13 out, 2020 - 16:48 • Lusa
A disrupção do sistema de emails do Sporting ocorreu antes dos ataques informáticos alegadamente enviados por Rui Pinto, confirmou esta terça-feira o ex-administrador de sistemas do clube de Alvalade na 11.ª sessão do julgamento do processo “Football Leaks”.
Segundo David Luís Tojal, “o primeiro erro detetado foi às 09:06.16” do dia 22 de setembro de 2015, tendo deixado os utilizadores do Sporting sem acesso às respetivas caixas de correio eletrónicas. Por outro lado, o antigo técnico informático leonino indicou que “o primeiro ataque ocorre às 18:55.04” do mesmo dia, ou seja, quase 10 horas depois do crash.
O sistema tentou recomeçar de forma espontânea cerca de 10 minutos depois da disrupção, seguindo-se um longo processo encetado pela equipa informática do clube. “A partir das 09h16 foram quase 48 horas seguidas a tentar resolver o problema”, afirmou David Luís Tojal, que, questionado pela juíza Margarida Alves se o “crash” esteve relacionado com os comandos alegadamente enviados pelo criador do Football Leaks, acabou por responder “não”.
O ex-técnico informático do Sporting também não conseguiu encontrar uma explicação para a origem do “crash”, tendo confessado que os ataques informáticos desse dia não tiveram influência na situação que o sistema de emails do clube estava a atravessar, numa declaração que pode colocar em causa o crime de sabotagem informática imputado pelo Ministério Público a Rui Pinto.
“Na altura não tivemos perceção de que estava a haver o ataque. Só voltámos aos ‘logs’ [registos de acesso] quando sai o contrato de Jorge Jesus no ‘Football Leaks’”, assumiu David Luís Tojal. O ex-administrador de sistemas frisou ainda que o clube não estava devidamente munido de especialistas e de ferramentas de segurança informática e admitiu não saber “que ferramenta foi utilizada para fazer o tal ataque”.
A audição de David Luís Tojal ficou fechada esta manhã, depois de ter também confirmado que acessos foram confirmados ou falhados por um endereço de Internet proveniente da Hungria entre 22 de julho e 29 de setembro - sem ficar claro se esses acessos estiveram relacionados com a disrupção de 22 de setembro. A sessão prossegue de tarde no Tribunal Central Criminal de Lisboa, com a audição de Bruno Cardoso, antigo funcionário do Sporting.
Rui Pinto, de 31 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 07 de agosto, “devido à sua colaboração” com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu “sentido crítico”, mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.