27 jun, 2020 - 00:05 • Liliana Carona
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Das 550 instituições de ensino, só 18,5% conseguiram que metade ou mais dos seus alunos fizessem um percurso sem chumbos nos três anos de estudos. Entre os concelhos do continente que mais se destacaram figura Aguiar da Beira, que tem um lugar no top 5 ao conseguir que 55,6% dos alunos fizessem o secundário em três anos.
Este concelho é o único, entre os 14 do distrito da Guarda, que conseguiu garantir um percurso de sucesso a mais de metade dos seus alunos.
Leandro Espírito Santo, 19 anos, já não frequenta o Agrupamento de Escolas de Aguiar da Beira - Padre José Augusto da Fonseca, mas foi um dos que contribuiu para os bons resultados no ranking das escolas no ano letivo passado, agora conhecido.
Teve 19 no exame de Português e entrou no curso que queria, a Licenciatura em Línguas Modernas, da Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra, com média de 17,2 valores, mas nem por isso esquece o secundário.
“Havia tempo para tudo, para brincar, estudar e todo o esforço foi recompensado, foram bons momentos e sempre que chego da universidade venho visitar os professores, os funcionários e os colegas mais novos”, refere Leandro, abraçando uma dessas colegas, Inês Gonçalves, do 10.º ano, que confirma que os professores estão sempre disponíveis por email ou até por telefone.
A Renascença divulga o ranking interativo das esco(...)
“Estamos em casa, por exemplo, e surge uma dúvida. Mando mensagens à professora Elisabete Bárbara, e ela até me liga de volta para me explicar. E com os outros professores é igual”, garante a jovem.
Inês acaba de ser uma das vencedoras do concurso de ideias “BI 2047”, no âmbito da candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, na qual passará a ser mandatária da juventude do distrito.
“O que imaginas ser a melhor herança da Capital Europeia da Cultura em 2047?”, foi o mote para a iniciativa destinada aos alunos dos agrupamentos escolares dos 17 municípios da região que integram a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027. Inês apresentou um projeto que “propunha a transformação dos espaços desabitados em espaços naturais com alojamento para os turistas”, descreve.
A professora Elisabete Bárbara, diretora do Agrupamento Escolar de Aguiar da Beira desde 28 de junho de 2017, conta que o estabelecimento tem 540 alunos, desde o pré-escolar até ao 12.º ano. Mais de 100 frequentam o ensino secundário e mais de metade completou o secundário sem chumbar e com nota positiva nos dois exames trienais.
O sucesso para a também docente de Português é a massa humana. “Se calhar até há escolas com mais meios técnicos, mas o que faz a diferença são as pessoas. O ambiente de trabalho, a massa humana, o espírito de abertura permanente e o espírito de humanidade, da consciência que somos pessoas. Os recursos são importantes, mas não são os recursos que mantêm relações nem conversam com alunos”, considera, reforçando que está sempre disponível.
"Se é que há segredo, é o trabalho e a motivação. A motivação do corpo docente, quando as pessoas gostam do sítio onde trabalham tem de ter implicações positivas nos alunos”, defende Elisabete Bárbara, sublinhando, que se não a apanham por email, telefonam-lhe.
"Acho que somos uma grande família e os resultados resultam desse à vontade, com respeito. Os alunos são educados no verdadeiro sentido da palavra, não nos preocupamos só com a parte académica, com os resultados e inteligência académica, há valores, o respeito, a partilha, a solidariedade, tentamos formar cidadãos do ponto de vista integral”, esclarece.
E são esses cidadãos que, anos mais tarde, regressam à escola onde cresceram como alunos e como pessoas, que sentem saudades. “Até tive uns alunos que saíram e pediram-me uma aula para matar saudades, uma aula de revisão dos Maias”, sorri a diretora do Agrupamento de Escolas de Aguiar da Beira, sem deixar de admitir que “é uma escola que sofre com a interioridade, é uma escola pequena, embora sejamos procurados por alunos de concelhos vizinhos”.
Como todas as escolas, a de Aguiar da Beira não passou ao lado do impacto da Covid-19. “Estamos a cumprir com o ensino a distância através da plataforma Teams e mantemos a atividade, tirando o caso dos alunos 11.º e 12.º com aulas presenciais. No nosso caso, tivemos nove casos de alunos com dificuldades em casa para aceder a tecnologias, mas foi resolvido, com a ajuda dos professores. Claro que há sítios em que a rede não é tão boa”, lamenta.