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A nova vida das creches em tempos de Covid-19

12 mai, 2020 - 16:00 • Olímpia Mairos

A Renascença visitou uma instituição, em Bragança, que manteve as portas abertas mesmo em estado de emergência e conta-lhe como vai ser a vida das crianças a partir de segunda-feira. “Trabalhar nesta realidade, que limita a nossa ação pedagógica, implica a criatividade”, afirma a presidente do Centro Social de Santa Clara.

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O Centro Social de Santa Clara, em Bragança, com as valências de creche, pré-escolar e centro de atividades de tempos livres (CATL) nunca fechou portas.

A instituição da Congregação das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado disponibilizou-se, logo no início da pandemia de Covid-19, para acolher as crianças das famílias que necessitavam deste apoio. "Por isso, de uma forma ou de outra, estivemos sempre abertos, mesmo se de uma forma bastante diferente, com os serviços mínimos, com toda a segurança possível, mas houve sempre um certo movimento por aqui”, conta à Renascença a irmã Conceição Borges.

A presidente da direção do Centro Social de Santa Clara dá conta de que há“20 crianças inscritas no apoio social, embora diariamente estejam sempre três crianças”, porque, explica “depende muito dos horários dos pais, daquilo que é solicitado às famílias e, por isso, o serviço que prestamos é praticamente um serviço de dia a dia, vendo as necessidades de cada dia”.

O serviço é tutelado pela segurança social. A instituição recebe a relação dos pedidos e depois agiliza os procedimentos, diretamente com as famílias.

“Os pedidos das empresas ou dos lares, das forças de segurança ou dos profissionais de saúde, das famílias que necessitam deste tipo de apoios, uma vez que os pais estão nos serviços essenciais, passam todos pela segurança social. Depois são-nos enviados esses nomes e nós fazemos o contacto telefónico diretamente com as famílias e ajustamos as questões do horário e aquilo que podemos fazer em ajuda às famílias”, explica a religiosa.

Os educadores ao serviço da instituição encontram-se em teletrabalho no apoio às famílias, através do envio de atividades ou em videoconferências. Nas instalações do centro encontram-se três equipas. Trabalham por fases, por semanas. São auxiliares e colaboradores dos serviços gerais.

Crianças brincam nos espaços exteriores

De acordo com a irmã Conceição Borges todas as regras de segurança e normas sanitárias estão a ser comprimidas e com rigor, quer “no contacto com as crianças” quer no contacto entre as funcionárias.

“O espaço que está dedicado ao apoio social, às crianças, é totalmente autónomo de toda a instituição, dos serviços da cozinha, dos serviços da comunidade de irmãs que temos na instituição”, assinala, e diariamente procede-se à medição de temperaturas e promove-se o distanciamento social.

"E o que fazem com as crianças?", perguntamos. A irmã Conceição descreve que “uma das crianças que está em regime de CATL tem aqui as aulas, através da Escola à Distância, e das atividades que lhe envia o professor, uma vez que tem aqui os suportes digitais. Já as outras crianças estão no parque exterior, sempre que é possível, ou desenvolvem atividades com muito menos brinquedos e de maior dimensão, para ser possível a desinfeção e também para estarem o menos perto possível das educadoras”.

No dia em que a Renascença visitou o Centro Social de Santa Clara, as crianças encontravam-se a brincar no exterior, no parque infantil, e foi possível ouvir o som das brincadeiras sob o olhar atento das auxiliares.

Gerir dia a dia, semana a semana

O Centro Social de Santa Clara está preparado para receber mais crianças, já a partir de dia 18, dia em que se prevê a reabertura das creches.

“Continuaremos disponíveis para as famílias que precisam, mas há também teremos a resposta para as famílias da instituição”, assegura a irmã Conceição Borges, reforçando que serão cumpridas “todas as regras que forem solicitadas e segundo as orientações que ainda vão chegar”. Só em creche são 57 crianças. A frequentar a instituição, são cerca de 150 crianças.

“Certamente não virão todas. Atendendo às circunstâncias, alguns pais ainda estão em teletrabalho, as famílias ainda têm receio e vão querer proteger as crianças”, afirma a religiosa, reforçando que na instituição “também estarão protegidas, mas o contexto é diferente”.

“Vamos vendo semana a semana, dia a dia, o que acontece. Mas estamos conscientes de que não teremos essas crianças todas”, assinala.

Sem abraços, mas com máscaras às florinhas

A irmã Conceição Borges considera que “será difícil para as crianças” assimilarem as mudanças a nível de comportamentos e procedimentos.

“Elas devem estar muito preocupadas, porque não nos devem entender a nós, enquanto adultos. Mas nós estamos a fazer os possíveis, dentro do que é solicitado às instituições, para que elas não sejam prejudicadas por causa disto e que tenham tanto quanto possível o seu ambiente natural de crescimento”, explica a presidente do Centro Social de Santa Clara.

A instituição, garante, está a preparar os espaços para “poder acolher as crianças com a maior segurança possível”. Quando chegarem, na segunda-feira, as crianças vão ser recebidas por educadoras e auxiliares com máscaras e na instituição já se pensa em colorir o material de proteção.

“Como as crianças já tiveram a experiência das máscaras, a nível da família e dos amigos e já viram até na televisão, e apesar de serem crianças de creche, penso que não vão estranhar. O que vai faltar mais será o abraço e as brincadeiras”, alerta a irmã Conceição, adiantando que em relação à máscara, vão ver “se passa despercebida, até com florinhas ou com outro tipo de máscaras que não as cirúrgicas”. “Mas logo vemos, com as orientações que surgirem”, conclui.

Socialização. “Evitar aquilo que é um dos critérios de avaliação”

Também para os adultos será difícil “não abraçar”. “Mas o nosso difícil é consciente dos perigos. Já as crianças, talvez não compreendam o porquê. São crianças de creche e do pré-escolar”, observa a religiosa.

A presidente da direção do Centro Social de Santa Clara refere ainda que vão “ter de evitar aquilo que normalmente até é um dos critérios de avaliação, que é saber se as crianças socializam e se brincam”. “De repente, verem-se proibidos de abraçar, não vai ser fácil, mas estamos a ver como gerir toda essa situação e deixar que eles brinquem de uma forma segura”.

Já os profissionais, assinala, “atendendo a todas as circunstâncias, estão um pouco receosos, mas querem dar o seu melhor, porque também querem trabalhar e sentem que o estar em casa, sobretudo em teletrabalho, não os satisfaz enquanto educadores, enquanto professores”.

“Trabalhar nesta realidade, que limita a nossa ação pedagógica, implica a criatividade para contornar esta situação. É sempre um desafio, mas estamos motivados ao trabalho”, conclui a presidente do Centro Social de Santa Clara.

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