07 out, 2020 - 07:38 • Marta Grosso , Fátima Casanova , Anabela Góis (texto, reportagem e entrevistas)
Apesar do anunciado regresso das consultas presenciais, marcar consulta num centro de saúde continua a ser uma verdadeira dor de cabeça para muitos portugueses, em particular, na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT).
Os utentes queixam-se de demoras no atendimento das chamadas telefónicas e, por vezes, quando alguém atende, é para dizer que não se estão a marcar consultas.
Tem sido assim, por exemplo, em centros de saúde do concelho da Amadora, às portas de Lisboa. Durante uma tarde, a Renascença fez mais de 40 tentativas. Da mais de uma dezena de estruturas de cuidados primários existentes no concelho, em nenhuma foi possível estabelecer o contacto telefónico.
Mas há dificuldades um pouco por todo o país, denuncia Manuel Vilas Boas, porta-voz da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos.
“As queixas são de Norte a Sul e, especialmente, nos meios do interior do país, onde isso se manifesta de uma forma escandalosa, podemos dizer”, critica.
Face aos problemas em marcar consultas pelo telefone, os utentes dirigem-se para os centros de saúde, onde formam filas – precisamente, aquilo que se pretende evitar.
“Neste momento, há uma dificuldade muito grande no acesso aos cuidados de saúde primários. Nalguns casos, não digo em todos, as pessoas são obrigadas a estar presentes nos centros a altas horas da madrugada para tentar solucionar os seus problemas”, denuncia Manuel Vilas Boas, em declarações à Renascença.
Da parte da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo (VLT), o presidente garante à Renascença, nesta quarta-feira, que os problemas são pontuais e estão a ser resolvidos. Uma das medidas foi distribuir cerca de 500 telemóveis pelos centros de saúde.
“Estão reportados alguns problemas em termos de marcação da consulta, de conseguir falar com alguém do centro de saúde, mas estamos a fazer uma volta por todos os centros de saúde para saber o que se passa e resolver isso. Ainda há pouco tempo, distribuímos telemóveis para facilitar a comunicação”, anuncia o presidente da ARS na Renascença.
Luís Pisco explica que “a utilização do telefone aumentou muito, porque as consultas à distância e a vigilância de todos os doentes que estão com Covid em casa é feita por telefone”, logo “houve um aumento enorme e nalguns casos poderá ter causado problemas”.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo foram distribuídos “cerca de 500 [telemóveis], mas no resto do país com certeza que foram mais”, acrescenta.
Neste momento, há consultas presenciais e à distância, mas são todas marcadas por telefone. “O objetivo é que as pessoas telefonem, marquem as suas consultas e não haja aglomerações nem pessoas em filas de espera”.
Ainda durante esta semana, deverá ficar concluído o sistema que, na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), vai permitir a gestão centralizada das camas destinadas a doentes infetados com Covid-19 e os chamados “doentes não-Covid”.
Luís Pisco garante haver camas suficientes neste momento, mas há que pensar mais à frente e evitar que alguns hospitais fiquem sobrecarregados, como tem acontecido com o Hospital Beatriz Ângelo, em Loures.
“Os hospitais podem ter três medidas de contingência e ainda estão na primeira. O que se está a tentar é organizar o funcionamento em rede do Serviço Nacional de Saúde. Temos camas suficientes, neste momento, na região, para todos os doentes que precisam. O que pode acontecer é que, pontualmente, alguns hospitais possam ter dificuldades”, começa por explicar.
“O que se vai fazer é gerir de uma forma centralizada um conjunto de camas”, através de “um gestor – provavelmente, um médico e um enfermeiro – de maneira a que não haja falta em nenhum hospital”, adianta.
O esquema deverá entrar em funcionamento “até ao final desta semana” e Luís Pisco mostra-se otimista, nomeadamente com eventuais problemas informáticos.
“O INEM, por exemplo, faz isso muito bem nos queimados, nos cuidados intensivos, às vezes também na área da saúde materno-infantil. Neste momento, temos a informação de forma diária de quantas camas existem, quantas são ocupadas, onde e não vejo razão para haver problemas com a questão informática”, diz.
A vacinação contra a gripe nos lares de idosos está a decorrer como previsto e deve estar concluída no final da próxima semana, afirma o presidente da ARS/LVT.
“Até final da próxima semana, deverá estar tudo vacinado, uma vez que começou já na segunda-feira passada”, diz.
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Luís Pisco considera que o processo “tem estado a decorrer bem”.
“Há uma ligação entre os lares e os agrupamentos de centros de saúde e as enfermeiras do centro de saúde deslocam-se ao lar e fazem a vacinação. Alguns lares têm eles próprios enfermeiros que também colaboram, mas é um processo que está perfeitamente organizado”, aponta.
A vacinação nos lares de idosos abrange também os utentes das instituições ilegais. “Nós não fazemos diferença. São pessoas, são cidadãos portugueses beneficiários do Serviço Nacional de Saúde que estão em lares e, portanto, são vacinados”, sustenta Luís Pisco.