26 mai, 2020 - 13:30 • Manuela Pires
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São quase dez da manhã. Na Escola Frei Gonçalo de Azevedo, em São Domingos de Rana, no concelho de Cascais, o silêncio enche os corredores e os pátios lá fora. Quem aqui trabalha estranha a falta do rebuliço dos recreios, do barulho dos alunos. Esta escola é enorme, tem perto de 1.300 alunos, agora só cá estão cerca de 300 do 11.º e do 12.º anos e nem todos ao mesmo tempo.
As turmas foram divididas em turnos e as aulas têm horários desfasados que permitem a permanência de poucos alunos no recinto. Há um grupo que saiu agora mesmo das aulas.
Miguel Fonseca aproveita para tirar a máscara e comer qualquer coisa. “A aula foi de uma hora e meia e faz-se bem. Temos dez minutos de intervalo, o que dá para aliviar a máscara porque dentro da sala fica muito sufocante”, conta, à reportagem da Renascença.
Miguel Fonseca está no 11.º ano e reconhece que com as aulas à distância não se aprende tão bem, por isso, não pensou duas vezes em regressar às aulas.
Tiago Guerreiro tem 18 anos, está no 12.º, e admite que não queria regressar. “Não gostava das aulas à distância, mas sim de estar em casa, no meu conforto, e não fiquei contente por ter de regressar, mas agora já estou habituado”.
Tiago chegou agora à escola, entra mais tarde do que antigamente, mas cedo demais para quem estava habituado a ficar em casa e com as rotinas já definidas. “Acordar tarde, depois a aula síncrona, almoçar, arrumar o quarto, jogar, estudar e voltar a jogar” era o dia-a-dia de Tiago que admite aprender melhor na sala de aula com o professor.
A Filipa Luz é da mesma opinião. A Filipa está no 11.º ano, é a melhor aluna da turma e conseguiu criar rotinas e manter o foco no estudo, mas admite que as aulas presenciais fazem a diferença: “Conseguia tirar as dúvidas nas aulas síncronas, ou através do WhatsApp, mas não se compara com estar numa aula e tirar a dúvida no momento”.
A Filipa tem média de 17,5 valores e sabe que não vai baixar a nota, mas admite “será complicado para alguns melhorarem as notas". "Na minha opinião, não devia mudar muito porque os alunos estão sob uma grande pressão e é complicado exigirem que tenham o mesmo empenho”.
Estes alunos sentem-se confortáveis na escola. Assim que se entra há setas coladas no chão a indicar os percursos de entrada e saída e placards com a indicação das salas que estão a funcionar.
Ao atravessar os corredores ouve-se aqui e ali a voz dos professores, as portas estão todas abertas. Dois meses depois voltam a estar frente a frente com os alunos e foi só assim que perceberam que as aulas à distância de pouco serviram.
O diretor da escola, David Sousa, admite à Renascença que ficou surpreendido e preocupado. “Os professores aperceberam-se que as matérias que foram lecionadas não foram apreendidas pelos alunos. Alguns alunos ficam espantados quando o professor fala num determinado assunto”, descreve.
David Sousa está preocupado com esta situação e também com o futuro próximo. Se a reabertura das escolas serve como uma aprendizagem para o próximo ano letivo, como disse o primeiro-ministro, então, defende o diretor, é necessário adiar para o início das aulas para outubro.
“Não há que ter pressa porque vamos ter os professores a corrigir exames em agosto e o próximo ano letivo vai ser muito diferente dos anteriores”, remata David Sousa que defende que o Ministério da Educação já devia ter enviado para as escolas as orientações sobre como se devem organizar para o próximo ano letivo.
As aulas presenciais para os alunos dos 11.º e 12.º anos foram retomadas a 18 de maio, com obrigação de cumprimento de regras ditadas pela Direção-Geral da Saúde.