28 abr, 2020 - 11:00 • Fátima Casanova
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O estado de emergência em que o país está mergulhado há quase um mês e meio tem provocado grandes dificuldades a muitas famílias, principalmente por causa da quebra de rendimentos, afetando as verbas para o ensino. Muitos estudantes do ensino superior privado não têm como pagar as propinas já que as bolsas de estudo não chegam para tudo, nem para todos.
Este é um assunto que os deputados vão levar para à audição, desta terça-feira, com o ministro da Ciência e Ensino Superior.
Está a ser aflitiva a situação de muitos estudantes, principalmente daqueles que estão a poucos dias de completar o curso, mas agora não têm dinheiro para pagar as propinas no ensino superior privado, que podem ascender a várias centenas de euros por mês.
Sem emprego, Vanessa Taveira não sabe como vai fazer, quando lhe faltam apenas três propinas para acabar a licenciatura em Turismo, no Instituto de Novas Profissões, em Lisboa.
À Renascença, confidenciou que a sua “situação económica é muito difícil”, depois de ter perdido um emprego na área do turismo. Este mês ainda conseguiu pagar as propinas, mas o mês que vem não sabe.
Vanessa está a “três propinas de acabar o curso e não sabe se o vai conseguir acabar por razões económicas… infelizmente”.
A colega de curso no Instituto de Novas Profissões, Carina Carvalho, também é trabalhadora-estudante e o que recebe agora, não chega para pagar a propina, pois está em lay-off depois de quatro anos a trabalhar como mediadora de crédito.
Nestas declarações, admitiu que “é totalmente impossível pagar a propina”, porque “neste momento recebe 280 euros e a propina é 326 euros”.
Em tom de desabafo diz lamentar que “nem no trabalho, nem na escola arranjam maneira de ajudar”.
Sem respostas da instituição de ensino está também Tiago Lucas. Saiu de Castelo Branco para estudar gestão no Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa, mas a quebra de rendimentos da família pode colocar em causa a conclusão do curso, devido “ao decréscimo dos rendimentos dos pais, já que a mãe ficou sem emprego”.
No último ano da licenciatura, Tiago disse que “seria muito mau desistir por duas propinas que faltam pagar neste momento”. Afinal, quem não paga fica sem acesso ao portal académico e a todos os conteúdos para acompanhar o ensino à distância.
Nas últimas semanas têm chegado à Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) pedidos de ajuda, como confirmou o ministro. Manuel Heitor destacou que “o atual regime de apoio social a estudantes do ensino superior inclui um para situações de emergência, que tem sido utilizado nas últimas semanas”.
O ministro da Ciência e Ensino Superior garantiu que a DGES tem contatado os serviços sociais de todas as “instituições para ativar o regime de emergência sempre que foi necessário”.
Este auxílio está previsto no regulamento das bolsas de estudo, como explicou à Renascença, Carlos Mesquita, coordenador dos Serviços Sociais da Universidade de Lisboa.
De acordo com o artigo 22. º “podem ser atribuídos aos estudantes auxílios de emergência, de natureza excecional, face a situações económicas especialmente graves que ocorram durante o ano letivo e que não sejam enquadráveis no âmbito do processo normal de atribuição de bolsas de estudo”.
Os estudantes podem ainda pedir a “reapreciação da candidatura à bolsa, para que seja atualizada face aos rendimentos atuais” ou candidatarem-se às bolsas de estudo, até ao dia 31 de maio.
Neste ano letivo já foram atribuídas 8.171 bolsas de estudo só a estudantes matriculados em estabelecimentos de ensino superior privados.
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