jorge Paulo Roque da Cunha.

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A Direção-Geral da Saúde (DGS) vai a recomendar o uso generalizado de máscaras a todas as pessoas quando estiverem em espaços fechados e com muita gente, como por exemplo transportes públicos ou supermercados. O anúncio foi feito esta segunda-feira pela ministra da Saúde, e deverá começar a ser regra logo que Portugal deixe o período de confinamento e inicie o regresso à normalidade. O problema é que não há máscaras no mercado.

As máscaras cirúrgicas e os respiradores vão continuar a destinar-se aos profissionais de saúde, agentes de segurança, bombeiros, pessoas mais vulneráveis, doentes ou suspeitos de infeção, bem como aos seus cuidadores. Para o resto da população, a Direção-Geral da Saúde (DGS) irá recomendar o uso das chamadas máscaras sociais, equipamentos que não são certificados e que, na sua maioria, terão que ser feitos em casa por quem os vai usar.

A sua eficácia varia conforme o material usado, mas a generalidade dos médicos defende que o seu uso é melhor do que nada. “Esta medida serve sobretudo para proteger os outros das nossas partículas quando falamos, tossimos ou espirramos”, explica à Renascença Jorge Paulo Roque da Cunha, médico e presidente do Sindicato Independente dos Médicos (SIM).

Em caso de espirro, as partículas podem propagar-se por cerca de sete metros, ou seja, muito para além da distância social recomendada de dois metros. “É por isso que dizemos que seria do mais elementar bom senso que a ministra da Saúde já tivesse recomendado o uso de máscara por todas as pessoas quando vão às compras ou à farmácia”, acrescenta.

Movimento Máscaras para Todos

Esta ideia é partilhada por boa parte da comunidade médica que acaba de constituir o Movimento Máscara para Todos, destinado a sensibilizar a população para “a produção e distribuição de máscaras de proteção individual, sob pena de agravarmos a situação em que nos encontramos".

O bastonário da Ordem dos Médicos, o reitor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública são alguns dos membros da comissão científica do movimento.

Marta Temido não vê motivo para avançar com a recomendação em tempo de confinamento, mas prometeu ainda para esta segunda-feira a aprovação e divulgação das normas técnicas de utilização das máscaras sociais, que serão depois partilhadas com a indústria.

O Infarmed é parte deste processo, e na sua página na internet afirma que as máscaras têxteis “não garantem proteção contra riscos de partículas, pelo que não podem ser utilizadas para prevenção e proteção contra agentes biológicos nocivos, como vírus”.

Roque da Cunha considera “incompreensível que a ministra esteja à espera de um carimbo do Infarmed” para dar luz verde a estas máscaras. E lamenta que, há cerca de quatro meses, quando a ameaça começou, o país não tenha preparado a sua indústria para o fabrico de máscaras.

A solução pode ser fazer máscaras em casa

A produção artesanal apresenta-se como a forma mais expedita responder à falta de máscaras. Roque da Cunha aconselha o uso de tecido 100% algodão em duas camadas, ou de feltro, que não é tecido, mas sim calandrado, ou seja, feito através de fios prensados que formam uma trama compacta e resistente.

Estas máscaras podem ser lavadas a 50 graus e ficam prontas para serem usadas de novo. Estão disponíveis na internet muitos vídeos que ensinam a fazer máscaras em casa, em vários materiais e seguindo diferentes técnicas.

As autoridades de saúde, seja a DGS ou a Organização Mundial de Saúde (OMS), não dão instruções nesta matéria.

Aliás, a OMS continua a desaconselhar o uso generalizado de máscara por parte da população, embora esteja a reavaliar a sua posição. Relativamente a outras situações epidémicas virais ou bacterianas, como a gripe ou a tuberculose, a Organização Mundial de Saúde afirma que não há provas de que as máscaras sociais protejam quem as usa, mas parecem ter alguma eficácia na prevenção da propagação da doença através das gotículas expelidas por pessoas infetadas. Sobretudo, no caso de pessoas sem sintomas.

Alerta, porém, para o baixo grau de capacidade de filtragem destas máscaras, entre 2% e 38%, bem como para o perigo que pode representar o mau uso de uma máscara de tecido que, quando húmida, pode facilitar a penetração do vírus no organismo de quem a usa. Por isso mesmo, insiste nas boas regras de utilização, como seja a limpeza escrupulosa das mãos quando se coloca e retira a máscara e o cuidado extremo para nunca tocar na zona frontal do dispositivo.

Centro Europeu recomenda prioridade aos profissionais

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, que na passada sexta-feira recomendou o uso generalizado de máscaras como forma de controlar a propagação da infeção, também apresenta, no seu site na internet, algumas reservas relativamente às máscaras artesanais, feitas em tecido, considerando que elas só devem ser usadas quando as máscaras cirúrgicas estão em falta no mercado.

Mantém o conselho para que, em tempos de escassez, se dê prioridade aos profissionais de saúde na atribuição de máscaras cirúrgicas e respiradores. Recorda ainda, tal como Marta Temido e Roque da Cunha, que é essencial que não se abandonem hábitos como a lavagem frequente das mãos, o cuidado com a distância social e a etiqueta respiratória.


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