08 mai, 2020 - 16:20 • Sérgio Costa
Comboios e autocarros lotados, passageiros sem cumprir regras de distanciamento social. A imagem relatada pelo presidente da Câmara da Azambuja permite ao autarca apontar, de imediato, a causa provável para o surto de Covid-19 detetado numa empresa do município.
Em declarações à Renascença, Luís de Sousa sublinha que a Azambuja é o “destino diário de cerca de oito mil e quinhentos trabalhadores provenientes de diversos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa”.
Este facto leva o autarca a colocar a possibilidade de um quadro generalizado de infeção a vários municípios da região.
Para o presidente da câmara, o surto não está circunscrito à Azambuja porque “milhares de trabalhadores regressam a casa noutros municípios e pode haver transmissão a familiares”.
Luís de Sousa lamenta, em declarações à Renascença, o aparente défice de fiscalização nos transportes públicos. Uma falha que, para o autarca, obriga a medidas urgentes, como “o aumento da capacidade dos transportes e uma verificação urgente do cumprimento das regras de proteção”.
Apesar do cenário aparentemente grave que se verifica no concelho, Luís de Sousa prefere, por agora, não se pronunciar sobre a eventual necessidade de uma cerca sanitária. O autarca lembra que essa é uma decisão que cabe às autoridades de saúde e, só depois de haver uma decisão, será possível fazer uma avaliação.
Graça Freitas lembra que "o vírus continua a circu(...)
Essa poderá ser uma questão em cima da mesa na próxima segunda-feira, dia para o qual foi agendada uma reunião com o Governo onde poderá marcar presença o ministro dos Transportes ou o da Economia - a participação do secretário de Estado Duarte Cordeiro é já uma certeza.
O encontro servirá para fazer uma melhor análise da situação e “para resolver a situação dos transportes”.
Luís de Sousa acrescenta ter enviado um convite para as empresas da região para “uma troca de impressões”, reconhecendo que “esta é uma situação que deixa toda a gente preocupada”, afirma.
O autarca lembra que a Azambuja é um dos principais centros de distribuição do país e, por isso, não esconde preocupação com as consequências económicas.
Luís de Sousa admite que a distribuição no sul do país “pode ficar ameaçada” e questiona sobre o impacto de uma “transmissão generalizada num grande armazém”.
Ainda assim, o presidente da Câmara da Azambuja acredita que as grandes empresas que operam na região têm os seus planos de contingência atualizados.
A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, apontou esta sexta-feira o foco da Azambuja como um dos motivos para o aumento do número de casos confirmados de Covid-19 na região de Lisboa e Vale do Tejo.
"De acordo com números da manhã, tínhamos já identificado 104 trabalhadores com teste positivo, sendo que 101 pertencem todos à mesma empresa e nessa empresa já foram todos testados", revelou Graça Freitas.
Portugal regista 1.114 mortos (são mais nove que na quinta-feira, o número mais baixo, em 24 horas, desde 23 de março) e 27.268 infetados (mais 553, o que equivale a uma subida de 2,1%, a maior desde 25 de abril, e mantém a tendência ascendente dos últimos dias) pelo novo coronavírus, segundo o boletim diário da Direção-Geral de Saúde (DGS).
Há um total de 220 concelhos portugueses com, pelo menos, três casos confirmados de Covid-19. Barcelos (+46), Vila Verde (+41), Lisboa (+32), Maia (+32), Matosinhos (+29), Gondomar (+29) e Porto (+26) são os concelhos com maior aumento no número de infetados nas últimas 24 horas, segundo a lista da DGS. De acordo com o mesmo documento, 57 municípios registam, pelo menos, mais um caso confirmado de Covid-19.
Lisboa ocupa o topo da tabela com um total 1. 700 infetados com o novo coronavírus, seguida de Vila Nova de Gaia (1.445), Porto (1.295) e Matosinhos (1.192). Dos 220 concelhos com pelo menos 3 casos confirmados de Covid-19, 164 não registam aumento no número de infetados face ao dia anterior.