23 out, 2020 - 13:43 • Liliana Monteiro
Por ano há uma média de 50 mil novos diagnósticos de cancro, mas com a pandemia há sete meses que não se faz, praticamente, despiste de sintomas adversos no estômago e intestino.
Em declarações à Renascença, Vítor Neves, presidente da Europacolon - Apoio ao Doente com Cancro Digestivo, dá conta de que “só no âmbito do cancro digestivo, em 2019, morreram 10 mil pessoas. As doenças estão lá e há doentes novos todos os dias. Por ano havia cerca de 50 mil novos diagnósticos e durante estes meses muito pouco foi feito”.
Com centros de saúde ainda sem atividade normalizada, os diagnósticos primários e exames complementares não estão a ser feitos. “Os centros de saúde são os locais onde eram analisadas as sintomatologias e feitas referenciações para hospitais centrais para diagnóstico e iniciação de terapêutica. Agora estão dedicados em exclusivo à pandemia. Os exames de diagnóstico estão agora a ser feitos nas urgências”, refere Vítor Neves.
Lamenta que se esteja a esquecer quem não tem covid, mas quem também está doente e precisa de assistência médica: “as doenças não covid-19 não desapareceram, não deixaram de existir e merecem tratamento e acompanhamento regular. Os exames de diagnóstico já tinham grande tempo de espera e agora uma colonoscopia demora 9 a 12 meses, o que é incompatível com um diagnostico normal”.
Vítor Neves considera mesmo que se está a negar vida a muitos doentes. “Em oncologia, 50% dos doentes têm grande probabilidade de se curar, mas com a premissa de que a doença tem de ser detetada cedo para terem a melhor terapêutica e mais adequada. Não é isso que está a acontecer! As curvas da mortalidade estão a aumentar e vamos chegar ao tempo em que as doenças vão ser encontradas dois a três anos depois do que deviam ter sido”.
Os números do Instituto Nacional de Estatística (INE) são claros: “entre março e setembro de 2020, fez-se uma média dos últimos cinco anos, e há um acréscimo de 7.144 mortos. Dois mil podem ter sido covid-19, mas há uma curva grande de mortalidade relacionada com a falta de cuidados que a população tem que ter”, sublinha.
A Europacolon considera, por isso, urgente que as entidades se articulem para dar resposta aos doentes com cancro.
“Uma estrutura definida pelo Ministério da Saúde e Segurança Social. Há muita gente internada e que não está em tratamento e precisa de apoio por parte do Ministério da Segurança Social. As ordens profissionais, equipamentos sociais, equipamentos privados e associações de doentes têm de criar estruturas que se organizem. Nós não vemos qualquer reação do Ministério da Saúde sobre este tema”, conclui Vítor Neves.