08 mai, 2020 - 06:40 • Redação
“As entidades oficiais não têm estado paradas neste período de pandemia e têm efetuado diversas notificações às empresas”.
É nestes termos que uma empresa da área da segurança e saúde no trabalho, presente em alguns dos maiores distritos do país, se disponibiliza, via e-mail, junto das creches, para dar “formação Covid-19”, “atualizar a avaliação de riscos profissionais (AVRP)” ou mesmo desinfetar os espaços; serviços pagos, obviamente, quando as creches ainda nem sequer sabem em que moldes irão reabrir no próximo dia 18.
Em todo o caso, a mesma empresa faz notar que “a avaliação de riscos profissionais, a desinfeção aos espaços e a formação aos trabalhadores” são de “caráter obrigatório” e constam das medidas anunciadas pelo Governo.
Segundo a Renascença apurou, pela formação Covid, em regime de "e-learning" são pedidos por cada trabalhador, 35 euros acrescidos de IVA; pela atualização da AVRP é cobrado o valor único de 75 euros, a que acresce também o IVA.
O custo da desinfeção é orçamentado de acordo com a área a intervir. A empresa em causa sublinha que está apenas a canalizar “informação credível”, nomeadamente com o objetivo de ajudar a “minimizar as coimas associadas a esta situação”.
O acréscimo de custos com a higiene e segurança no trabalho – bem percetível – é mais um problema a juntar ao rol de preocupações com que se debatem as creches, quando faltam apenas seis dias úteis para a reabertura (contando já com esta sexta-feira).
Maria de Fátima Aresta – educadora de infância com vasta experiência, que há poucas semanas questionou o Governo sobre as razões de serem as creches as primeiras a reabrir – volta à carga para lamentar o que classifica de tentativas de “manipulação e de pressão”.
pandemia de Covid-19
Em entrevista à Renascença, a presidente da Associ(...)
A educadora refere-se a várias propostas na área da higiene e segurança que nos últimos dias têm chegado à creche e jardim de infância onde trabalha – o Centro de Atividade Infantil de Évora (CAIE), instituição de solidariedade social (IPSS) criada nos anos 90.
A educadora confirma ter também recebido o e-mail a que também a Renascença teve acesso e confessa ter-se sentido “pressionada e até ameaçada” pelos termos utilizados, e pelo receio de que a ASAE lhe bata à porta e possa aplicar as tais “coimas”.
É mais um fator de preocupação, para esta e outras creches, confrontadas com uma falta de interesse dos pais que, só por si justificaria que se mantivessem fechadas.
“Até agora tenho quatro crianças inscritas para regressar, num universo de 36”, diz Maria de Fátima Aresta, que sabe da existência de creches que chegaram a acordo com os pais para só reabrirem no dia 1 de junho.
É já no dia 18 de maio, mesmo com poucas crianças, que as creches – públicas, privadas ou IPSS – irão reabrir. A data está prevista no plano de desconfinamento publicado pelo Governo, mas “até hoje nem um telefonema da segurança social recebemos”, desabafa Maria de Fátima Aresta, agastada com a falta de informação oficial, sobre os moldes em que as creches deverão reabrir, dada a sensibilidade do momento, em plena pandemia COVID-19.
A educadora confirma que no caso da creche onde trabalha todos os colaboradores foram testados, mas salvaguarda que tal aconteceu graças ao “excelente trabalho que a Universidade de Évora e a Escola de Enfermagem têm feito”.
A educadora do CAIE não tem tido descanso e não terá, enquanto não tiver acesso a toda a informação de que precisa para voltar a receber crianças na sua creche, em condições de segurança. Parte dessa informação poderá ser conhecida nas próximas horas.
Ao que a Renascença apurou, está agendada pera esta sexta-feira uma reunião entre representantes da DGS e da CNIS – Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social. Um dos temas na agenda é a reabertura das creches.
Maria de Fátima Aresta espera que “desta vez não deixem de ouvir os verdadeiros especialistas, aqueles que lidam com a realidade concreta, mas que também investigam e estudam sobre as creches; esses especialistas são os educadores de infância”, conclui.