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Covid-19

Mais enfermeiros? Bastonária diz que anúncio chega tarde e critica medida

01 nov, 2020 - 15:10 • Marta Grosso , Paula Caeiro Varela (entrevista)

A prioridade não devem ser os profissionais reformados, que “pertencerão a grupos de risco”, defende Ana Rita Cavaco, para quem o número de enfermeiros contratados até agora é o de anos anteriores e sem política de retenção.

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A bastonária da Ordem dos Enfermeiros diz que vem tarde o reforço de contratação destes profissionais, uma medida anunciada no sábado pelo primeiro-ministro para fazer face ao aumento de internamentos por Covid-19.

“Vem muito tarde. Tivemos muitos meses para nos preparar, tínhamos todos acesso aos estudos que nos davam estes números em outubro e que darão outros novembro e, portanto, o plano foi sempre muito bonito no papel e a operacionalização falhou”, aponta Ana Rita Cavaco, em declarações à Renascença.

“O que nos resta agora é gerir o dia a dia e navegar à vista. No hospital da Guarda, temos neste momento 38 camas para doentes Covid, mas 40 doentes infetados. Portanto, dois tiveram de ser internados na sala de tratamento dos enfermeiros. Ponderam abrir um outro serviço, que ainda não está aberto, com o mesmo número de enfermeiros desta equipa. Portanto, claramente não acautelámos nada”, critica.

O Governo aprovou um regime excecional de contratação de enfermeiros, com 350 vagas para as Unidades de Cuidados Intensivos. O executivo pretende ainda contratar enfermeiros reformados para, preferencialmente, ingressar as equipas que despistam as cadeias de transmissão da Covid-19.

Mas a medida não recebe a aprovação da bastonária. “Se tenho mais de 400 enfermeiros desempregados, primeiro tenho de ir a esses, até porque pessoas reformadas são pessoas mais velhas e, portanto, pertencerão a grupos de risco”, sustenta.

Mesmo sendo para “esses enfermeiros fazerem os inquéritos epidemiológicos ou para fazer os rastreios, terão de ter a especialidade de saúde pública, porque colocá-los a prestar cuidados é, efetivamente uma má decisão”.

Ana Rita Cavaco denuncia ainda que as contratações de enfermeiros feitas até ao momento não são “consistentes com uma política de retenção”.

“Estivemos a oferecer contratos de quatro meses”, diz. “Ainda assim, até agora, contratámos cerca de 1.400 enfermeiros desde janeiro, portanto, estamos a falar do mesmo que contratamos todos os anos sem estarmos perante uma pandemia. Não houve, no fundo, qualquer reforço relativamente aos anos anteriores”, defende.

Na conferência de imprensa que fez a seguir ao Conselho de Ministros extraordinário, no sábado, o primeiro-ministro anunciou o investimento que o Governo pretende fazer no Serviço Nacional de Saúde. “Pretendemos gastar, só em 2021, o mesmo que a ‘bazuca’ de Bruxelas para seis anos”, referiu.

António Costa anunciou a contratação de enfermeiros reformados para reforçar as equipas de rastreamento de contactos, a aquisição de 202 camas de cuidados intensivos e a contratação de 365 enfermeiros diretamente para os quadros das unidades hospitalares.

"Porque não basta ter camas, ventiladores, quartos de pressão negativa. É fundamental ter recursos humanos. Isso implica este esforço que estamos a fazer", justificou.

Além disso, em janeiro, será aberto um concurso para mais 46 médicos intensivistas, além dos concursos que já estão a decorrer.

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