28 mai, 2020 - 17:12 • Ana Carrilho
Se esta sexta-feira encontrar as portas das estações do correio fechadas, não receber a encomenda ou a carta que espera, não se admire. Os trabalhadores dos CTT e CTT Expresso podem aderir à greve convocada por todos os sindicatos da empresa. A paralisação repete-se dia 12 e nessa altura o impacto será, inevitavelmente maior: o dia de greve situa-se entre dois feriados e um fim de semana.
Inicialmente, a greve surgiu para contestar a decisão da administração dos CTT de passar a pagar o subsídio de refeição através de cartão, a todos os trabalhadores. Segundo o comunicado da empresa, a modalidade já abrangia cerca de quatro mil funcionários.
No entanto, quem tem salários mais baixos (por vezes, inferiores a 600 euros líquidos) usava frequentemente esta verba (nove euro por dia e quase 200 euros mensais, em condições normais de trabalho) para fazer outros pagamentos essenciais ao seu orçamento familiar. O que vai ter que deixar de fazer já a partir deste mês; a empresa já pagou os vencimentos sem esta verba e está a enviar os cartões aos trabalhadores, que podem usar, mas apenas em supermercados, lojas de produtos alimentares ou na restauração. O problema agrava-se porque, após dois meses fechados por causa da pandemia, há estabelecimentos – sobretudo os mais pequenos – que se recusam a receber através de cartão, já que implicam pagamento de taxas e só posteriormente, a receção do dinheiro.
Em resposta à Renascença, os CTT dizem respeitar o direito à greve, mas não compreender os motivos da paralisação desta sexta-feira e da de dia 12 de junho. Argumentam que esta é “uma de dezenas de medidas para reagir à quebra de proveitos e defesa da sustentabilidade da empresa e que a decisão unilateral de a aplicar surge porque não foi possível um acordo com as Estruturas Representativas Coletivas dos Trabalhadores (ERCT).
Em comunicado, os CTT consideram que a modalidade do cartão-refeição tem interesse para as duas partes: a empresa, que tem uma redução substancial nos custos e os trabalhadores, que poupam, em média, 100 euros anuais no seu IRS.
O presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações (SNTCT), Vitor Narciso, disse à Renascença que o pagamento do subsídio de refeição foi o motivo que levou à convocação da greve por todos os sindicatos dos CTT, mas os trabalhadores confrontaram os sindicalistas com outros motivos de queixa.
A empresa dispensou os trabalhadores agenciados, não renovou contratos a termo, pôs trabalhadores a gozar férias fora do período que estes pretendiam; há carteiros a fazer “dois, três, quatro giros e trabalhadores do atendimento a ser deslocados para outras estações, às vezes, a 20-30 kms de distância. Por outro lado, nas centrais de distribuição ninguém se consegue mexer com um volume tão elevado de encomendas”, enumera o sindicalista, sem esquecer “as pressões a que os trabalhadores são frequentemente sujeitos pelas chefias”.
UGT e CGTP já manifestaram apoio a estas greves cujos efeitos, segundo os CTT, deverão ser pouco sentidos, apenas com “eventual ocorrência de constrangimentos localizados em áreas específicas”. Na área operacional, a empresa tem um plano de contingência articulado para evitar, em caso de necessidade, problemas na operação. E frisa que greve não terá qualquer impacto na distribuição dos vales de pensões.