27 jun, 2020 - 00:00
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Há dias, num webinar em que participei, o Pedro Duarte (Microsoft), partilhou alguns dados que dão muito que pensar: foram necessários 68 anos para que a aviação chegasse aos 50 milhões de passageiros, a televisão (que durante anos foi o mais importante veículo de comunicação de massas) já só precisou de 22 anos para atingir os 50 milhões de telespetadores. Mas o jogo Pokemon Go só precisou de 19 dias para atingir 50 milhões de utilizadores.
Se demorar quatro minutos a ler este artigo, fique a saber que, enquanto lia, só no facebook foram publicados mais de 1,2 milhões de atualizações de estado, aderiram 1.600 novos utilizadores, foram carregadas 441 mil fotografias e partilhadas 216 mil ligações. E isto quando sabemos que as gerações mais novas já não frequentam o Facebook. Tente imaginar a atividade global no Instagram, Twitter, TikTok, Linkedin, Youtube, etc… nestes 4 minutos.
O mundo mudou e os nossos jovens estão a mudar com ele. Mas teremos nós, educadores, públicos e privados, compreendido realmente o nível, a dimensão, a extensão e a profundidade da mudança?
Dos alvores da educação 2.0, uma fase longa que se iniciou em finais da década de 90 com a introdução dos primeiros computadores nas escolas, que prosseguiu depois com os quadros interativos, chegámos, há menos de meia dúzia de anos, à educação 3.0, com uma maior massificação de computadores individuais e uma utilização generalizada da internet, que permitiu que a escola pudesse ser continuada em casa. O professor deixou de ter todo o protagonismo na relação educativa, passando a aprendizagem e o ensino a ser intermediados e facilitados por programas e plataformas virtuais. Foi neste estádio da educação que a Covid-19 nos apanhou a todos. Foi a existência de uma educação 3.0 que permitiu que desde 16 de março a maior parte das nossas crianças e jovens não ficassem totalmente ao abandono (como teriam ficado em épocas anteriores).
O mundo, contudo, já é 4.0. Estamos em plena fase de desenvolvimento da quarta revolução industrial. O crescimento de Big Data, o desenvolvimento da Internet das Coisas e dos algoritmos de inteligência artificial conhecerão avanços exponenciais nos próximos tempos e, à medida que estivermos mais ligados entre nós, e ligados aos objetos, e os objetos entre si, mais pressão existirá sobre a Educação.
As escolas produzem hoje terabites de informação não processada e não analisada. Um manancial de conhecimento, pronto para ser colhido e posto ao serviço da educação, do ensino, das práticas pedagógicas, das aprendizagens e, sim também, da socialização. Com salvaguarda das questões de privacidade e de reserva dos dados pessoais, a questão que se coloca é quando irá a educação fazer um uso efectivo da informação sobre os seus alunos; quando vamos ter uma política educativa que coloque a ciência e a tecnologia ao serviço da educação?
Tudo isto vem a propósito dos rankings do ensino secundário que agora conhecemos e do que me parece ser uma constante atitude anti-resultados e informação que parece dominar alguns sectores da sociedade portuguesa. Todos conhecemos as limitações dos rankings como indicador de qualidade de uma escola (o resultado é mais fruto da ação da escola ou das características dos alunos?). Todos sabemos que que não se pode comparar uma escola em que 80% dos alunos são filhos de licenciados com emprego com uma escola em que 80% dos alunos são beneficiários de ação social escolar. Mas daqui não resulta que os rankings não tenham nada para nos dizer. Têm; e muito! Há estabelecimentos de ensino em que centenas de alunos aprendem muito e bem. Há outros, semelhantes, em que isso não sucede. Porquê? Há estabelecimentos de ensino em que, sistematicamente, os alunos têm resultados muito baixos; há outros com alunos semelhante sonde isso não sucede. Porquê? Olhando só para o ensino privado, há estabelecimentos de ensino que, após anos sucessivos de maus resultados, fecharam. Faz sentido! Há outros em que os alunos vão sucessivamente melhorando a sua posição relativa. Chama-se a isto melhoria.
Volvidos quase 20 anos de rankings, era de esperar maior maturidade por parte de todos os se interessam por estas matérias. Não se trata de sobrevalorizar os rankings, mas de deixar de os sub-valorizar. Precisamos de mais e melhor informação em educação, mas temos de deixar de valorizar a informação existente consoante esta confirma ou não a nossa pré-compreensão da realidade; temos de deixar de olhar para a informação de que “não gostamos” como um “ataque” pessoal.
O ponto é este: a introdução de tecnologia 4.0 na escola vai ser uma realidade (vamos ter algoritmos que estimulam a aprendizagem; inteligência artificial ao serviço da educação; crianças e jovens a usar dispositivos para recolher informação relevante para o seu percurso educativo, desenvolvimento pessoal e formação) e daqui vai resultar mais (e melhor) informação. Temos de nos preparar para saber usar essa informação.
*Opinião de Rodrigo Queiroz e Melo, diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo (AEEP)