29 mai, 2020 - 21:30 • Joana Gonçalves
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Uma taxa de contágio superior a 1, o mais elevado número de casos ativos do país e um aumento significativo de infeções diárias são alguns dos critérios apontados pelo primeiro-ministro, António Costa, para o atraso na implementação da terceira fase de desconfinamento na Área Metropolitana de Lisboa (AML).
Portugal prossegue com a reabertura gradual da economia na próxima segunda-feira, dia 1 de junho, com exceção de Lisboa que arranca a meio gás e com regras especiais.
O anúncio foi feito esta sexta-feira pelo primeiro-ministro, em conferência de imprensa. Após o Conselho de Ministros, António Costa adiantou que os centros comerciais e as Lojas do Cidadão vão continuar encerrados na região da Grande Lisboa pelo menos até 4 de junho e será feito um reforço da vigilância epidemiológica em obras de construção civil e trabalho temporário.
Os ajuntamentos estão limitados a 10 pessoas, enquanto no resto do país passam para 20.
Alcochete, Almada, Amadora, Barreiro, Cascais, Lisboa, Loures, Mafra, Moita, Montijo, Odivelas, Oerias, Palmela, Seixal, Sesimbra, Setúbal, Sintra e Vila Franca de Xira são os concelhos abrangidos pelas medidas excecionais.
Depois de uma quebra de mais de nove mil casos ativos no passado domingo, 24 de maio, a que se seguiram dois dias de decréscimo sucessivo do número de doentes infetados com o novo coronavírus, Portugal volta a observar um aumento neste indicador.
A região de Lisboa e Vale do Tejo é aquela que concentra mais infetados, com aproximadamente 4.400 casos ativos de Covid-19 (37%), num total de 11.652 em todo o país.
A atualização dos dados foi feita esta sexta-feira na habitual conferência de imprensa da DGS, pela diretora-geral da Saúde.
"A zona de Lisboa e Vale do Tejo tem cerca de 4.400 doentes ativos, que ainda não foram dados como recuperados. Por sua vez, recuperaram 5.700 e voltaram à sua vida normal. À data, 346 morreram nesta região. É uma situação complexa porque tem diversas causas”, adiantou Graça Freitas.
Loures (+48), Lisboa (+34), Amadora (+29), Odivelas (+16), Seixal (+16), Oeiras (+12) e Almada (+10) são os concelhos com maior aumento no número de infetados nas últimas 24 horas, segundo a lista da DGS. Os sete pertencem à Área Metropolitana de Lisboa e, no seu conjunto, somam 165 novos casos em apenas um dia.
É também na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) que se concentram 323 dos 350 novos infetados de Covid-19: 92% do total em Portugal.
Juntos, Loures, Lisboa e Amadora somam mais 111 casos nas últimas 24 horas.
Graça Freitas deixou, por isso, um apelo à população, principalmente a mais jovem, para que evite concentrações, que se têm verificado na zona de Lisboa e Vale do Tejo e que contribuem para o aumento de casos.
"Nem todos os casos são em obras e empresas, muitos são no seio da comunidade. Há uma tendência para aliviar o comportamento. Ajuntamentos e aglomerados estão contra-indicados. Os jovens têm tendência a ter doença mais ligeira, mas podem transmitir a pessoas mais idosas, grupos de risco, e perpetuar a transmissão. Não se está a conseguir evitar o risco das pessoas se concentrarem noutros espaços ou até ao ar livre. Tem-se assistido à concentração de pessoas para lá do que é desejado", alertou.
"Lisboa e Vale do Tejo é a única região do país onde não se verifica uma descida contínua do número de óbitos, há aliás uma ligeira inversão da curva", informou o deputado Ricardo Batista Leite, do PSD, esta quinta-feira, depois da reunião com os especialistas do Infarmed.
A propósito do atraso no desconfinamento da região de Lisboa, o social-democrata afirmou que "a vigilância epidemiológica é de fundamental importância, assim como eventualmente, para esta região ou pelo menos para alguns dos concelhos, considerar-se o atrasar das medidas prevista para dia 1 de junho".
No final da reunião no Infarmed, também o Presidente da República se mostrou preocupado com "evolução recente" da pandemia de Covid-19 em Lisboa e Vale do Tejo.
A visão global em Portugal "é positiva", mas há "preocupação em relação a evolução recente em Lisboa e Vale do Tejo", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.
"Não se pode falar de descontrolo na região Lisboa e Vale do Tejo, há surtos localizados, conhecidos, com cadeias de transmissão que estão a ser acompanhados e com a preocupação de prevenir", sublinhou o Presidente da República.
A região de Lisboa e Vale do Tejo tem vários focos identificados, em algumas empresas da Azambuja e em três bairros da margem Sul.
Na terça-feira, Graça Freitas adiantou que foram identificados três focos comunitários na área abrangida pelo Agrupamento de Centros de Saúde Almada-Seixal, com um total de 32 pessoas infectadas, 16 dos quais no bairro da Jamaica.
"Seis grandes obras [na zona de Lisboa e Vale do Tejo] concentram cerca de 130 doentes, 340 casos em empresas, como no pólo da Azambuja, em lares e em bairros", acrescentou esta sexta-feira a directora-geral da Saúde.
Apesar do concelho da Azambuja apresentar mais de 70 casos confirmados e concentrar um dos focos identificados pela DGS, o município não entra na lista de concelhos com restrições especiais na terceira fase de desconfinamento apresentada pelo primeiro-ministro, uma vez que não integra a Área Metropolitana de Lisboa.
Impedir que as pessoas se concentrem em cafés é uma das medidas admitidas pelo delegado de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Mário Durval, para contrariar o aumento do número de contágios em bairros mais desfavorecidos da Grande Lisboa.
A associação de moradores de Vale de Chícharos, no Seixal, defendeu esta quarta-feira que o bairro, mais conhecido como Jamaica, deveria ser “isolado” e limitado aos moradores, responsabilizando as “pessoas que vêm de outros concelhos” pelo foco de infeção de covid-19.
Um estudo da Universidade Nova de Lisboa e da COTEC Portugal revela que o pico da pandemia só ocorrerá no final de junho e Lisboa lidera em número de novas infeções.
"Claramente há um surto em Lisboa, esse surto parece estar restringido à região de Lisboa e em particular a um conjunto também limitado de municípios da região o que, por si, também é positivo. Não se trata de uma nova vaga de epidemia que afete toda a região de Lisboa e Vale do Tejo ou mesmo todo o país, está muito confinado a esses municípios", diz à Renascença um dos coordenadores deste estudo, Pedro Simões Coelho.
Segundo os responsáveis pelo estudo, a boa notícia é que a taxa de reprodução da infeção R(t) se mantém pouco acima de 1, o que não indicia a existência de cadeias de transmissão descontroladas, nem antecipa um novo crescimento exponencial da epidemia.
Por outro lado, os modelos que combinam informação epidemiológica com dados sobre a mobilidade dos portugueses – com recurso ao histórico de localização da Google – não indiciam a existência de uma correlação positiva entre o aumento de novos casos e o atual momento de desconfinamento.
Pedro Simões Coelho garante que "não existem diferenças significativas entre as regiões do país, no que diz respeito ao aumento da mobilidade dos portugueses" o que prova duas coisas. Por um lado, "o desconfinamento não trouxe riscos acrescidos ao crescimento da epidemia", mas o caso de Lisboa evidencia que "se não tivermos determinados cuidados facilmente poderão aparecer outros surtos localizados no resto do país".