12 ago, 2020 - 23:06 • Inês Rocha com Lusa
O dirigente da associação SOS Racismo, Mamadou Ba, promete reforçar ainda mais a luta antirracista, depois das ameaças de que foi alvo por uma organização de extrema-direita.
Mamadou Ba assume estar preocupado com as ameaças diretas à integridade física dos ativistas visados e das respetivas famílias.
“A preocupação é real, quero lembrar que há poucas semanas foi assassinado o Bruno Candé em plena luz do dia. O racismo mata. Obviamente que quando uma ameaça assume esse tom, depois daquela demonstração do Ku Klux Klan em frente à nossa sede, só podemos estar preocupados. Por nós próprios, pelas nossas famílias, pelas organizações que representamos”, assume, em entrevista à Renascença.
Ainda assim, o dirigente considera que “o medo não salva ninguém de nada, o medo paralisa”. E promete não deixar de lutar contra o racismo em Portugal.
“Nós não queremos ter nenhum mártir, mas não vamos deixar de fazer o que temos vindo a fazer. Para nós, estas ameaças são motivo para fazer ainda mais luta antirracista. Porque significa que faz falta, tem sentido e é uma garantia de que a nossa democracia pode sobreviver e tem de ser defendida”, afirma o ativista.
A PJ está a investigar. O Bloco de Esquerda diz es(...)
No e-mail dirigido à SOS Racismo, é dado um prazo de 48 horas para que dez pessoas abandonem Portugal, incluindo dirigentes da organização, duas deputadas do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua e Beatriz Gomes Dias, e a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
“Sendo o prazo ultrapassado, medidas serão tomadas contra estes dirigentes e os seus familiares, de forma a garantir a segurança do povo português”, lê-se no e-mail.
Com data de 11 de agosto, a mensagem de correio eletrónico foi enviada, a partir de um endereço criado num site de e-mails temporários, para a SOS Racismo e é assinada por “Nova Ordem de Avis – Resistência Nacional”, a mesma designação de um grupo que reclamou, na rede social Facebook, ter realizado, de cara tapada e tochas, uma “vigília em honra das forças de segurança” em frente às instalações da SOS Racismo, em Lisboa.
Mammadou Ba diz que este ato de “terrorismo político” prova que a extrema-direita portuguesa existe, “ao contrário do que se diz”. O ativista considera “absolutamente inacreditável que estejamos a assistir a uma coisa destas em pleno século XXI”.
“Estamos neste momento não apenas em ameaça do ponto de vista físico, da nossa integridade física, mas está aqui em causa a ordem constitucional e a própria democracia”, afirma.
A Polícia Judiciária (PJ) está a investigar o caso. A SOS Racismo fez uma denúncia, na terça-feira, após ter recebido o e-mail com a ameaça, cerca das 20 horas, confirmou à Renascença José Falcão, dirigente da associação. A PJ esteve na sede da associação esta quarta-feira, no âmbito da investigação.
Fonte do Bloco de Esquerda adianta que está a elaborar uma queixa ao Ministério Público, já que duas das visadas são Mariana Mortágua e Beatriz Gomes Dias, deputadas bloquistas.
Foram também visados a deputada não inscrita Joacine Katar Moreira e nomes ligados a movimentos antirracistas, antifascistas e sindicais.
O Livre defendeu, na quarta-feira, que deveria ser “veementemente condenada” qualquer tentativa de “silenciar ou intimidar ativistas, políticos ou qualquer outra pessoa”, na sequência de ameaças que elementos da associação SOS Racismo e deputadas receberam.
“É imperativo que todas as forças políticas democráticas repudiem estes ataques fascistas, e que seja veementemente condenada qualquer tentativa de silenciar ou intimidar ativistas, políticos ou qualquer outra pessoa, com base no racismo, homofobia, na xenofobia ou em qualquer outra forma de discriminação”, explicita um comunicado divulgado pelo partido.
O Livre também faz um apelo para que todas as forças políticas democráticas “se juntem no combate antifascista e antirracista”, advogando que está em causa a “defesa da democracia e da liberdade”.
“O ataque dirigido a deputadas nacionais, sindicalistas, militantes antifascistas e antirracistas e outros ativistas e políticos é vil, sem lugar numa sociedade plural e democrática”, acrescenta a nota.