22 mai, 2020 - 20:49 • Pedro Mesquita , Filipe d'Avillez
Há enfermeiros, com contrato individual de trabalho, que contraíram a Covid-19, entraram em quarentena, mas ficaram sem qualquer tipo de rendimento.
Por lei, deveriam receber 70% do salário, via Segurança Social, mas até agora não receberam nada.
A denuncia partiu da Ordem dos Enfermeiros mas a Renascença dá agora rosto às queixas.
Ana Rita Mota é enfermeira no Centro Materno Infantil do Porto há 19 anos. A vida mudou desde que ficou infetada, e não apenas no plano da saúde.
“No início do mês de abril iniciei sintomas. O teste foi positivo e desde então mantive-me em casa em isolamento. Há 50 dias que estou em isolamento”, explica.
“A única remuneração que tive foi referente aos primeiros 15 dias de abril, 600 euros, e desde então estou sem salário.”
Segundo esta enfermeira, a Segurança Social tem dito que os atestados médicos foram indiferidos, o que a deixa perplexa. “Ainda estou positiva. Os meus atestados são todos passados corretamente, pelo Centro de Saúde, e não consigo perceber porque é que foram indiferidos.”
“Neste momento não tenho resposta e vejo-me numa situação em que tenho imensas contas por pagar e não tenho qualquer tipo de salário”, conclui.
O mesmo se passa com o enfermeiro Tiago Costa, dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Recebeu apenas 60 euros, e não foi da Segurança Social.
“Eu soube que tinha Covid no dia 28 de março. O último teste que fiz, que veio negativo, foi no dia 28 de abril. Este mês não recebi nada da Segurança Social. Os 60 euros que recebi são relativos a suplementos de meses passados”, diz.
Por fim, Cátia Tavares, também de Coimbra, deveria receber da Segurança Social no final deste mês, mas diz que o processo ainda não deu entrada.
“Foi a 25 de março o primeiro teste positivo e recebi apenas o vencimento em abril. O mês de maio não recebi nada. Devia receber a 28 da Segurança Social, mas não tenho baixa ainda processada”, explica.
“Pelo que sei, as baixas estão a demorar a dar entrada na Segurança Social. Eu tenho dois filhos em casa, menores, vive-se com aquilo que se vai juntando durante o resto do ano, e vamos fazendo o que podemos.”
Se a falha está nos hospitais, na Segurança Social ou em ambos, é um dado que falta ainda esclarecer, mas confrontado pelos jornalistas com a denuncia da Ordem dos Enfermeiros, o Secretário de Estado da Saúde prometeu averiguar o que se passa.
“Com toda a frontalidade e lealdade, nós não temos conhecimento dessa situação relativamente à denúncia da Ordem dos Enfermeiros. De qualquer das formas iremos avaliar e analisar, perceber junto das respetivas instituições e administrações regionais de saúde se há alguma fundamentação e, se não houver, obviamente corrigir”, promete.