25 mai, 2020 - 06:15 • Pedro Reis Pereira*
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A Ilha da Madeira tem uma população de aproximadamente 260.000 habitantes, aos quais se juntam cerca de milhão e meio de turistas ao longo do ano, o que define direta ou indiretamente a vida de toda a região.
Perante a pandemia, havia, pois, que preservar a imagem da região no mundo, mas acima de tudo salvaguardar a saúde dos madeirenses cujo sistema de saúde, dimensionado para a sua população residente, apresentaria necessariamente fragilidades se confrontado com os efeitos dramáticos do descontrolo da doença Covid–19.
Cientes dessa realidade, as autoridades locais reagiram com dureza e rapidez.
Os madeirenses, na sua esmagadora maioria, estavam já confinados às suas habitações enquanto o governo regional clamava pelo encerramento de aeroportos a voos oriundos de zonas de transmissão ativa do vírus.
Pelo meio, estudantes universitários e outros madeirenses espalhados pelo mundo tentavam desesperadamente voos de regresso a casa.
Milhares de turistas foram abandonando os hotéis e regressando aos seus países de origem. Alojamentos turísticos, estabelecimentos de bar e restauração fecharam suas portas estagnando quase por completo a vida económica da ilha. Determinou-se o confinamento obrigatório em unidades hoteleiras à chegada ao aeroporto e, logo que surgiram indicações preocupantes, avançou-se para a cerca sanitária no concelho de Câmara de Lobos, entre outras decisões complementares.
Este povo “estóico e valente” estava sozinho, isolado, como tantas vezes havia estado no seu passado histórico... A “poncha” de fim de dia entre amigos, a sua cerveja “Coral” acompanhada de um “dentinho”, os habituais convívios à volta de uma “espetada”, as esplanadas repletas, cortejos coloridos de celebração da flor, enfim, tradições permitidas pelo clima ao longo de todo o ano deixaram de acontecer…
Mas havia Cristiano Ronaldo! A permanência do astro na sua terra animou as gentes. As suas publicações nas redes sociais mostrando ao mundo a beleza e a segurança sanitária da “Pérola do Atlântico” tiveram impacto emocional e, espera-se, também no “destino Madeira”.
Numa região ultraperiférica de “montanha agreste” qualquer sobressalto económico atira milhares de pessoas para a pobreza, mas não tardaram as reacções de solidariedade.
Funcionários de hotelaria com apoio de empresários e associações de cariz solidário montaram uma rede informal de apoio a carenciados com fornecimento de refeições.
A Associação Desportiva da Camacha, na terra onde se jogou futebol pela primeira vez em Portugal, adaptou a sua estrutura para o mesmo fim.
Daniel Spínola, um jovem estudante universitário que se preparava para fazer voluntariado na Turquia, confinado em casa, lançou mãos à obra para lavar carros e enviar os lucros para a OMS.
Como sempre, a ilha não se resignou mas junto ao aeroporto não se vê, nem se ouve, o frenesim habitual dos aviões a descolar ou aterrar, sinal de que o conceito de “nova normalidade” poderá não ser mais do que a continuação do isolamento geográfico, social e económico.
Os números residuais de infectados e a ausência de mortes por Covid-19 (nesta data) são agora a réstia de esperança da Ilha da Madeira na ressaca da primeira vaga de um vírus que, para além da saúde humana, atacou o sector mais importante da vida económica madeirense.
*Pedro Reis Pereira é natural de Póvoa do Lanhoso, no continente, mas vive na Madeira desde que casou com Lénia, com quem tem dois filhos.