22 jul, 2020 - 11:29 • Marta Grosso , Fátima Casanova
Numa altura em que pouco se sabe ainda sobre o novo coronavírus e em que o futuro próximo é incerto, Miguel Xavier, diretor do programa nacional para a saúde mental, deixa um alerta: podem subir os casos de ‘burnout’ entre os profissionais de saúde.
“Enquanto não houver uma vacina ou um tratamento, este processo de confina/desconfina vai continuar, de maneira que os profissionais de saúde estão debaixo de uma pressão enorme e é perfeitamente normal que se vão cansando e que surjam situações, mais cedo ou mais tarde, de 'burnout'”, afirma na Renascença, nesta quarta-feira em que se assinala o Dia Mundial do Cérebro.
Os profissionais de saúde são uma das linhas de preocupação. Duas outras são as pessoas que, já antes da pandemia, tinham perturbações psiquiátricas e os idosos.
“Foram obrigados a um confinamento e, se já é complicado para nós, para as pessoas idosas o confinamento é ainda mais complicado”, afirma o especialista.
Na população em geral, o confinamento provocou um aumento dos sintomas de natureza depressiva e ansiosa – algo “perfeitamente esperável”.
“Aumentaram os sintomas de natureza ansiosa, os sintomas de natureza depressiva e as pessoas começaram a dormir pior. Para isso, contribuíram vários fatores, entre os quais a exposição a que todos fomos sujeitos, durante o mês de março/abril, às imagens que nos chegavam de Itália e de Espanha, que de facto eram aterrorizantes”, afirma Miguel Xavier.
Os cálculos são de um estudo elaborado para a Orde(...)
Mas a incidência destes sintomas tem vindo a diminuir, acrescenta o diretor do programa nacional para a saúde mental, que elogia a resposta dada neste campo desde o início da pandemia.
“Ao nível de pré-cuidados de saúde, nas juntas de freguesia e nas várias linhas telefónicas criadas”, a resposta surgiu “de uma forma muito rápida e espontânea”, afirma.
Há, contudo, um aspeto que cria inquietação. Segundo um relatório da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), “há atrasos nos atendimentos de primeira consulta”.
“Essa é uma preocupação que temos de ter na área da saúde mental. O número de acesso pela primeira vez diminuiu e tem de ser recuperado”, sublinha Miguel Xavier. O mesmo para as outras especialidades que tiveram uma quebra por causa da pandemia, acrescenta. “É extensível a todos os outros campos da medicina”.
O Dia Mundial do Cérebro foi instituído em 2014 pela Federação Mundial de Neurologia (World Federation of Neurology – WFN) com o objetivo de chamar a atenção para o papel do cérebro na nossa vida e promover a sua saúde. O cérebro foi então apresentado como um órgão mágico, centro da alegria e da tristeza.