27 jun, 2020 - 00:00 • Fátima Casanova
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O Governo queria ter mais de metade dos alunos do ensino secundário nas vias profissionalizantes, mas o número de estudantes que optam pelos cursos profissionais continua a não descolar.
Segundo os dados divulgados pelo Ministério da Educação, ainda não foi no ano letivo 2017/18 (último ano com dados apurados) que o número de matriculados nos cursos profissionais ultrapassou os que estavam inscritos em 2013/2014, ano em que a Direção Geral de Estatísticas da Educação e Ciência começou a disponibilizar os dados relativos ao ensino profissional.
De facto, nesse período, os cursos profissionais perderam 439 alunos, enquanto os cursos científico-humanísticos, vocacionados para o acesso ao ensino superior, ganharam 1.681 alunos.
A fasquia dos 50% nos cursos profissionais, frequente em muitos países europeus, tinha sido apontada como uma meta pelo Governo PSD/CDS (2011-2015), quando Nuno Crato era ministro da Educação.
O Governo PS, que lhe sucedeu, traçou um cenário mais ambicioso, estabelecendo como objetivo ter mais de metade dos alunos do secundário, no ensino profissional, meta, que, no entanto, nunca foi alcançada.
Na mudança de Governo, o mesmo PS, na mais recente atualização do Programa Nacional de Reformas (abril 2019), deixou cair as metas, optando por sublinhar a aposta forte na qualificação dos jovens, a melhoria da rede de ensino profissional de acordo com as necessidades locais/regionais, assim como um reforço dos recursos humanos nesta via de ensino.
De acordo com os dados relativos ao ano letivo 2017/2018, os alunos do ensino secundário inscritos em cursos profissionais têm mais sucesso nas escolas onde existe apenas esta oferta do que aqueles que estão em estabelecimentos onde coexistem os cursos científico-humanísticos, como acontece nas secundárias públicas.
Dos 100 estabelecimentos com ensino profissional com melhor desempenho, 60 são escolas exclusivamente profissionais, que na maior parte dos casos são privadas.
Em quatro delas, todos os alunos conseguiram completar o ensino profissional em três anos, ou seja, sem chumbar no percurso do ciclo de estudos e todas elas garantiram também um percurso acima da média nacional na ordem dos dois dígitos.
Destaque para o Colégio Bissaya Barreto, em Coimbra, que conseguiu que os seus alunos tivessem um desempenho 37% acima dos seus colegas do país que, ao entrarem para o ensino profissional, tinham um perfil semelhante, em termos de idade e de apoios da Ação Social Escolar. De resto, esta escola está num município onde 70% dos alunos concluíram o ensino profissional sem repetências.
Em 73% das 588 escolas (só foram consideradas as que tinham mais de 15 alunos), metade ou mais dos alunos concluíram o curso em três anos. Já em 157 escolas mais de metade dos alunos não conseguiram concluir o ensino profissional nos três anos do ciclo de estudos.
À Renascença, o presidente da Associação Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO), José Luís Presa, explica que o facto de os alunos terem mais sucesso na conclusão do secundário nestes estabelecimentos de ensino, deve-se sobretudo ao quadro docente que “vem diretamente das empresas para assegurarem as formações mais técnicas”.
Os dados do Ministério da Educação revelam que 42.110 alunos têm 18 ou mais anos, o que corresponde a 38% dos jovens que frequentam o ensino profissional.
É mais do triplo do que acontece nos cursos científico-humanísticos. Nesta via de ensino, vocacionada para o acesso ao ensino superior, apenas 12%, dos alunos acabam o secundário com mais de 17 anos.
Ao nível da distribuição por sexo, repetem-se os mesmos números do ano letivo anterior (2016/2017), com 58% de homens e 42% de mulheres.