26 set, 2020 - 01:28 • Lusa
O embaixador norte-americano em Lisboa defende que Portugal tem de escolher entre os “amigos e aliados” EUA e o “parceiro económico” China, alertando que escolher a China em questões como o 5G pode ter consequências em matéria de Defesa.
George Glass, embaixador dos EUA em Lisboa, em entrevista ao Expresso, publicada na edição deste fim-de-semana, admitiu consequências em matéria de segurança e Defesa para Portugal se o país escolher trabalhar com a China.
Segundo o diplomata, as consequências serão de âmbito técnico, como a atividade da NATO ou a troca de informação classificada, e não políticas, pelo menos para já.
“Há países que estão a trabalhar numa verdadeira parceria como aliados. Se não formos capazes de comunicar a esse nível, então haverá também reflexos na atmosfera política e nos desenvolvimentos da relação política. Por agora, é um assunto de Defesa Nacional e não de política”, afirmou Glass.
O embaixador admite que Portugal é uma vítima do conflito comercial entre EUA e China ao fazer parte do “campo de batalha” na Europa, onde uma das frentes de conflito é a nova tecnologia 5G, relativamente à qual Portugal equaciona trabalhar com a chinesa Huawei, ainda que não em aspetos fundamentais da rede, mas apenas na distribuição do sinal de rádio.
Glass é taxativo ao dizer que os EUA preferiam que Portugal não tivesse qualquer equipamento da Huawei na rede de 5G.
“Se não tivermos parceiros confiáveis na rede de telecomunicações portuguesa, mudará a forma como interagimos com Portugal em termos de segurança e de Defesa. Temos feito chegar esta mensagem alto e bom som: a forma como trabalhamos com a NATO ou como trocamos informação classificada será afetada. Se tivermos confiança nas telecomunicações, seremos capazes de continuar a relacionar-nos como no passado. Se não tivermos, teremos de mudar a forma como comunicamos com Portugal”, disse o embaixador.
Há outras empresas chinesas com posições de capital em empresas portuguesas - como a China Three Gorges na EDP e a CCCC que recentemente entrou no capital da Mota-Engil, que “vendeu 30% da companhia por 30 moedas de prata” – a dificultar a relação entre Portugal e EUA, sendo que em relação à Mota-Engil o embaixador norte-americano admite a possibilidade de sanções.
Remeteu, no entanto, mais esclarecimentos para essas questões para o subsecretário norte-americano da Economia, Keith Krach, que vai estar na próxima semana em Lisboa.
Sobre a importância do “incrivelmente estratégico” porto de Sines para a distribuição do gás natural liquefeito americano, Glass disse esperar que a construção e gestão do novo terminal “não vá para os chineses”. Se for, isso compromete a distribuição, admitiu.
“Acho que tem de comprometer. Se fosse para os chineses, afetava a nossa visão daquilo que Sines se pode tornar. Vimos no passado que, se os operadores forem chineses, eles têm a capacidade de negar acesso a navios norte-americanos. Isso não pode acontecer. Sobretudo se pensarmos em Portugal como o ‘hub’ de gás e centro da segurança energética europeia”, declarou.
George Glass admitiu ainda que os EUA têm trabalhado com Portugal no sentido de “guiar” o investimento estrangeiro no país e diminuir o peso do investimento chinês.
“Acho que agora são mais duros com a China. Quando cheguei a Portugal, as entidades estatais chinesas tinham 28% da EDP e agora têm 21%. Vai na direção certa. Mas precisa de ser menos”, acrescentou.