28 ago, 2020 - 19:02 • Eunice Lourenço , Sérgio Costa
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A Presidência da República gastou 21 mil euros em testes laboratoriais à Covid-19 decididos em março, quando a visita de uma escola de Felgueiras ao Palácio de Belém levou o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa, a colocar-se de quarentena. Foram feitos 239 testes, todos com resultado negativo.
O contrato foi feito com laboratório privado, uma vez que não estavam em causa situações que cumprissem os critérios definidos pela Direção Geral da Saúde para testagem: contacto próximo com infetados e apresentação de sintomas.
O contrato foi celebrado em maio e publicado a 18 de agosto no portal de contratos públicos. Mas, segundo os esclarecimento enviados à Renascença pela Presidência, os testes foram decididos em março.
“No quadro das medidas de contingência da Covid-19, foi decidido ainda em março realizar testes a todos os colaboradores da Presidência da República em contacto direto com o titular do Órgão de Soberania”, respondeu a Presidência da República às perguntas enviadas pela Renascença sobre as circunstâncias e as razões para este contrato.
Logo no início de março, no dia 8, o Presidente da República decidiu colocar-se de quarentena, na sua casa de Cascais, depois de ter estado uns dias antes, no Palácio de Belém, em Lisboa, com uma turma de uma escola de Felgueiras (Porto), que tinha sido encerrada devido ao internamento de um aluno devido à doença.
O primeiro caso de Covid-19 em Portugal foi divulgado a 2 de março, a turma de Felgueiras tinha estado em Belém no dia seguinte, dia 3, e no fim-de-semana a Direção-Geral de Saúde anunciou que todas as atividades letivas, culturais e de lazer estavam suspensas em Felgueiras e Lousada. Nessa altura, havia 30 casos de Covid confirmados em Portugal.
O facto de um dos casos dizer respeito a um aluno não da turma que tinha estado em Belém, mas da escola a que essa turma pertencia, levou o Presidente – que ainda na véspera tinha ido a um evento no Teatro de São João, no Porto, e tinha visitado o Hospital de São João – a colocar-se em quarentena e a fazer o teste à Covid-19. Na altura, o Governo foi questionado sobre as razões para Marcelo fazer o teste, uma vez que não correspondia aos critérios definidos para a realização de testes: ter sintomas de infeção, como febre ou tosse.
Foi o próprio primeiro-ministro, António Costa, a defender a realização do teste presidencial. "Vamos lá ver, Presidente da República há só um. O Estado tem que assegurar a sua continuidade, o seu funcionamento. E é primeiro dever do Governo assegurar a continuidade da atividade do Estado e, naturalmente, a saúde do senhor Presidente da República", afirmou António Costa aos jornalistas já depois de ser conhecido o resultado negativo do primeiro teste feito por Marcelo.
Na altura, o chefe do Governo recordou que Marcelo tinha mantido "diversos contactos com diversas pessoas" e que "tratava-se não só da saúde do próprio, do funcionamento institucional do país, mas também da saúde de todos aqueles com quem mantém, como é seu hábito, um contacto próximo e bastante afetivo".
Apesar de se tratar de uma situação de baixo risco, a Presidência decidiu que fossem feitos testes a todos os colaboradores que tinham tido contacto com Marcelo. “Com a supervisão do Serviço de Apoio Médico, tendo sido realizados 239 testes, nenhum deles tendo dado resultado positivo, tendo-se assim dado cumprimento integral ao contrato estabelecido com o prestador de serviços”, esclarece a nota enviada à Renascença.
Entretanto, desde março Marcelo Rebelo de Sousa tem feito testes regulares à infeção por Covid-19, como assumiu em entrevista à Renascença. Só na sequência da sua ida a Porto Santo, o Presidente fez mais dois testes, mas disse ao Correio da Manhã que paga os seus testes do próprio bolso.