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Covid-19. Trabalhadores da Cultura enchem Aliados para contestar falta de apoio e precariedade

04 jun, 2020 - 22:00 • Lusa

Profissionais do circo, teatros, bibliotecas, museus, casas de espetáculo e companhias juntaram-se para contestar “a precariedade sistémica que dura há anos no setor”.

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Centenas de trabalhadores do setor da Cultura juntaram-se esta quinta-feira na Avenida dos Aliados, no Porto, para contestar a “falta de apoios e medidas” para o setor e a necessidade de se travar uma “precariedade que dura há anos”.

“Olha a Cultura, olha a Cultura que está na rua para lutar, porque não tem, porque lhe falta orçamento para a salvar” e “Queremos voltar, precisamos de voltar, nunca calados” foram alguns dos apelos feitos por várias centenas de trabalhadores, que hoje ocuparam a Avenida dos Aliados.

Em uníssono, profissionais do circo, teatros, bibliotecas, museus, casas de espetáculo e companhias juntaram-se para contestar “a precariedade sistémica que dura há anos no setor”, garantiu à Lusa Gonçalo Gregório, membro do Sindicato dos Trabalhadores de Espetaculos, do Audiovisual e dos Musicos (Cena-STE).

“Estamos na semana em que supostamente reabriram as salas de espetáculo, mas a maior parte delas não reabriu com programação normal. Isto não significa que as companhias começaram a trabalhar, não significa que os músicos começaram a trabalhar. Isto não é representativo de um retomar da atividade”, referiu, adiantando que o grande problema é “a forma como o Governo vê a cultura”.

“Este é mais um daqueles momentos em que a cultura perde trabalhadores para outras tarefas, que garantem financiamento, direitos laborais e condições de vida e assim se perdem grandes figuras da cultura”, lamentou Gonçalo Gregório.

No chão da Avenida dos Aliados, pequenas bolas vermelhas ditavam a distância social que guias, produtores, técnicos de sala, artistas de teatro, artistas de circo, assistentes de sala, estudantes e tantos outros profissionais mantinham entre si.

Exigindo “medidas de emergência”, “medidas estruturais” e “medidas de apoio ao setor”, vários foram os apelos feitos por associações de profissionais para que a “Cultura não fique para trás e não morra”.

Inês Maia, uma das representantes do Manifesto em Defesa da Cultura e produtora de co coletivo de teatro Pé de Cabra, afirmou que é fundamental usar-se a pandemia da covid-19 “para se refletir sobre a necessidade de medidas estruturais e da situação do setor”.

“Esta crise veio tornar mais emergente a emergência do setor. Já era uma situação precária há décadas e, com esta crise, foi tudo posto a nulo”, salientou Inês Maia.

“Um país sem cultura é só um país porque tem fronteiras” e “Saldo bancário: 3,60 cêntimos” eram alguns dos cartazes que ganhavam espaço numa Avenida dos Aliados que parecia pequena para tantos profissionais do setor.

Vasco Gomes, diretor artístico da companhia Erva Daninha, veio acompanhado da família. A sua filha, Melissa, de 7 anos, ao peito trazia um cartaz, onde se lia: “Artista também tem família”.

“Isto é a nossa vida, que levamos com seriedade, dedicação e todas as condicionantes que precisamos para fazer um trabalho digno, mas temos uma família, temos de pagar contas e temos direito a isso”, salientou Vasco Gomes, acrescentando que a pandemia “revelou” fraquezas do setor “há muito denunciadas”.

Também Marlene Ribeiro, acrobata no circo Flic Flac, marcou presença na manifestação. Há três meses que estão sem trabalhar e sem “qualquer apoio”.

“Tem sido muito difícil. Nós queremos que nos deixem trabalhar, precisamos de trabalhar. É muito complicado viver assim”, confessou à Lusa, adiantando que apenas a Câmara Municipal de Viana do Castelo tem ajudado a companhia composta por 20 profissionais.

“Deram ordem para abrir os espetáculos, mas agora dependemos do licenciamento dos municípios. Se não nos passarem o licenciamento continuamos sem trabalhar”, afirmou a jovem que “nasceu no circo e vive do circo”.

Se nesta manifestação, muitos trabalhadores reivindicavam diretos laborais, como o estatuto do artista, outros tantos reivindicavam “um futuro”, como é o caso de Margarida Queirós.

Estudante na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC), em Lisboa, mas natural do Porto, Margarida Queirós juntou-se às centenas de colegas do setor para “lutar pelo presente e pelo futuro”.

“O maior problema não é estar a estudar, mas, na verdade, para que é que eu estou a estudar. Estamos todos no mesmo barco, tal como eu, estão todos a lutar para termos um futuro melhor”, concluiu.

A manifestação nacional "Parados, Nunca Calados", que se realiza simultaneamente em Faro e Lisboa, foi promovida pelo Manifesto em Defesa da Cultura e pelo Cena-STE.

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