16 out, 2020 - 17:05 • Joana Gonçalves
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No dia em que Portugal regista novo recorde de casos diários de Covid-19, Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), alerta para um pico da pandemia que pode ultrapassar os cinco mil casos diários. De acordo com o especialista, o país pode registar já no final de outubro cerca de 3.500 casos, em apenas 24 horas.
“Todos os dias me assusto mais quando olho para os números. Ainda não é possível ver o pico desta epidemia, mas estará, à vontade, acima dos cinco mil casos por dia. A esmagadora maioria dos portugueses ainda não tem proteção para este vírus. Estamos muito longe de uma percentagem de portugueses protegidos que evite aquilo a que estamos assistir”, adianta o especialista.
Em entrevista à Renascença, o investigador defende que Portugal regista um atraso crescente “entre o número de casos que estão efetivamente a ocorrer e o número que realmente nós conseguimos diagnosticar”. “É por isso que nós dizemos que o vírus está a ir à frente da nossa capacidade de rastreio e identificação de casos”, explica.
Quanto ao aumento de casos na região Norte, que nas últimas 24 horas registou 1.350 infeções, o especialista só encontra duas explicações possíveis. “Das duas uma, ou há um maior um número de contactos contagiosos entre as pessoas no Norte ou, então, a saúde pública do Norte está a ser mais eficaz do que a de Lisboa e Vale do Tejo a encontrar os casos. Não tenho a certeza de qual é a verdadeira”, esclarece.
Manuel Carmo Gomes confessa-se pouco confiante nas medidas adotadas pelo Governo, na passada quinta-feira, e defende uma estratégia de combate à pandemia menos centralizada. “Não vejo que estejamos a ser mais determinados. Mesmo com estas medidas que o senhor primeiro-ministro agora anunciou,estou pessimista que sejam suficiente”, defende.
Para o professor da FCUL, a solução passa pela adoção de um índice de risco que permita a cada município adotar, de forma imediata, medidas pré-definidas de acordo o nível de contágio.
"Portugal devia adotar uma estratégia geral para o país, clara e transparente, relativamente à definição de de níveis de risco municipais e essa definição devia ser acompanhada de um conjunto de medidas que deviam ser adotadas localmente, no imediato", afirma o epidemiologista.
"A nossa proposta inicial foi de cinco níveis de risco, à semelhança do que acontece com a proteção civil. Definimos cada nível de risco, trabalhamos nisso, temos a nossa proposta, pode vir a ser melhorada. Agora, é necessário que exista vontade de implementá-la", acrescenta.
O investigador adianta que estratégia é operacionalizável e a parte técnica já está pronta.
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Esta quinta-feira, o Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC) divulgou o primeiro mapa de risco Covid-19 da Europa, que será atualizado semanalmente. O mapa integra uma legenda de cores como num semáforo, com o vermelho a indicar os locais de maior risco e o verde a sinalizar onde o risco é menor. A cor vermelha é atribuída às zonas que, nos últimos 14 dias, tenham registado mais de 150 casos de Covid-19 por 100 mil habitantes e uma taxa de testes positivos inferior a 4% ou mais de 150 infeções por cada 100 mil pessoas e mais de 4% de positividade de testes.
Em Portugal, só o Alentejo e as duas regiões autónomas escapam ao vermelho. De acordo com o boletim epidemiológico desta sexta-feria, o país regista mais 2.608 casos e 21 mortes pelo novo coronavírus. Trata-se de um novo máximo, que supera o recorde verificado na quinta-feira.
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