24 set, 2020 - 15:44 • Lusa
O inspetor José Amador disse em tribunal, esta quinta-feira, que a Polícia Judiciária não teve conhecimento das "passwords" de acesso aos discos encriptados de Rui Pinto, por ter sido essa opção do criador do "Football Leaks".
“A opção foi o arguido controlar esse momento e introduzir as credencias. Não somos fiéis depositários, a opção foi dele. Não queria revelar quais eram as credenciais de acesso”, disse José Amador, na sétima sessão de julgamento, a decorrer no Tribunal Central Criminal de Lisboa.
O inspetor, que está a ser inquirido pelo quarto dia consecutivo, explicou, quando questionado pelo coletivo de juízes, que era o arguido que mantinha o controlo do acesso aos discos, no âmbito das cópias efetuadas pela polícia francesa.
“Nós não temos nenhuma utilidade enquanto colaboradores de outras jurisdições”, acrescentou.
Sobre a colaboração de Rui Pinto com a polícia judiciária, em questão levantada pelo Ministério do Público, o inspetor da PJ adiantou que a situação foi proposta logo após a chegada, mas que isso não aconteceu logo.
“Desde o primeiro dia da chegada [de Rui Pinto a Portugal] foi tentada essa colaboração, houve reuniões, mas não foi possível porque o arguido assim não o entendeu”, revelou o inspetor, acrescentando que apenas no final de março, início de abril, houve uma alteração de postura por parte de Rui Pinto.
Em relação à tentativa de colaboração de Rui Pinto com a Eurojust, José Amador desvalorizou-a, afirmando que “não era possível” na forma que era pretendida pelo arguido.
Entre os documentos analisados nos discos pela PJ, constava uma comunicação com a Europol, de um nível de segurança muito elevado.
“Um protocolo, que é um caminho interno, criptografado e com níveis de segurança muito elevados”, explicitou o inspetor, e que essa situação criou dúvidas se havia algum nível de compromisso, mas que não foi encontrado nenhum indício de vulnerabilidade.
José Amador explicou que essa comunicação dizia respeito ao agendamento de uma reunião em Haia entre as autoridades portuguesas, espanholas e húngaras, num objetivo de uma operação concertada no âmbito do Football Leaks, mas que a mesma não teve consequências.
O julgamento do processo Football Leaks prossegue esta quinta-feira no Campus da Justiça, em Lisboa.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, por 14 de violação de correspondência e por seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol e a Procuradoria-Geral da República, e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto, então representante de Rui Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e o seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.