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Covid-19. Adiamento de diagnósticos do cancro digestivo irá elevar mortalidade

09 set, 2020 - 13:35 • Lusa

Segundo o presidente da Europacolon Portugal - Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo, foram adiadas, desde março, mais de quatro milhões de consultas em centros de saúde, um milhão de consultas das várias especialidades médicas e mais de 100 mil cirurgias.

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A associação Europacolon alertou hoje para as consequências da paralisação dos rastreios de base populacional e dos milhares de diagnósticos de doenças oncológicas que ficaram por fazer devido à pandemia de covid-19, que se traduzirão num aumento da mortalidade.

Segundo o presidente da Europacolon Portugal - Associação de Apoio ao Doente com Cancro Digestivo, Vítor Neves, foram adiadas, desde março, mais de quatro milhões de consultas em centros de saúde, um milhão de consultas das várias especialidades médicas e mais de 100 mil cirurgias.

Como resultado, os 50 mil diagnósticos anuais de doenças oncológicas não se concretizaram na sua plenitude.

Os cerca de 4.800 novos diagnósticos novos que se realizavam todos os meses “pararam desde março, porque não houve a partir daí atitudes consistentes de consultas nos centros de saúde a tempo e horas” e os doentes não estão a ser referenciados para as consultas de especialidade, disse Vítor Neves à agência Lusa.

"Antes da pandemia a situação já era muito grave. Em 2018 já morriam 10 mil pessoas de cancro digestivo, em 2019 o problema agravou-se e nós vamos ver daqui por três ou quatro anos que os números da mortalidade comparativamente de doentes não covid com aqueles que existiam antes da pandemia vão crescer enormemente”, adiantou.

Vítor Neves também manifestou preocupação com a paralisação dos rastreios de base populacional, nomeadamente do cancro do intestino, que foram lançados no final de 2016. “Em 2017 e 2018 houve alguns avanços, mas tomámos conhecimento há dias de que os números de 2019 diziam que só 35% das pessoas tinham aderido”.

“Portanto, aquilo que foi feito em termos de tentativa de implementação dos rastreios de base populacional foi mal feito”, tendo ficado provado que não adianta as Administrações Regionais de Saúde enviarem ‘kits’ para pesquisa de sangue oculto nas fezes para casa dos utentes porque se estes “não estiverem sensibilizados para as vantagens de fazerem o rastreio não o farão”, lamentou.

Por outro lado, os utentes que fizeram o exame e testaram positivo ficam, em alguns casos, mais de 12 meses à espera da consequente colonoscopia total, uma “situação muito grave”.

“Quase todos os serviços dos grandes hospitais foram reestruturados, e bem, porque teve a sua eficácia na altura da pandemia, mas foi prejudicando, foi desvalorizando, foi secundarizando o acompanhamento que se fazia aos outros doentes”, sublinhou.

“Ao estarmos a adiar diagnósticos de cancro digestivo estamos a favorecer uma sobrevivência mais curta e uma dificuldade de estabilizar” estas doenças que não desaparecem, reiterou.

Para Vítor Neves, “se, por um lado, o Ministério da Saúde tem de garantir as consultas, os rastreios e os tratamentos, por outro, os portugueses não podem ter medo de ir ao hospital, têm de confiar no sistema e perder o medo de sair à rua.”

Defendeu ainda a criação urgente de um programa excecional de recuperação das listas de espera para cirurgias, consultas e exames complementares de diagnóstico, com divulgação pública e periódica das respetivas métricas e a aplicação de rastreios de base populacional ao cancro do intestino, com a publicação mensal dos testes e médias de adesão e o aumento do investimento em recursos humanos e equipamentos no SNS.

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