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Pandemia de ​Covid-19

Médicos alertam: diarreia ou urticária podem ser sintomas menos comuns da Covid-19

22 abr, 2020 - 23:16 • Tiago Palma

Na revista “British Medical Journal”, especialistas em doenças infecciosas admitem que existam “manifestações menos usuais” da presença de Covid-19, tais como as complicações gastrointestinais e o surgimento de edemas na pele, não devendo os médicos descurar igualmente na sua avaliação as tonturas, arritmias ou mesmo problemas de visão. Em França e na Bélgica já se alerta populações para perda total do olfato e falta de paladar como sintomas.

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Muito se sabe já deste novo coronavírus, que foi detetado no final de dezembro em Wuhan, na China, e prontamente decretado como epidemia (seguindo-se o alerta de pandemia) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) – no começo de janeiro estava partilhada a sua sequência genómica e começava a demanda sem fronteiras para encontrar uma vacina contra a Covid-19.

No entanto, outro tanto continua ainda por descobrir. Desde logo quanto aos sintomas que podem estar associados à doença.

Em Portugal, e segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), a maioria dos infetados apresenta sintomas relacionados com uma infeção respiratória – que é isso que é, afinal, a SARS-CoV-2 –, como seja a febre acima dos 37,5 ºC (37% dos infetados revelam este sintoma), a tosse seca ou com expetoração (52%) e a falta de ar (15%).

A estes sintomas acrescem igualmente as dores musculares (27%), dores localizadas na cabeça ou na região cervical (ou cefaleia, 25%) a fraqueza generalizada (20%) – advertindo, por sua vez, a Organização Mundial de Saúde para outros dois sintomas de infeção: congestão/corrimento nasal e inflamação da garganta.

Nos casos mais graves, sobretudo em pacientes idosos ou pacientes tenham comorbidades associadas (tais como asma, insuficiência cardíaca, diabetes, doenças hepáticas ou renais crónicas, doença pulmonar obstrutiva crónica ou cancro), a Covid-19 pode mesmo resultar em pneumonia grave ou na falência renal e de outros órgãos.

"Deve tratar-se qualquer infeção aguda como possível caso positivo"

Vários países e especialistas em infeciologia estão, porém, a identificar outros sintomas que se admite estarem relacionados com a infeção, nomeadamente a diarreia, vómitos e urticária, ou seja, o aparecimento súbito de um edema na pele.

Em Espanha, por exemplo, o diretor do centro de saúde de San Fermín, em Madrid, diz ao El País que os clínicos “suspeitavam desde o início que haveria outros sintomas”. Embora lembrando que não existe um protocolo para encaminhar pacientes com sintomas não tão comuns, Ricardo González garante: "Quando nos chega alguém com estes sintomas [diarreia e urticária] são reencaminhados para a zona dos cuidados respiratórios [destinadas à Covid-19]".

Por sua vez, o pediatra Aser García Rada, também citado por aquele jornal, adverte que os médicos “ainda estão a aprender como se comporta o vírus”. "Há um mês, associou-se a perda de olfato ao vírus. Há 15 dias, alguns colegas começaram a alertar para a urticária. O problema é que a extensão e a intensidade dos sintomas são muito amplas", explica, lembrando ser fundamental “o tratamento de qualquer infeção aguda como possível caso de Covid-19 até que se conseguia descartar por via de um teste”.

Também na última semana, um editorial da revista médica British Medical Journal, assinado por seis especialistas em doenças infecciosas, alertava para o surgimento de novos sintomas, desde logo as complicações gastrointestinais – sendo a diarreia uma das manifestações iniciais –, podendo até 40% dos doentes com Covid-19 apresentá-las.

Também sintomas do foro neurológico, como as tonturas e o derrame cerebral, problemas cardíacos, como arritmia ou inflamação do miocárdio, e até problemas de visão, nomeadamente a hiperemia conjuntival ou o aumento de secreções, são referidos no editorial.

Assim, os especialistas em infeciologia recomendam na British Medical Journal que os profissionais de saúde não usem apenas a “apresentação sintomática mais típica” para identificar inicialmente a infeção, ignorando “manifestações menos usuais” em doentes que não apresentem sintomas respiratórios ou revelem apenas “sintomas pouco graves”.

Atenção à perda total do olfato e paladar

Também a anosmia (perda total do olfato) e a falta de paladar estão a ser tidos como sintomas frequentes nos pacientes afetados pela Covid-19 na Europa, isto segundo um estudo coordenado por dois médicos otorrinolaringologistas ligados à Universidade de Mons, na Bélgica. Este trabalho, realizado em cerca de 417 pacientes (263 mulheres e 154 homens) infetados pelo novo coronavírus, demonstra que 86% apresenta problemas olfativos e que 88% tem um problema de paladar.

Também em França surgiu o alerta da anosmia pelo Conselho Nacional Otorrinolaringologia. Segundo o seu presidente, Jean-Michel Klein, "há uma ligação evidente" entre a perda de olfato e o SARS-CoV-2, tendo a ausência de olfato sido descrita por vários doentes em França como surgido de forma isolada ou ligada aos sintomas habituais da Covid-19. Jean-Michael Klein sublinhou que "nem todos os casos positivos" de Covid-19 apresentam anosmia, mas "todos os anosmáticos isolados, sem causa local ou inflamação, são casos positivos" de Covid-19.

Em Portugal, morreram 785 pessoas das 21.982 registadas como infetadas, de acordo com a Direção-Geral da Saúde. A nível global, a pandemia de Covid-19 já provocou cerca de 179 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países.

Ainda assim, a DGS sublinha que “a maioria dos casos recupera sem sequelas” e a OMS, lembrando que em torno 80% dos infetados apresenta sintomas ligeiros e recuperam da Covid-19 sem necessitar de cuidados especiais.

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