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Ricardo Mexia

Retoma da atividade assistencial pode "afetar capacidade" de testes à Covid-19

14 mai, 2020 - 09:06 • Miguel Coelho (entrevista), Inês Braga Sampaio (texto)

Presidente da Associação de Médicos de Saúde Pública alerta para a necessidade de um reforço de meios nos serviços de saúde.

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O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública avisa que o investimento na área hospitalar que o Governo fez, para combater a pandemia do novo coronavírus, não teve reflexo na saúde pública, pelo que, quando a atividade assistencial normal for retomada, o Serviço Nacional de Saúde poderá ficar sem capacidade de resposta. Um dos aspetos em que isso se sentirá é na realização de testes à Covid-19.

Em entrevista à Renascença, no programa As Três da Manhã, Ricardo Mexia mostrou preocupação com o facto de não ter verificado o mesmo investimento na saúde pública que na área hospitalar e assinalou que retomar as consultas nos centros de saúde pode retirar muitos médicos que estavam a trabalhar nos testes, pelo que é preciso reforço.

"Não temos mais recursos humanos, não temos mais meios para responder, por exemplo, à necessidade que vamos ter de fazer o rastreio dos casos e identificação dos contactos. Até agora, contámos com a colaboração, por exemplo, dos médicos de família, que, retomando a sua atividade assistencial normal, deixam de estar disponíveis para colaborar nisto. Julgo que tem de haver uma solução que permita manter esta capacidade de resposta num nível que possa responder ao previsível aumento da procura", sublinhou.

Outra das preocupações manifestadas por Ricardo Mexia, face ao desconfinamento - cujo impacto se prevê que se comece a sentir apenas esta semana - é sobre a atividade individual de cada um. Ou seja, que as pessoas pensem "que já tudo está resolvido" e comecem a "adotar comportamentos que possam comprometer" o que foi feito até agora.

Mais transparência sobre a reunião

Esta quinta-feira, decorre a reunião quinzenal no Infarmed entre responsáveis políticos e especialistas. Na antecâmara do encontro, o sexto desde o início da pandemia mas o primeiro depois do estado de emergência, Ricardo Mexia assume que gostaria de ver maior transparência na informação que é transmitida ao público.

"Quanto mais opiniões diferentes se ouvir, as pessoas podem tomar decisões mais informadas. Podia ser útil que a informação que é transmitida na reunião fosse transparente e todos pudéssemos ter acesso a ela, por forma a que cada pessoa pudesse interpretá-la e contribuir, até, para que ela fosse melhorada", apontou.

O presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública também considera que "haveria interesse em alargar o leque de especialistas", seja por via de um convite para a reunião ou por contributo escrito.

Situação "aparentemente estabilizada"

Sobre as medidas pós-confinamento, cujo impacto "demora a verificar-se", Ricardo Mexia aponta dois aspetos que devem ser tidos em conta.

"Por um lado, a situação epidemiológica, que, até ver, parece ter ficado estabilizada. Tivemos aqueles três dias em torno dos 500 casos novos, o que gerou alguma preocupação, mas entretanto a situação, aparentemente, regressou a próximo dos 200. Também estimamos que é agora que vamos começar a sentir o impacto das medidas."

"Outro aspeto é o que foi feito para dotar o país da capacidade de resposta necessária para esta nova fase. Aí, temos de ter em conta as adaptações que foram feitas pelo Governo, pelos operadores de saúde e por todos os operadores económicos, no sentido de retomar a atividade. Várias delas implicam uma adaptação importante da atividade, portanto podem reduzir o risco de disseminação da doença. Encaramos todos com muita expectativa o que é que isso poderá querer dizer", previu.

Portugal deixou o estado de emergência a 2 de maio e entrou em estado de calamidade no dia seguinte. Segundo o balanço de quarta-feira da Direção-Geral da Saúde, a Covid-19 fez 1.175 mortes, entre os 28.132 casos confirmados. Já foram dadas como recuperadas 3.182 pessoas.

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