23 jul, 2020 - 20:15 • Sandra Afonso
Na contagem decrescente para o debate o Estado da Nação, o impacto económico da pandemia de Covid-19 e a resposta do Governo à crise que assola o país deverão marcar a discussão no plenário. Da esquerda à direita ninguém nega o período de instabilidade que se avizinha, mas que indicadores sustentam este receio?
Do turismo ao desemprego, a Renascença apresenta-lhe uma radiografia do país, em sete pontos.
1 - TURISMO AO ABANDONO
É um dos sectores mais afectados pela crise pandémica, começou a sangrar com as medidas de confinamento e continua a perder receitas com a falta de confiança dos turistas e a inclusão de Portugal nas listas de destinos não recomendados para férias, que estão a ser apresentadas por vários países.
Em Maio, as receitas turísticas representaram 260 milhões de euros, o valor mais baixo alguma vez registado neste mês. Apresentado como um sector chave para a exportação, o turismo representou quase 35% das exportações de serviços neste mês, mas um ano antes valia metade, segundo o Banco de Portugal.
São dados visíveis na queda da actividade turística, que nalguns casos parou completamente em maio. Segundo o INE, afectou mais de 70% dos estabelecimentos. As dormidas de residentes diminuíram 85,9% e as de não residentes foram quase inexistentes, caíram 98,4% face a maio de 2019.
Só nos primeiros cinco meses deste ano o sector já registou uma quebra de 58% nos hóspedes, fizeram chek-in 3,9 milhões de pessoas.
2 - EXPORTAÇÕES AFUNDAM
As exportações portuguesas afundaram quase 40% em maio, face ao mesmo mês do ano anterior. É uma queda semelhante ao mês anterior e, mais uma vez, uma consequência directa da pandemia nas trocas comerciais internacionais.
As quebras abrangeram tanto o comércio intra como extra União Europeia e foram transversais a todas as categorias de produtos.
A produção automóvel está entre as quedas mais expressivas, num sector em que a esmagadora maioria da produção (98%) é para exportar. Portugal produziu metade do que tinha registado em maio do ano passado, é um corte de 100 mil veículos nos primeiros cinco meses do ano, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Isto numa altura em que a Autoeuropa já tinha retomado a produção, ainda que de forma parcial.
Contas feitas, segundo o INE em maio deste ano as vendas totais ao exterior estavam a cair 39%, enquanto há um ano subiam 9,8%.
3 - PIB NEGATIVO
É o pai de todos os indicadores, reflecte tudo o que está a acontecer no país, bom ou mau, concentrado num número que nos indica se a economia está a crescer e a que velocidade. Quando a tendência é de descida ou chega ao vermelho: “Houston, we have a problem”.
É neste ponto que nos encontramos. Nos primeiros três meses do ano, o Produto Interno Bruto já estava a cair 2,3%, segundo o INE (que compara com uma subida de 2,4% no primeiro trimestre de 2019), e não deve ficar por aqui.
Explicador
“Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Eco(...)
O governo já corrigiu as contas, a estimativa inicial para este ano, que apontava para um crescimento de 1,9% no Orçamento de Estado de 2020, já passou para uma queda de 6,9% no Orçamento Suplementar.
Não só o país não está a produzir riqueza, como perde rendimento.
4 - DÉFICE E DÍVIDA ANDAM PARA TRÁS
Portugal anda a perder os anéis. O famoso excedente de 0,2% conseguido pelo ex Ministro Mário Centeno passou agora para uma previsão de défice de 7%, já admitida pelo sucessor, o novo Ministro das Finanças, João Leão.
A dívida pública deverá passar de 116% para mais de 134%, o valor inscrito no Orçamento Suplementar, que representa um novo recorde.
5 - PAÍS NA PENHORA
O endividamento da economia atingiu um novo recorde, já ultrapassa os 740 mil milhões de euros. Para este número contribuíram as famílias, as empresas e o Estado, que só em maio se endividaram em mais seis mil milhões de euros. Foi o segundo mês seguido em que a dívida da economia aumentou, em resposta à crise pandémica.
De acordo com o Banco de Portugal, no espaço de um ano, a economia acumulou mais 11,5 mil milhões de dívidas.
Do total acumulado, 333,7 mil milhões de euros respeitavam ao setor público e 407 mil milhões ao setor privado.
6 - FAMÍLIAS AFLITAS
Mais endividadas, com menos emprego e menos perspectivas de futuro.
Com as moratórias, prolongadas até março de 2021, muitas famílias adiaram o pagamento das prestações, o que significa que acumularam para curto prazo mais encargos. Estão nesta situação pelo menos 475 mil, é o número de moratórias aprovadas a particulares, segundo os últimos dados do Banco de Portugal.
Os níveis de poupança também se agravaram, o INE refere que o grau de poupança dos agregados em maio era de 12,6%, abaixo dos 13,7% registados um ano antes.
Tudo isto se complica com o lay off simplificado, que tudo indica deverá ser prolongado após julho de 2021 e tem sido a medida mais utilizada pelas empresas. Para os trabalhadores representa a manutenção dos postos de trabalho, mas vem também com perda de parte do salário.
7 - DESEMPREGO NO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS
Onde param os desempregados? Com as insolvências a subir e actividade económica praticamente parada em alguns sectores, é certo que aumentam também os desempregados, mas eles não se vêm nas estatísticas.
O INE aponta em Maio para uma descida da taxa de desemprego para 5,5%, uma diminuição de 2,2% relativamente ao mês anterior e de 4,0% em relação a três meses antes e ao mesmo mês de 2019.
De fora das estatísticas oficiais fica a chamada Taxa de subutilização do trabalho, que inclui quem está sem trabalho e não é contabilizado como desempregado pelo INE.
Já nos centros de emprego os números continuam a aumentar, mas aqui a contabilização é feita de outra forma. O IEFP tem em conta as inscrições de pessoas à procura de emprego.
De acordo com os dados divulgados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério de Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, os desempregados inscritos no Continente atingiram os 381,6 mil indivíduos em junho, o que representa um crescimento homólogo de 38,3%. Voltaram a subir para 389 mil indivíduos até 7 de julho, o que traduz um aumento de 41,3%, face ao final de julho de 2019.