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Covid-19

“É possível evitar uma segunda onda”. Os especialistas sobre a epidemia em Portugal

07 set, 2020 - 15:24 • Joana Gonçalves , Inês Rocha

Arrancou esta segunda-feira o novo ciclo de reuniões entre políticos e especialistas, para acompanhar a pandemia de Covid-19 em Portugal.

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Metade dos casos confirmados de Covid-19 em Portugal, entre 17 e 30 de agosto, são assintomáticos, revelaram esta segunda-feira os peritos da Direção-Geral da Saúde (DGS), no encontro que marca o recomeço das reuniões entre Governo e especialistas, para acompanhar a pandemia de Covid-19 em Portugal.

De acordo com Pedro Pinto Leite, representante da DGS, a situação epidemiológica nacional agravou-se desde meados de agostoa e coabitação familiar representou, no mesmo período, a maior causa de transmissibilidade em Portugal (49%), seguida do contacto laboral (16%).

O especialista revelou, ainda, que os município de Mora, Sernancelhe, Armamar, Arouca, Vila Verde e Arraiolos são aqueles que apresentam maior incidência cumulativa por 100 mil habitantes, no mesmo período de análise. Este indicador pode ser interpretado como a probabilidade ou o risco de um indivíduo de cada um destes concelhos desenvolver a doença durante 14 dias.

“Parece-nos ser necessário reforçar as medidas não farmacológicas conhecidas por todos – desde o distanciamento físico, a higienização das mãos, o uso de máscaras ou outros equipamentos de proteção individual, o arejamento de espaços, evitar tocar com as mãos nos olhos, no nariz e na boca, e a desinfeção dos locais. Todas devem ser reforçadas, especialmente no grupo de 80 ou mais anos, cuja incidência está acima das restantes idades, como no grupo de 20-29 anos, que lidera estas incidências”, explicou.

80 mil testes à Covid-19 por semana

Segundo Ausenda Machado, especilista do INSA também presente no encontro que decorreu na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, foram realizados mais de 80 mil testes de diagnóstico à Covid-19 por semana, desde o mês de Junho.

Apesar do “decréscimo” da percentagem de testes positivos no início do verão, a tendência sofreu uma inversão nas últimas semanas devido a “um aumento da proporção de positivos concordante com a evolução epidémica”.

O Alentejo é a única região de Portugal continental com uma taxa de transmissibilidade (Rt) inferior a um, ao dia de hoje. A região centro apresenta o valor mais elevado - 2,22.

De acordo com o plano nacional de prevenção do novo coronavírus, o limiar de transmissão ocorre quando o Rt é igual a 1. Para valores abaixo deste, a infeção é incapaz de se manter na população.

660 mil portugueses já descarregaram a aplicação StayAway Covid

Às 9h00 desta segunda-feira, cerca de 660 mil portugueses já tinham descarregado a app de rastreio à Covid-19, garantiu José Manuel Mendonça do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.

“Não há dados pessoais envolvidos e há anonimato completo de quem é avisado de um potencial contacto com um infetado”, reforçou o professor da faculdade de engenharia da universidade do Porto.

O objetivo da aplicação é notificar os utilizadores avisando-os de uma exposição individual a fatores de contágio por SARS-CoV-2, decorrente de contacto com utilizador da app a quem posteriormente tenha sido diagnosticada a doença.

Há 176 vacinas em desenvolvimento

Neste momento há já 176 vacinas contra o novo coronavírus em desenvolvimento. De acordo com Rui Santos Ivo, do Infarmed, 33 destas vacinas encontram-se em fase de avaliação clínica e oito já na última fase de testes.

“Os dados preliminares que já foram disponibilizados são positivos e bastante promissores, em termos de desenvolvimentos destas vacinas”, adiantou o presidente do Infarmed.

"Até agora os dados que temos apontam para necessidade de administração de duas doses", acrescenta.

Portugal deverá receber seis milhões e 900 mil vacinas contra a Covid-19, sendo que uma primeira aquisição de cerca de 690 mil vacinas poderá chegar já em dezembro ao país.

Baixa taxa de transmissão em ambientes educacionais

Um estudo feito ainda durante a primeira onda pandémica, na Austrália, revela taxas de transmissão baixas em ambientes educacionais. A conclusão foi apresentada por Maria João Brito, do Hospital Dona Estefânia.

De acordo com a especilista, a Coivd-19 é uma doença pouco frequente em pediatria, mas potencialmente grave, e com mortalidade muito baixa. A médica revelou que, desde o início da pandemia, o Hospital Dona Estefânia recebeu 285 casos de infeção em crianças, dos quais 114 estiveram internados e 268 já recuperaram da doença.

A Covid-19 não se transmite “como a gripe, onde as crianças são frequentemente o caso índice nos disseminadores de infecção domiciliar e comunitária”, explicou a especilista, acrecentando que, pelo contrário, os adultos infectam mais as crianças. Estes resultados “podem ser reconfortantes nas decisões sobre a reabertura das escolas”.

Dos 134 países que fecharam as escolas, como forma de combate ao novo coronavírus, 105 já reabriram ou vão reabrir em breve.

Carla Nunes, epidemiologista da Escola Nacional de Saúde Pública olhou para os exemplos internacionais na reabertura de escolas e também para a reabertura parcial registada em Portugal, a partir de 18 de maio, para os alunos dos 11º e 12º anos.

Ressalvando que as reaberturas estudadas foram, na sua maioria, parciais e muito limitadas - pelo que poderão não ser representativas de uma reabertura geral - a especialista afirmou que a reabertura das escolas não foi associada a aumentos significativos na transmissão comunitária.

“Com medidas adequadas de distância física e higiene, as escolas provavelmente não serão ambientes de propagação mais eficazes do que outros ambientes ocupacionais”, afirmou.

“É possível evitar uma segunda onda”, mas será uma tarefa “exigente”

Com uma redução dos contactos entre os alunos nas escolas para 30%, e uma redução para metade dos contactos comunitários entre todos os portugueses, uma segunda vaga é muito pouco provável.

A conclusão foi apresentada por Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciêsncias da Universidade de Lisboa.

“Há um aspecto muito positivo que eu gostaria de sublinhar. O modelo prevê que é possível evitar uma segunda onda, se conseguirmos que os contactos entre os jovens e como a restante comunidade assumir um valor próximo de 30% e 50%, respetivamente”.

De acordo com o modelo matemático desenvolvido pelo epidemiologista, se a 14 de setembro forem abertas as escolas sem qualquer tipo de restrições, Portugal deverá enfrentar uma segunda onda de Covid-19, com um claro aumento de hospitalizações.

“A segunda onda não é uma fatalidade e não é uma coisa inevitável”, explica o especialista, que defende que reduzir o número de contactos, testar, rastrear e isolar estes contactos é a forma mais eficiente de o evitar.

A reunião desta segunda-feira marca o reinício das “reuniões do Infarmed”, como ficaram conhecidas por se realizarem nas instalações da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, em Lisboa. Esta é a primeira vez que um destes encontros é aberto e transmitido em directo.

Comentários
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  • Manual antisegunda
    07 set, 2020 Por cá 19:28
    "É possível evitar uma segunda onda" - claro que é! Um severo controle sobre a comunicação social, evitar as conferências de Imprensa ou mandar lá o Lacerda-dos-alimentos-leves, desvalorizar sempre tudo, desviar ao máximo o assunto falando de imediato nas "sábias" medidas do governo e que os "outros" estão muito piores, Controlar fugas de informação e remeter pessoal para se entreterem a brincar com APPs que só seriam minimamente eficazes se TODOS a instalassem e TODOS pusessem os códigos em caso de infecção. Depois desta "dose" de fuga, todos perguntarão: "Segunda fase do quê?"

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