08 jul, 2020 - 09:19 • Fátima Casanova
Veja também:
As chamadas “festas covid”, organizadas por jovens, continuam a ser uma preocupação para as autoridades. O presidente do Conselho de Escolas Médicas Portuguesas alerta para as consequências desta doença também nos mais novos e sublinha para a necessidade de adotar comportamentos defensivos.
Ainda há muito por saber sobre o novo coronavírus, por isso, todos os cuidados são poucos: o distanciamento social, o uso da máscara e a higienização das mãos são fundamentais para prevenir o contágio. Gestos simples, que, no entanto, não estão a ser cumpridos por muitos jovens que por estes dias se juntam em festas, o que “é completamente errado e irresponsável”, diz à Renascença o Professor Fausto Pinto.
O também diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa explica que essas festas trazem “consequências, não só para as pessoas envolvidas, mas também para familiares e outras pessoas com quem contactam, para além de iniciarem novas cadeias epidemiológicas”.
Este especialista diz que o argumento da procura de imunidade de grupo, utilizado por muitos jovens para promoverem as festas, não tem qualquer sentido.
“É claro hoje que não é possível termos, por via natural, imunidade de grupo através da infeção das pessoas.” Segundo Fausto Pinto, esta “só poderá vir a ser atingida se houver uma vacina”.
O facto de se ser jovem, não ter fatores de risco, e desenvolver a doença mesmo que de forma ligeira, o infetado pode manter os sintomas por cinco ou seis semanas. O desconhecimento ainda é tanto que “não se sabe porque há pessoas que desenvolvem as formas mais graves da doença e outras não”.
O especialista alerta para as sequelas: cansaço e problemas respiratórios. “Em termos de recuperação houve pessoas que perderam muito peso e perderam a sua capacidade muscular.”
É “preciso adotar comportamentos muito defensivos em relação ao vírus” sobre o qual ainda está muito por saber. Para Fausto Pinto “esta é uma doença que não é para se apanhar, esta não é uma doença que nós queiramos ser infetados para resolver o problema e ficar imunizados”.
Face à perigosidade do vírus, este especialista não tem dúvidas em dizer que o desconfinamento “foi feito de uma forma um bocadinho atabalhoada, deveria ter sido mais tardio e mais lento”.
Na sua opinião faltou reforçar as equipas de saúde pública, falhou a articulação hospitalar e as autoridades também deram sinais errados.
Por isso, destaca a “forma um pouco displicente como foram autorizados alguns tipos de manifestações, espetáculos com milhares de pessoas, isto dá para a população uma imagem de alguma leveza, de um otimismo exagerado”.
Em Portugal, morreram 1.629 pessoas das 44.416 confirmadas como infetadas, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.