23 abr, 2020 - 07:52 • Lusa
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O antigo ministro Adalberto Campos Fernandes considera inaceitável a existência de salas cheias de doentes à espera de consultas, ou nas urgências, e defende o estabelecimento de "lotação máxima" para serviços, instituições e equipamentos.
“Está na altura de definirmos lotação máxima para os serviços, para as instituições, para os equipamentos”, afirma numa entrevista à agência Lusa.
“Não faz sentido algum que na Loja do Cidadão estejam 300 pessoas em 100 metros quadrados; não faz sentido nenhum que não haja agendamento prévio. Que se avance mais no chamado Simplex”, sugere.
O ex-ministro da Saúde (entre 2015 e 2018, durante o primeiro governo chefiado por António Costa) e especialista em saúde pública comentava o possível levantamento do estado de emergência a partir do dia 2 de maio e a retoma faseada da atividade económica.
No seu entender, é preciso o país reabrir a “pouco e pouco” a vida social e económica, mas com “um enorme sentido de responsabilidade”, cumprindo regras como a do distanciamento social.
Caso contrário, “a nossa vida fica muito complicada em termos de sustentabilidade do emprego e da economia”.
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Para Adalberto Campos Fernandes, há situações que não devem voltar a acontecer como salas de espera de centros de saúde e de hospitais cheias de doentes.
“Até contra mim falo, porque ao longo da minha vida dirigi vários hospitais – grandes, pequenos, médios – e procurei melhorar as condições dos locais por onde fui passando.
Lembro-me do Santa Maria [em Lisboa] que era um caso extremo, mas nunca compreendi muito bem a necessidade de termos pessoas doentes ou tendencialmente doentes em espaços de saúde às dezenas e às centenas”, destaca.
Esta situação é inaceitável e “tem de acabar”, porque é “completamente contra o princípio de uma unidade de saúde que protege a qualidade”, defendeu.
Adalberto Campos Fernandes diz ainda acreditar que as mudanças ocorridas nas unidades de saúde devido ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), como o recurso às teleconsultas para evitar a presença dos doentes e a mudança de comportamentos e atitudes, possam vir a melhorar os indicadores relacionados com a infeção hospitalar.
Para o ex-governante, os hospitais têm que ter horários diferidos ao longo do dia, apostar na telessaúde, na hospitalização domiciliária e na televigilância.
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A telessaúde ganhou “um espaço enorme” através do contacto entre o profissional e o doente, mas também através das novas tecnologias que permitem monitorizar à distância os doentes.
Exemplifica, a este propósito, os milhares de doentes com Covid-19 que estão a ser monitorizados em casa, através da plataforma Trace Covid, por médicos e enfermeiros, considerando que “é uma lição viva do potencial” que existe nesta área.
“Claro que o ato médico, por definição e por excelência, é um ato pessoal e não podemos fazer telecirurgia nem teletécnicas, mas podemos fazer com que as pessoas estejam nas unidades de saúde o menor tempo possível e que venham só apenas à hora marcada para fazer aquilo que precisam de fazer”, sublinha.
Adalberto Campos Fernandes salienta ainda a importância, em tempos de pandemia, da receita eletrónica, sem papel, e que hoje atinge 95% da população. “Imaginemos o que seria nesta altura se não tivéssemos feito esse processo de transformação digital”.