09 nov, 2020 - 11:12 • Rosário Silva
“O Centro Interpretativo do Vinho de Talha (CIVT) vai abrir as portas ao público no próximo dia 11 de novembro, Dia de São Martinho, como espaço de interpretação, de difusão científica e tecnológica e de divulgação do património imaterial relacionado com o saber-fazer daquele produto ancestral”, anuncia o município de Vidigueira, no distrito de Beja.
É um novo equipamento municipal, localizado na freguesia de Vila de Frades, construído de raiz, para, refere a autarquia em comunicado enviado à Renascença, “transmitir aos visitantes as memórias, as vivências e as experiências relacionadas com o vinho de Talha e com as gentes que ciclicamente fizeram chegar esta tradição aos dias de hoje”.
A criação do CIVT surgiu da necessidade de preservar este “saber-fazer ancestral” que, desde a ocupação do território pelos romanos, “certificado pelos achados arqueológicos das ruínas romanas de São Cucufate”, e até aos dias de hoje, “se manteve vivo, norteado pela simplicidade de recursos técnicos utilizados, mas cujo saber e sabor distingue e caracteriza o néctar único produzido artesanalmente em recipientes de barro, as talhas.”
Apesar de ter estado quase a desaparecer no século XX, esta tradição milenar permanece, sendo que o vinho de Talha está a crescer em popularidade e notoriedade, de tal maneira que é reconhecido e certificado pela Comissão Vitivinícola Regional do Alentejo.
“Ao longo de quase dois milénios, estas gentes conseguiram, inconscientemente, manter uma tradição que pauta os seus dias e vivências. Branco, tinto ou “palhete”, o vinho de Talha atesta um passado vivo, está presente à mesa, nos petiscos, ligado ao cante e ao convívio entre amigos, trabalhadores e família, perpetuando uma identidade que continua enraizada”, sublinha a Câmara Municipal de Vidigueira.
Pelas suas condições e particularidades de fabrico, o vinho da Talha, é um vinho genuíno, que deve ser bebido jovem, uma vez que não passa por barricas de madeira, nem tem adição de produtos químicos.
As características e a história do vinho de Talha estão, a partir de agora, patentes no CIVT, que se desdobra em diversas áreas: o Território, a História Milenar (São Cucufate), a Cultura da Vinha, o Processo do Vinho na Adega e a Taberna.
O novo equipamento apresenta uma narrativa cronológica, permitindo percorrer todo o ciclo, do campo ao vinho, dos romanos à atualidade.
Para tornar isso possível, o município recorreu à tecnologia de realidade aumentada, criando “um layer digital invisível de conteúdos acessíveis por intermédio de tablets” distribuídos pelo itinerário, com “uma voz-off, acompanhada das animações que surgem sobre as ilustrações”, e que dão toda a informação ao visitante.
Para ver, há também um filme, dedicado à temática e um espaço para “despertar os sentidos”, onde todos são convidados “a descobrir cheiros e aromas, os sons da vinha, as paisagens do concelho de Vidigueira, os provérbios e o cante que, em conjunto, formam a alma do vinho de talha.”
A criação deste centro interpretativo está associada à candidatura que o município de Vidigueira criou e lidera, para levar o vinho de Talha a Património da Humanidade. A este projeto associaram-se duas dezenas de outros municípios alentejanos.
Até fevereiro do próximo ano, a Câmara Municipal de Vidigueira dinamiza um programa de visita e prova de vinhos de talha, para reunir à volta da mesa, em convívio, amigos e familiares.
Assim, preparou a iniciativa “Entre Talhas e Petiscos”, que reúne uma dezena de restaurantes onde os apreciadores, por marcação, vão poder provar o vinho, degustar petiscos locais e vivenciar experiências únicas.
No concelho de Vidigueira, Vila de Frades é a grande guardiã dos vinhos de talha, preservando até aos dias de hoje este processo de vinificação com técnicas passadas de geração em geração, fazendo com que o vinho de talha se mantenha como um produto único.
Nesta vila começou, em 1987, um certame exclusivamente dedicado ao vinho da talha. A VITIFRADES, é única feira e evento no país, dedicado exclusivamente a esta arte particular de fazer vinho, e acontece todos os anos no segundo fim de semana do mês de dezembro.
A tradição mantém-se e no dia de S. Martinho, o dia da abertura das talhas, é o momento em que amigos e familiares se reúnem à volta de uma mesa, provam os seus vinhos e degustam os produtos locais. Este ano, apesar da pandemia, o ritual repete-se e prolonga-se pelos próximos meses.
Uma formalidade que muitos aproveitam, visitando o Alentejo e juntando-se às gentes da terra, para provar o vinho e viver novas experiências.
É este o convite do programa “Entre Talhas e Petiscos”, que se desenrola com todos os cuidados de segurança, exigidos por força do tempo que se vive.