06 out, 2020 - 08:49 • Beatriz Lopes
Estudos mais recentes indicam que as crianças são frequentemente contagiadas por adultos, mas raramente são fontes de contágio. Ainda assim, todos os dias vão surgindo casos de Covid-19 nas escolas e nos infantários e todo o cuidado é pouco enquanto não há conclusões definitivas.
O último balanço divulgado pela ministra da Saúde indica que existem surtos do novo coronavírus em 12 escolas portuguesas.
Mas há outras questões que se levantam. Por exemplo, quantos dias é que as crianças devem permanecer em casa se apresentarem algum sintoma suspeito?
O presidente da Associação de Administradores Hospitalares defende que as autoridades de saúde deveriam definir critérios iguais para todas as escolas.
“No caso das escolas e dos infantários, deve existir uma recomendação, um manual de atuação para que exista alguma uniformidade de critérios; caso contrário, pode existir aqui algum ruído desnecessário em termos de comportamentos das várias instituições”, sustenta Alexandre Lourenço, em declarações à Renascença.
Havendo “recomendações e manuais de atuação que possam ser aplicados ao todo nacional” tanto as escolas como os pais ficam mais tranquilos, refere ainda.
Inquérito a 321 agrupamentos escolares revela que (...)
Já o presidente do Colégio de Pediatria da Ordem dos Médicos considera adequadas e suficientes as medidas que têm sido tomadas até agora.
Jorge Amil Dias diz que, além de não ser necessário submeter as crianças a um teste à Covid-19, é compreensível que as mesmas regressem às escolas assim que apresentem sinais de recuperação, até porque os mais novos não são as maiores fontes de contágio.
“Os factos de que temos conhecimento são que as crianças, podendo ser infetadas e ficar doentes, são, todavia – e particularmente as crianças mais pequenas, dos infantários – provavelmente fontes pouco significativas e pouco relevantes em termos de contágio e de transmissão de doença”, começa por explicar.
“Por esse motivo, é compreensível uma reserva de vigilância durante um período curto de dias e, no caso de ter uma evolução satisfatória, possam retomar a frequência normal”, em vez de “tratar todas as crianças como estando infetadas e submetê-las a protocolos de diagnóstico que são um pouco desconfortáveis – embora se faça quando necessário – e eventualmente desnecessários por inúteis em termos de decisões”, prossegue.
Certo é que, com o aumento de casos de Covid-19 entre os mais novos, desde setembro que há já urgências pediátricas lotadas. A denúncia é feita pelo presidente da secção regional do Centro da Ordem dos Médicos.
Carlos Cortes critica o encaminhamento que a linha SNS 24 faz para as urgências dos hospitais "sem qualquer critério clínico" e pede medidas urgentes ao Governo.
“Se esta situação não ficar muito rapidamente resolvida, o que vamos ter são urgências completamente bloqueadas e sem capacidade de resposta agora para o Inverno. O que o Ministério da Saúde agora tem de fazer, em conjugação com a Direção-Geral de Saúde, é estabelecer fluxogramas muito claros, com os casos bem discriminados para a linha SNS 24 saber encaminhar estas situações; perceber quais são níveis de gravidade dos sintomas na criança e, consoante esses níveis, encaminhá-los fundamentalmente para estes três locais: ou para domicílio ou para os cuidados de saúde primários ou, em situações mais graves, encaminhá-los para a urgência”, defende.
O porta-voz da secção da Ordem dos Médicos do Centro mostra-se ainda preocupado, não só com o aumento de casos de crianças nas urgências, como com a falta de recursos humanos na área da pediatria.