30 out, 2020 - 09:58 • Olímpia Mairos
A ideia surgiu à mesa do café. Rui Monteiro descreve-a como uma “epifania”, um sentimento que expressa uma súbita sensação de entendimento ou compreensão da essência de algo. Assim, nasceu o projeto Re-Coffee, implementado faz agora um ano, com o lançamento da primeira linha de sapatilhas vegan, feita a partir de borras de café, borracha reciclada, fibras naturais de coco e de ananás, entre outros materiais reciclados ou recicláveis.
As sapatilhas estão aí, para um público com consciência ambiental, mas que, simultaneamente, aprecia o design e o conforto.
O pioneirismo da marca valeu a Rui Monteiro, CEO e fundador da Re-Coffee, e à sua equipa, constituída por quatro pessoas, o reconhecimento municipal com a atribuição do selo Famalicão Visão 25, na categoria Famalicão Made In.
De visita ao projeto, o presidente da Câmara deixou rasgados elogios à iniciativa.
“Estão a aplicar de forma sublime a tese da economia circular, caminhando para o ideal de eliminação total de resíduos no processo produtivo”, disse o autarca Paulo Cunha, manifestando o orgulho de ver Famalicão “germinar um projeto com este rasgo empreendedor por gente jovem e criativa”.
Como surgiu este projeto?
O projeto Re-Coffee surgiu na esplanada de um café em Vila Nova de Famalicão, como uma espécie de epifania. A frequentar o Mestrado Integrado em Engenharia de Materiais pela Universidade do Minho, senti a curiosidade de perceber quantos quilos de borra de café eram produzidos por dia naquele estabelecimento. O proprietário referiu uma média de 10kg por dia, o que se transforma em 300kg num mês, num único estabelecimento. Sabendo a priori que a borra de café em aterro liberta monóxido de carbono, um dos principais do efeito de estufa.
Qual o principal desafio que encontrou?
O principal desafio incidiu-se em retirar a humidade da borra de café, de forma a conseguir transformá-la num material inerte, ou seja, que não altere as propriedades físicas do material à qual a borra de café é adicionada.
Que passos foi preciso dar até chegar às sapatilhas?
O caminho que passou entre a ideia e o produto final (a sapatilha) passou por imensas horas de investigação em laboratório, com uma tentativa e erro constante. O apoio da Universidade do Minho e da Bolflex (empresa de componentes de calçado) neste processo foram essenciais, na forma em que colocaram à disposição deste projeto todas as máquinas necessárias e, sobretudo, know-how relativamente aos materiais.
Onde são produzidas?
As sapatilhas - as KAFFA - são produzidas exclusivamente em Portugal, no concelho de Felgueiras. A Re-Coffee apenas trabalha com materiais reciclados e/ou que permitam ser reciclados posteriormente, e também com materiais vegan, certificados pela PETA. As KAFFA são constituídas por 50% de borra de café e 50% de borracha reciclada na gáspea (revestimento de calçado), ao qual se denominou de “Coffee Leather (Cofflea)”, e por 30% de borra de café e 70% de borracha reciclada. O interior da sapatilha é constituído por fibra de coco e as palmilhas em poliuretano, que fornecem um maior conforto.
Quantas pessoas estão envolvidas no projeto?
Estão envolvidas quatro pessoas no projeto.
A que tipo de pessoas se destinam estas sapatilhas?
Estamos a falar de consumidores que valorizam a inovação, a qualidade e a sustentabilidade dos produtos que adquirem e com uma consciência elevada da sua pegada ecológica. Revêem-se numa filosofia de “slow fashion” e valorizam a utilização de materiais vegan e “cruelty free”.
Considera o preço acessível ao consumidor português?
O valor das sapatilhas é, de certa forma, elevado para a maioria dos portugueses, pelo facto de ser um material inovador e, por isso, acarretar um maior custo de produção. O valor das KAFFA está ajustado ao mercado do calçado sustentável em Portugal, tendo um valor abaixo da média dos seus concorrentes. Contudo, a Re-Coffee e outras marcas ligadas à sustentabilidade em Portugal conseguem entregar um valor acrescentado ao consumidor, ao ambiente e à economia nacional.
Quem mais procura as sapatilhas?
O público feminino.
Depois das sapatilhas podemos esperar outros projetos?
Estamos a desenvolver neste momento uma outra linha de calçado e de acessórios de moda.