11 jul, 2020 - 13:49 • Filipe d'Avillez
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A Secção Regional do Sul (SRSul) da Ordem dos Enfermeiros (OE) alerta para o perigo de surgirem mais surtos de Covid-19 em lares de idosos.
Num comunicado enviado este sábado à Renascença, a SRSul diz que aumento de casos de Covid-19 em lares não surpreende. “No nosso País, quase um terço do total dos óbitos associados à infeção pelo novo coronavírus (1646 esta sexta-feira) correspondam a utentes” de lares.
“A SRSul, no âmbito das suas competências legais, tem visitado nos últimos quatro anos dezenas de Lares com o objetivo de verificar o modo como se processam e organizam os cuidados de Enfermagem prestados aos Idosos. A SRSul conhece a realidade e tem denunciado muitas situações causadoras de risco para a segurança dos profissionais e dos utentes.”
A organização alerta “com base na sua experiência do terreno, que situações semelhantes à ocorrida em Reguengos de Monsaraz poderão repetir-se”.
Em particular, os enfermeiros apontam o facto de os lares, “na sua generalidade, continuarem a funcionar com os recursos humanos abaixo do mínimo exigido” e de “continuarem a violar a lei no que toca número de Enfermeiros contratados.”
“Perante esta generalizada falta de Enfermeiros”, diz ainda o comunicado “os ajudantes de lar, a mando dos responsáveis”, continuam “a assumir funções que são próprias do profissional de saúde”.
“É necessária uma atenção especial a estes idosos institucionalizados, são os nossos pais, os nossos avós, não os podemos deixar ao abandono, são uma franja da população particularmente vulnerável ao contexto epidemiológico que vivemos. O número de utentes mortos”, lamenta o comunicado, “é demasiado elevado. Mas se nada mudar, a tragédia vai seguramente permanecer.”
Em declarações à Renascença, o presidente do Conselho Diretivo Regional, Sérgio Branco, diz que o lar de Reguengos não tinha um plano de contingência bem feito.
"Vamos ter mais situações destas, ou seja, estes lares não podem só e apenas dar resposta àquilo que é a diversidade social destes idosos. Têm de ter uma vertente de saúde também, bem construída, com o número de enfermeiros que legalmente está determinado para esses lares, para dar também uma resposta preventiva de situações como esta que aconteceram. Porque aquilo que nós soubemos do lar de Reguengos é que não havia um plano de contingência minimamente lógico dentro daquilo que eram as orientações da Direção-geral de Saúde. Havia circuitos de infetados e indivíduos sãos que se misturavam e isto de facto promove a propagação da própria infeção, e não a sua contenção", denuncia.
Uma funcionária do lar onde teve origem o surto de Covid-19 de Reguengos de Monsaraz recebeu na sexta-feira um teste positivo, depois de quatro resultados negativos entre 18 e 28 de junho, informou este sábado o município alentejano.
A profissional da Fundação Maria Inácia Vogado Perdigão Silva (FMIVPS) encontrava-se em vigilância ativa na sua residência desde 22 de junho e é o único novo caso positivo a registar na atualização do boletim epidemiológico divulgado hoje pela Autoridade de Proteção Civil de Reguengos de Monsaraz, distrito de Évora.
Apesar do novo teste positivo, o número de casos ativos do surto diminuiu para 130 (eram 131 na sexta-feira), o que se explica com dois novos casos curados na comunidade, que elevam para 16 o número total de casos curados relacionados com este surto.
Foi também o terceiro dia consecutivo sem registo de novos casos de infeção na comunidade e o segundo sem registo de qualquer vítima mortal num surto que já causou a morte a 16 pessoas (14 utentes, um funcionário do lar e uma pessoa da comunidade).
Assim, no que diz respeito ao lar da FMIVPS mantêm-se 66 casos ativos (14 óbitos) entre os utentes e 20 entre os profissionais (um óbito e cinco curados), enquanto na comunidade há a registar 44 casos ativos (um óbito e 11 curados).
[Notícia atualizada às 16h34]